O papo do vape
Afinal, vaporizar é redução de danos ou não? Entenda os fatores de risco desse hábito
O interesse da galera pelos vaporizadores tem crescido bastante nos últimos anos. Enquanto para muitos eles são considerados uma forma de reduzir danos, também há um aumento significativo nos relatos de problemas por conta da vaporização — principalmente doenças pulmonares causadas por vapes com cartuchos e e-juices.
Embora pareça contraditório, vaporizar maconha ou concentrado canábico pode ser uma atitude muito benéfica. Mas, para que o hábito seja positivo, é preciso ficar de olho no equipamento escolhido, na qualidade da substância e na temperatura de vaporização.
Para te ajudar a entender esse rolê, listamos um pequeno guia para desmistificar a vaporização de maconha (e de outras substâncias), além de falar sobre os riscos e benefícios dessa prática. Tudo isso, é claro, para garantir a segurança de quem quiser entrar nesse universo.
O que é vaporização?
Para entrar nesse assunto, precisamos entender que existem muitas diferenças entre vaporizar e fumar. No primeiro caso, você inala o vapor da substância. Ao fumar, há combustão, e o que vai parar nos seus pulmões é uma fumaça potencialmente tóxica — com fuligem, alcatrão, resíduos do papel, entre outros.
Embora muita gente pense que fumar maconha é mais seguro do que fumar tabaco, tome cuidado com essa mentalidade: segundo pesquisas, queimar a erva libera mais de 100 diferentes toxinas, incluindo substâncias com potencial cancerígeno . Por isso, quando colocamos as duas formas de uso lado a lado, a vaporização se torna mais segura.
Mas, lembre-se: para que ela seja realmente uma opção menos danosa, você precisa do equipamento ideal, uma substância segura e manter a temperatura ideal de vaporização.
Equipamentos e segurança
Antes de começar, escolha um bom equipamento. O problema é que, no Brasil, vaporizadores são tecnicamente proibidos, o que aumenta a circulação de vapes falsificados e de má qualidade. Esse é sempre um dos maiores riscos da proibição: ela nos deixa à mercê de um mercado irregular, sem parâmetros de segurança para o consumidor.
No mercado legal, nossa marca favorita é a Puffco, uma das mais inovadoras para os apaixonados por maconha e concentrados canábicos. Infelizmente, eles ainda não estão disponíveis no nosso país — mas a expectativa é que, daqui a alguns anos, todo mundo possa aproveitar a experiência incrível que é vaporizar com eles. Como alternativa, procure vendedores ou lojas confiáveis para evitar levar gato por lebre e não acabar com um produto fake (e nada barato) em mãos.
Quanto aos tipos, há diferenças:
As canetas de concentrados são as queridinhas por serem compactas e discretas. Elas consistem em um atomizador, separado ou embutido, acoplado a uma bateria. Esses equipamentos usam apenas aquecimento por condução e têm temperaturas pré-definidas.
Existem dois tipos de vape pens: as que vaporizam o seu próprio concentrado e as que vaporizam os cartuchos prontos de óleo. Recomendamos dar preferência às primeiras.
Os vapes para ervas secas são dispositivos alimentados por bateria que aquecem o material até o ponto de vaporização. Ele pode vaporizar por meio de:
> Aquecimento por condução: o material entra em contato direto com um elemento de aquecimento que então cria o vapor.
> Aquecimento por convecção: o dispositivo usa ar quente através do material para criar vapor.
Esses vaporizadores podem permitir diferentes formas de controle de temperatura, com presets, aplicativos para smartphones ou visores para seleção exata.
Os dab rigs podem ser uma ferramenta para vaporizar, principalmente para quem adora dabs de concentrados! Com eles, você tem a opção aquecer seu haxixe ou extração e chapar através do vapor. Eles são compostos pelo próprio corpo, que é tipo um bong, e por um nail que é encaixado na estrutura. Nesse nail, o concentrado deve ser aquecido com um maçarico e, assim, ele é vaporizado.
