Mil e uma noites com os três porquinhos
Mil e uma noites com os três porquinhos
Por Patricia Travassos
Que o fascínio pela repetição é uma marca da infância, todo mundo sabe. Mas, como suportar contar a mesma história todas as noites antes de dormir? Eu não consigo. Desculpe, minha filha!
Deve ser algum trauma provocado pelo filme que assisti no começo da minha carreira, em que o Bill Murray vive o dia da Marmota. Vocês já viram? É a história de um jornalista que quase enlouquece quando fica preso no tempo, cobrindo as mesmas notícias sucessivamente. Como repórter, sempre tive medo de me repetir. Afinal, depois de alguns anos de redação, é inevitável reencontrar as (nem sempre) boas e velhas pautas de Natal, de ano novo, de verão, de carnaval, de Páscoa, de Corpus Christi…
Aí, no conforto do lar tento me reinventar. Aqui em casa, os três porquinhos já viraram quatro, cinco… transformei em porquinhas, substituí o lobo mal por uma bruxa, por uma fada, pelo gênio da lâmpada… Promovi encontros com o João e a Maria (que também já foram vítimas do lobo), com o Saci Pererê e a Cuca no Sítio do Pica Pau Amarelo, com a Turma da Monica no chiqueiro do Chico Bento para onde os três porquinhos se mudaram… Em vez de construir casas, eles já fizeram receita de bolo e até amoleceram o coração do lobo que de mal virou bonzinho.
Enfim, ao longo das minhas mil e uma noites com os três porquinhos, tenho tentado de tudo, mas não escapo do golpe final. Basta que eu comece a mudar a história para ouvir a voz mais doce do mundo dizer: - Mamãe, não é assim! Conta direito! - Eu não consigo. Desculpe, minha filha!