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O que muda em nossas vidas com a chegada dos filhos?

24 abr 2018 - 14h47
(atualizado em 14/5/2018 às 10h43)
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Foto: Mãe com Prosa

Bem, a resposta para essa pergunta é simples: absolutamente tudo! Então, como entender a aprender a lidar com as transformações que uma criança faz em nossas vidas? Ninguém melhor para falar sobre isso que o professor, filósofo e escritor Mario Sergio Cortella, com quem tivemos uma conversa deliciosa e bastante esclarecedora.

Como ele mesmo ressalta, muita gente imagina que trabalho de parto é só na maternidade. Mas a verdade está longe disso! Diferente dos outros animais, nossa infância é muito lenta e temos que ser cuidados por adultos. Uma criança toma um tempo imenso da gente, então, aquela família que tinha toda a liberdade de movimento só vai poder dar um próximo passo em alguns anos. Por isso é necessário se preparar. Um filho dá trabalho, perturba, mas é uma das coisas mais edificantes que existe. Nós não somos imortais, mas os filhos nos tornam eternos. Eles são vidas que precisamos acolher e cuidar.

O que ensinamos e o que aprendemos com os filhos?

Cortella diz que ensinamos e aprendemos o tempo todo. Uma criança nos ensina coisas que não estão ligadas ao campo da informação, mas sim ao campo do afeto. Uma criança de 5 ou 6 anos de idade não é apenas um momento de experiência, ao contrário, ela nos ensina a lidar com a fragilidade, a exercitar a paciência, a entender que o desespero é algo que precisamos controlar. Então, é muito mais a educação dos afetos que a educação do conhecimento. Mas, a partir de uma determinada fase da vida, a educação do conhecimento também vem com os filhos, quando eles aprendem coisas que a gente não sabe. E isso é magnífico. É uma comunidade de vida que é capaz da partilha. A partilha do afeto, a partilha dos saberes, a partilha dos sonhos, a partilha dos desejos.

Como lidar com as aflições no cenário da vida moderna?

O #MCP levantou com Cortella a questão de que hoje as mulheres estão tão ocupadas com o trabalho que mal têm tempo de dividir suas aflições com outras mães. Os problemas acabam tendo uma dimensão muito maior que a real e, às vezes, parecem insolúveis. Como fazemos para conter o desespero?

O professor nos disse que a melhor coisa de uma fila comprida é olhar para trás. E que nós perdemos um pouco a capacidade de olhar para trás. Hoje, muitas mulheres cuidam isoladamente dos filhos, ou seja, a família não é mais agregada em quantidade. Antes, criavam-se crianças coletivamente. Quem tem mais idade vai se lembrar de ter crescido entre primos e vizinhos. Havia essa criação comunitária. Hoje vivemos em locais fechados, apartamentos, e a ideia de liberdade se traduz como ficar distante dos familiares. Avós, tios e tias não entram mais no circuito da criação. Aquela percepção que vale para muitos primatas, de criar o filhote em comunidade, desapareceu com a gente.

Para Cortella, quando você tem um canal que partilha dores e delícias, é capaz de lidar com agonias e alegrias, ele é decisivo, porque tira a sensação de isolamento. O problema do grande sertão é quando você acha que não tem veredas. E o canal oferece veredas. Percebemos que não estamos sozinhos e que não acontece só com a gente. É uma coisa de suporte. Partilhar sempre foi e continua sendo essencial.

 

Como viver a maternidade com menos culpa?

Cortella diz que uma das coisas boas da humanidade é ser capaz de sentir culpa. Mas essa culpa não pode ser algo que carregamos como se fosse um caixão. Não pode ser algo que nos coloque o tempo todo no campo da autópsia. Como ele destaca, a vida é biópsia e não autópsia. Na autópsia, a gente só identifica a falência da situação. A biópsia é pegar aquilo que está equivocado e corrigir para continuar vivo. A grande culpa que temos hoje é em relação ao modo e tempo dedicado aos filhos, e isso é sufocante para eles. É uma delícia para uma criança quando ela consegue se libertar da mãe. Isso permite a ela um outro movimento. Permite que ela seja capaz de encontrar outros seres humanos. E a humanidade é tão variada. Por isso, um abraço forte é diferente de ficar o tempo todo abraçando. Nenhum de nós gosta de carinho o tempo todo!

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