Novela "Vai na Fé" aborda relacionamentos abusivos; especialistas esclarecem os principais sinais de uma relação tóxica
Especialistas explicam os problemas de saúde correlacionados a relações tóxicas
Durante a exibição da novela "Vai na Fé", sucesso no horário das 19h na Rede Globo, o público tem assistido ao personagem Theo, interpretado por Emílio Dantas, cometer uma série de comportamentos abusivos contra a sua esposa Clara, vivida por Regiane Alves. Na trama, o personagem trai, humilha e agride constantemente a companheira, que se isola do restante do mundo e se vê sem alternativas para seguir. A Viva Saúde consultou a psicóloga Luanna Debs, que falou sobre alguns sinais presentes em relacionamentos abusivos.
"É difícil se separar de um relacionamento de uma forma geral. De um relacionamento abusivo é mais ainda. Isso acontece porque as mulheres fazem um autoinvestimento nas relações. Mulheres são educadas para o amor, são educadas para entender que dependem delas para que haja uma relação de sucesso, e isso acaba se tornando uma conquista pessoal. Ou seja, ter uma família, um marido e filhos ainda é visto como algo de importante na sociedade atual, então abrir mão disso não é nada fácil", explica a psicóloga Luanna Debs.
Essa pode até parecer uma abordagem nova para as telas, mas infelizmente é a realidade de cerca de 18 milhões de mulheres no Brasil, segundo uma pesquisa realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Segundo a professora em psicologia Luísa Araruna. "Todo relacionamento tóxico é composto por duas pessoas adoecidas, em busca de repararem seus traumas e construírem novas saídas para os seus medos e raivas, estes dias ouvi um comentário sobre uma moça em relacionamento tóxico que dizia assim: (mas não é possível que ela não reconheça os sinais…) verdade é que geralmente, não se entra ou permanece em um relacionamento desses por não reconhecer os sinais, mas sim por reconhecê-los inconscientemente".
Mesmo que a vítima não saiba reconhecer, o corpo pode enviar sinais dos abusos. Especialistas esclarecem quais são esses sinais:
Queda de cabelo excessiva
Segundo a tricologista Lidi Bastos, a queda de cabelo excessiva pode ser de fundo emocional:
"O estresse, ocasionado por uma relação abusiva, tem relação direta com a saúde capilar. O mal causa um término prematuro do folículo, o que atrapalha no crescimento do cabelo e pode levar à oleosidade e à caspa - e, consequentemente, à queda. Por fim, alguns pacientes submetidos a estresse intenso e prolongado podem desenvolver alopecia areata. Esse tipo de condição ocorre quando o sistema imunológico ataca as próprias células produtoras de cabelo, levando a queda de cabelo em tufos".
"Além disso, o estresse pode gerar o aumento da oleosidade, que pode refletir no surgimento de caspa (dermatite seborreica). Um emocional fragilizado também afeta o sistema imunológico e, quando isso acontece, os primeiros sinais são manifestados através da pele, dos cabelos e das unhas. É por isso que é comum notar uma queda maior dos fios quando se está estressado, ansioso ou deprimido", explica a especialista.
Imunidade baixa
"O mesmo cortisol que causa aquela bagunça hormonal na mulher é o responsável por enfraquecer as defesas do organismo feminino. Como elas estão passando por um momento de estresse, o corpo acaba reagindo com a baixa imunidade. Muitas mulheres acabam sofrendo com infecções oportunistas, como gripes, resfriados e dores de garganta", explica a infectologista Flávia Cohen, responsável pela clínica FCV, no Rio de Janeiro.
Metabolismo
Flávia Cohen, infectologista e especialista em saúde integrativa, alerta ainda para o problema que o estresse, devido aos relacionamento abusivos, pode ocasionar ao metabolismo:
"Um dos sistemas mais afetados pelo estresse na mulher é o endócrino. Isso porque a liberação contínua de cortisol desequilibra completamente o organismo feminino. São comuns os distúrbios alimentares (comer demais ou de menos) por conta da ansiedade que a adrenalina e o cortisol geram no corpo".
