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Espelho Negro: superproteção ou loucura?

17 jan 2018 - 11h37
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Foto: Mãe com Prosa

Texto sobre o 2o episódio da 4a temporada de Black Mirror - Netflix

Quem nunca desejou ser um super-herói para evitar qualquer mal contra um filho? Já pensou poder filtrar más influências, impedir susto, stress ou frustração? E quando um filho não dá notícias e nem volta pra casa no horário previsto? Aposto que já passou pela sua cabeça rastrear o GPS do celular dele, não?

Minha filha, literalmente, mal deixou as fraldas e ainda não me causa certas preocupações. Ela tem quase a mesma idade da menina Sara, numa das cenas iniciais que provocam maior apreensão em Arkangel (título do segundo episódio da quarta temporada de Black Mirror). Me pus na pele daquela mãe que, por um instante, se distrai cumprimentando uma conhecida e, de repente, perde a filhinha de vista.

Bom, não quero dar spoiler, mas situações como essa podem mesmo traumatizar qualquer mãe. Chego a compreender as razões que levam a personagem Marie a buscar a melhor tecnologia disponível no mercado para evitar que o problema se repita.

Mas, logo surge a pergunta: qual o limite da superproteção?

Até a mãe mais bem intencionada do mundo, quando implanta um chip no filho, acaba adquirindo uma arma. Uma arma contra si mesma. Difícil controlar o impulso de vigiar a vida de uma criança que cresce num piscar de olhos. Principalmente quando o sistema em questão informa não só a geolocalização, mas também permite que se acompanhe o olhar e tudo o que a pessoa "chipada" enxerga e sente (em tempo real, medindo seus sinais vitais e níveis de hormônios no sangue). Bom, pra quem já dava sinais de ser control-freak na hora do parto, a tecnologia se transforma numa ideia fixa e anuncia um verdadeiro desastre.

Os episódios de Black Mirror são assim mesmo. Exageram na distopia para provocar uma reflexão. E é nisso que gostaria de me concentrar para evitar contar o fim da história de Sara e Marie.

Você superprotege seu filho?

O quanto você exercita os limites entre orientar e controlar? Ensinar e fazer por ele? Proteger e censurar? Ser transparente e omitir?

Nos dias de hoje, ainda não temos acesso a tanta tecnologia, mas já existem mecanismos de controle que podem resvalar na falta de ética e na invasão de privacidade. Câmeras e aplicativos de celular podem revelar intimidades que não deveriam ser compartilhadas, mas em nome da segurança, se justificam. Será?

Ser pai ou mãe é um eterno exercício de apego e desapego, controle e descontrole para permitir que o maior amor do mundo viva, ganhe independência e autonomia para vencer com suas próprias "pernas". Conversar sobre os desafios da vida e dar exemplo são ferramentas eternas de educação e crescimento. E um bom papo nunca sai de linha. Quer dizer, no futuro, onde Arkangel se passa, parece que o diálogo foi deixado para trás e isso é chocante de se ver. Vale conferir no Netflix!

Mãe com Prosa
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