No topo da carreira, mulheres têm dificuldade de reorganizar a vida pessoal
- Priscila Tieppo
"So now we've got our independence, what are we gonna do with it?" (Agora que nós temos nossa independência, o que vamos fazer com isso?). Este é o começo da música Never Never Love, do Simply Red, cuja pergunta serve, em alguns casos, para a mulher contemporânea que conquistou a liberdade e a independência financeira e não sabe o que fazer com isso. Ou melhor, sabe, mas precisa reorganizar sua vida pessoal, que foi deixada de lado em prol da vida profissional.
"Nos últimos dez anos, as mudanças para as mulheres ocorreram muito rápido. Agora, ela não vai abandonar tudo que conquistou para se dedicar à vida pessoal, à casa e aos filhos, ela precisa reorganizar esta parte. A gente adora trabalhar, mas também quer ter amor. Não se pode criar a ilusão de que a vida profissional vai te dar tudo, porque não vai", afirmou a jornalista Joyce Moysés, que lançou recentemente o livro Mulheres de sucesso querem poder...amar (Ed. Gente).
Conciliar amor e trabalho é um tema que já foi bastante debatido. A questão central, porém, é até quando a mulher comprometerá seus desejos pessoais em prol da vida profissional. "Até quando ela consegue esticar este elástico? Adiar a ideia de ter um filho, por exemplo, é um dos pontos. Se ela quer realmente ter um filho, é preciso planejamento, já que não é apenas apertar um botão e a criança sai. Mesmo com todo o avanço da medicina, não dá pra adiar tanto", disse a jornalista, que trabalha em revistas femininas há muitos anos e já ouviu diversas histórias, inclusive para a feitura do livro.
Além da maternidade e da protelação para viver uma história de amor, o livro discute a questão da inversão de papéis. "Hoje em dia, é comum a mulher ligar para o marido e dizer que se atrasará para o jantar", exemplificou Joyce. E este é apenas um exemplo que pode assustar os homens. Como eles lidam com esta inversão? "Para os mais jovens, não é problema a mulher ter sucesso na vida profissional e ser independente, o problema é quando ela toma uma postura 'mandona' em casa, como costuma ser no trabalho, e não trata bem o companheiro, que se sente um empregado. Às vezes, é necessário se colocar no lugar deles também".
Antes, o homem tinha a função social de prover a casa e a mulher, tinha de cuidar dos filhos e do marido. Hoje em dia, há mulheres que não querem ter filhos, por exemplo, negando o que é tido como "dom da natureza" em prol de uma vida mais voltada a outros interesses. E há, ainda, aquelas que estão sustentando a casa por ganharem mais do que os maridos.
Outro ponto discutido no livro é que as expectativas das mulheres mais independentes em relação aos homens vêm crescendo. "Isso acontece porque ela não quer sentir o gosto da derrota na relação amorosa, então se torna muito exigente. Mas será que aquela lista de qualidades que ela monta para ter um parceiro é o que realmente a fará feliz? Será que ele precisa ter tudo aquilo? Como diria Zygmunt Bauman (filósofo), o amor ainda é o único risco que vale a pena correr", disse.
Para as que querem ter filhos, a faixa etária após os 30 anos é a mais valorizada nos dias de hoje. Segundo a última pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mais mulheres escolhem gerar rebentos entre 30 e 34 anos, desde 1999. O percentual pulou de 14,8% para 16,8%.
Todos estes fatores fazem da função de ser uma mulher completa para a sociedade, cada vez mais difícil. Será que casar, ter filhos e viver feliz para sempre é o modelo que seguirá? "O que eu sempre digo é que o casal tem de buscar aquele modelo que é melhor para eles. Se é casando, morando separado ou só namorando, eles é que vão decidir", disse a escritora.
O fato, porém, é que mesmo mudando os parâmetros, uma coisa não muda: a busca pelo amor. Afinal, como diria o poeta Vinícius de Moraes, "é impossível ser feliz sozinho".
Serviço:
Livro: Mulheres de Sucesso Querem Poder...Amar
Joyce Moysés
Ed. Gente