"Para começar, o excesso de cortisol aumenta o apetite, principalmente por comidas calóricas. O corpo entende que precisa de energia rápida para alguma emergência e instrui o cérebro a emitir esses sinais. Agindo como se estivesse em perigo, o organismo passa a estocar a energia ingerida em forma de gordura, principalmente na região abdominal".
"Embora ainda não seja consenso, alguns estudos também sugerem que o excesso de cortisol no organismo da mulher estressada pode interferir no funcionamento da tireóide, aumentando os riscos para desenvolver hipotireoidismo ou hipertireoidismo. O excesso de cortisol também pode gerar inchaço e retenção de líquido, intestino preso, e dores musculares. Esse incômodo todo, claro, vai contribuir para a falta de concentração, irritação e perda de memória que acometem as estressadas".
Depressão
"A depressão é uma doença multifatorial e pode acontecer em decorrência de um evento ou não. Mas no relacionamento abusivo há uma perda significativa do contato com as pessoas e com as atividades que causam prazer e dão sentido à vida da pessoa, por causa do isolamento que o abusador promove para aprisionar a vítima. Com essa perda de fatores que causam prazer, sensação de bem estar e perda do senso de importância e eficácia, a depressão pode vir a acontecer", explica a psicóloga Luanna Debs.
Distúrbios sexuais
A psicóloga Luanna Debs alerta também para os problemas de distúrbios sexuais dentro de relacionamentos abusivos:
"Sim, os desfechos comuns são: depressão, transtorno de ansiedade generalizada, transtorno de estresse pós-traumático. Na questão sexual a perda da libido ocorre quase sempre, mas também pode ocorrer dores nas relações sexuais", explica.
Candidíase
"As infecções também passam a atacar mais a vagina da mulher. É comum o estresse afetar o PH natural da região, aumentando assim a proliferação de fungos que normalmente são inofensivos. As doenças mais comuns são corrimentos, candidíase e tricomoníase e precisam de tratamento contínuo para não se tornarem crônicas", complementa Flávia Cohen, infectologista.
Reviver traumas
Para a psicóloga Luisa Araruna, os relacionamentos abusivos costumam ser uma forma de reviver traumas e/ou padrões que foram vivenciados na infância, e por isso trazem tanto sofrimento e também tanta dificuldade de se retirar deles.
"Imagine que uma mulher tenha sido criada por um pai alcoolista e ele costumava chegar em casa com um presentinho para ela, a pegava no colo, girava, brincava um pouco, embora estivesse com aquele cheiro forte de álcool e falando alto, porém logo em seguida esse mesmo pai a colocava no chão e ia ao encontro de sua esposa, mãe da menina, que era agredida fisicamente e essa filha, que ainda está em desenvolvimento e ainda está formando sua personalidade, constrói uma associação afetiva de alegria, acolhimento e agressão".
"O mesmo homem que representa alegria e amor para ela, também representa medo e violência. Facilmente, quando chega na fase adulta, a menina irá repetir o mesmo padrão de relacionamento e sentirá acolhimento e amor pela mesma figura que a ameaça e a deixa ansiosa e por outro lado, também é comum encontrarmos pessoas que foram vítimas de violência na infância".
"Tanto física e psicológica, podendo acontecer que essa pessoa, inconscientemente "decida" que não quer mais ser a vítima de violência, mas para não o ser, ela precisaria ocupar a outra posição, que é a do agressor. Então, pensando no aspecto psicológico, toda vez que ela é agressiva, ela está revivendo o seu trauma infantil e se reafirmando não mais na posição dolorosa de quem é agredido", finalizou a psicóloga.
Saúde do cérebro
Luanna Debs alerta ainda para o mal que os relacionamentos abusivos podem ocasionar ao cérebro: "Com a exposição de maneira repetida e prolongada a violências de todos os tipos, pode ocorrer mudanças na função cerebral, como a própria perda da atividade neuronal", orienta.
Segundo a especialista, além de todas as doenças citadas acima, outras de características físicas podem estar correlacionadas aos relacionamentos abusivos.
Hipertensão, diabetes e outras doenças autoimunes, como fibromialgia, vitiligo, psoríase, doenças gastrointestinais também, como síndrome do intestino irritável, gastrite, refluxo, enxaqueca, distúrbio de sono e autoimagem e transtornos alimentares são alguns deles.