Na volta às aulas, saiba mais sobre fobia escolar
Patricia Zwipp
Amanda Almeida*, de 17 anos, passou a ter problemas com a escola no fim do 1° ano do ensino médio, em 2008. No ano seguinte, o quadro se agravou. Não conseguia prestar atenção nas aulas, chegou a voltar para casa antes do horário, se sentia ansiosa e dizia que não queria mais ir ao colégio. Caso pense que tudo isso não passa de manha, preguiça ou frescura, está enganado. O diagnóstico é fobia escolar.
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O problema é um transtorno de ansiedade caracterizado pelo medo irracional e desproporcional de determinada situação ou ambiente (nesse caso, da escola), que tem origem desconhecida e é frequentemente relacionado à depressão. Costuma aparecer antes dos 20 anos. Em geral, o paciente ainda pode apresentar sintomas, como taquicardia, dificuldade para dormir, tremores, palidez e vômito.
Em algumas crianças e adolescentes, o incômodo tende a surgir devido a causas conhecidas: falta de estrutura familiar, agenda superlotada de atividades extracurriculares, bulling, cobrança excessiva dos pais por resultados escolares, dúvidas quanto à escolha profissional. Amanda enfrentava a separação dos pais e o fato de a melhor amiga ter saído da escola.
"Para o médico, quando se sabe o motivo do transtorno de ansiedade, ele não é fobia, mas não deixa de ser um medo desproporcional e pode ser chamado de fobia no aspecto familiar, social e educacional, porque, na prática, é o mesmo problema", disse Sergio Baldassin, professor de psiquiatria da Faculdade de Medicina do ABC.
Diagnóstico e tratamento
Para chegar ao diagnóstico de fobia escolar propriamente dita ou do transtorno de ansiedade com causa conhecida, os sintomas devem se manifestar por, pelo menos, seis meses, segundo Baldassin. Também é preciso afastar a possibilidade de doenças que envolvam descarga de adrenalina (como tumor da glândula adrenal), uso de determinados medicamentos que podem desencadear ansiedade (para asma, dor de estômago e alergia, por exemplo), ingestão de álcool e uso de drogas. Profissionais da escola e pais ajudam a identificar dificuldades de relacionamento com colegas de classe e problemas em casa.
O tratamento alia psicoterapia e medicação (de modo geral, antidepressivos) e dura, no mínimo, entre seis e oito meses, segundo Baldassin. "Em alguns casos, como em quem tem fobia escolar, diabetes e constelação familiar ruim (pais dependentes de álcool ou histórico de suicídio na família), a criança deve usar o medicamento para sempre. Além disso, a pessoa ansiosa, mesmo que siga o tratamento à risca, tem chance de apresentar transtornos de ansiedade novamente, de duas a cinco crises ao longo da vida."
Se os pais acharem que a situação não passa de manha e não buscarem ajuda médica, a fobia escolar pode trazer complicações. A lista conta com facilitar quadro depressivo, desenvolver úlcera, abrir espaço para dependência de drogas e alcoolismo, e ter dificuldade de estabilizar doenças já existentes (diabetes, pressão alta).
Longe da escola
O professor de psiquiatria enfatizou que dificilmente o médico indica ao paciente o afastamento da escola por um determinado tempo. No entanto, na situação de Amanda, que também apresentava depressão, a medida foi necessária.
Para que não ficasse completamente longe dos estudos, participou de aulas particulares de algumas matérias. Mesmo assim, não se sentiu segura para fazer as provas. Perdeu o segundo ano do ensino médio e voltou a cursá-lo em 2010 em outra instituição de ensino. Ainda enfrenta obstáculos, mas apresenta melhoras. Prossegue com o tratamento medicamentoso e psicoterápico.
A pedagoga Jamile Magrin Goulart Coelho, diretora do Espaço Educacional, que trabalha em São Paulo com projetos personalizados na área de educação, afirmou que aulas personalizadas podem ser uma ajuda e tanto no processo de tratamento. A ideia é ensinar o conteúdo do currículo escolar levando em conta o perfil cognitivo (estilo de aprendizado e áreas de interesse) e emocional do aluno, de forma que se sinta motivado o tempo todo. Para isso, investe em recursos como artes, música e expressão corporal. "A minoria dos alunos aprende ouvindo (menos de 10%) e a maioria das aulas na escola explora a linguagem oral, em que os alunos apenas escutam o que o professor fala. Por isso, os alunos não têm interesse e não mantêm a atenção."
* O nome da personagem foi alterado a pedido de sua mãe.