Menino fantasiado de princesa? Pode, mamãe?
Quando a fantasia é só uma fantasia
O carnaval oficialmente já acabou, mas o calendário faz pouquíssima diferença para quem tem filhos de 2 a 4 anos (ou até mais). As fantasias dominam o guarda-roupa e a imaginação dessas crianças todos os dias! É verdade ou não é?
É uma delícia entrar na onda deles e embarcar numa atmosfera diferente a cada amanhecer. Um dia, a casa é tomada pelo inverno eterno espalhado pela Elsa, da Frozen. No outro, habitada por ratinhos e lagartos imaginários que fazem companhia para a Cinderella. Em dia de feira então, quando a abóbora ainda está inteira à espera de preparo, a curtição é ainda maior. Um passe de mágica e ela vira uma carruagem perfeita.
Nesse carnaval, entre um bloco e outro, assistimos ao filme da Cinderella. E fiquei bem incomodada. Não pela qualidade técnica, claro. A animação que eu vi quando pequena foi substituída por um filme muito bem produzido pela Disney. Mas em tempos de #Não é não, o roteiro não poderia parecer mais ultrapassado. O enredo de contos de fadas, definitivamente, não faz mais sentido. Afinal, disputar quase a tapas um príncipe encantado é daquelas últimas coisas que desejamos para nossas filhas.
Mas, fantasia é só fantasia. E isto serve para a Cinderella e para outras princesas que hoje vestem o imaginário não só das meninas, mas também de muitos meninos. Uma amiga tem um filho que adora os poderes de gelo da Elsa. Ele usa o belo vestido dela como uma capa de super herói e não dá a mínima se isso é coisa de menina ou não. Vi no Facebook que o filho de uma outra conhecida se apaixonou pela Mulher Maravilha. E em todos os dias de carnaval, ele usou orgulhoso os braceletes e aquela estrela na cabeça, sem a menor crise. Com o escudo dourado, espero que seja capaz de se proteger de qualquer comentário maldoso e possa seguir curtindo a liberdade que não só ele, mas também seus pais estão experimentando.
Talvez essa seja a primeira turminha que deixou de lado a preocupação de rotular brinquedos por gênero. Outro dia a Isabela pirou num carrinho de controle remoto que ganhou. Na casa de uns amigos, curtiu de montão a mini-tabela de basquete e a moto do Capitão América. Pensei: por que não tenho essas opções lá em casa, entre bonecas e casinhas?
Há cerca de 10 anos, um amigo me contava todo preocupado, que o filho de 4 anos gostava de se vestir de princesa, entre um super-herói e outro. O menino chegou a ser levado para terapia por causa disso. Os pais se constrangiam. O tempo passou e o garoto deixou pra trás, ao mesmo tempo, a máscaras de Batman e o vestido de princesa para virar surfista… e dos bons. Tudo é fase. E as fantasias não passam de fantasias. Demos asas a elas, não só no carnaval! Feliz ano novo a todos!
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