Aquecimento por condução ou por convecção?
O aquecimento por condução é a forma mais tradicional e, embora esteja se tornando menos popular, ainda é muito usado. Os produtos baseados em condução têm uma câmara que possui um elemento de aquecimento, e as ervas vaporizam quando entram em contato direto com ele. O maior benefício é que ele é extremamente rápido e você pode vaporizar suas ervas rapidamente. Entretanto, a desvantagem é que ele pode acabar carburando a erva, causando os efeitos que desejamos evitar.
Já o aquecimento por convecção é relativamente novo, mas cada vez mais popular. A vaporização é indireta e mais lenta, o que diminui as chances de combustão. Isso também ajuda a vaporizar o material escolhido de maneira mais eficiente e uniforme.
O que devo vaporizar?
Quando você estiver procurando por vapes, vai perceber que existem opções para vaporizar diferentes produtos, como:
Levando em consideração a Redução de Danos, principalmente em contextos proibicionistas como o do Brasil, recomendamos apenas os dois primeiros. Isso porque, quando estamos usando uma substância pré-preparada, é muito mais difícil confiar em sua qualidade sem contar com um certificado de análise. Enquanto a maconha e os concentrados podem ser analisados com o toque, a visão e o olfato, os cartuchos não dão essa possibilidade.
O pesquisador de cannabis Arno Hazekamp afirma que, ao vaporizar um cartucho, alguém já tomou várias decisões pelo usuário. O maior problema é não saber exatamente quais foram essas decisões, não apenas no que diz respeito à variedade de maconha usada para a fabricação, mas também sua qualidade, possível adição de químicos, presença de restos de solventes… e por aí vai. Pode ser bastante perigoso confiar nesse tipo de substância.
O que os cartuchos podem conter e causar?
Pesquisas sugerem que aerossóis de e-juices contêm agentes oxidantes, aldeídos e nicotina. Mas não é só isso: cartuchos do mercado irregular podem ser contaminados com acetato de vitamina E e outros compostos usados como diluentes - sem eles, a substância geralmente é muito espessa para ser vaporizada pelas canetinhas.
Outras substâncias possivelmente tóxicas que podem ser encontradas em cartuchos são acetoína; acetil propionil; acroleína; acrilamida; acrilonitrila; benzaldeído; cinamaldeído; formaldeído; pentanodiona (2,3-pentanodiona); óxido de propileno; vanilina; e muitas outras.
Segundo um levantamento do Leafly , até 60% dos cartuchos de THC no mercado irregular podem estar contaminados. De acordo com a matéria, o FDA recebeu cerca de 900 amostras para testes. Até agora, eles encontraram acetato de vitamina E em 47% deles. Um paciente de Nova York que testou seu cartucho encontrou formaldeído, pesticidas, óleo de vitamina E e "um pouco de THC".
Até fevereiro de 2020, um total de 2.807 casos de Lesão Pulmonar Associada ao Vaping (VAPI) foram relatados ao Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos (CDC). Sessenta e oito mortes foram confirmadas em decorrência de complicações da doença. Além disso, estudos apontam possíveis danos ao coração, pulmões, dentes e gengivas.
E não tente fazer isso em casa: fabricar os próprios cartuchos de óleo canábico, seja com óleo MCT (como o de côco) ou outras extrações, pode não ser uma boa ideia. Vocês nos conhecem e sabem que a gente ama um tutorial de "faça você mesmo", mas, no caso desses óleos vaporizáveis, a gente não sabe exatamente quais substâncias são seguras ou não a longo prazo.
Quais temperaturas devem ser usadas?
Alguns estudos sugerem que o ponto ideal para vaporizar a cannabis é por volta de 170ºC. Nessa temperatura, os canabinoides são convertidos em vapor e podem ser inalados. Para você entender a diferença, a combustão costuma ocorrer a partir de 800°C.
Nossa dica é: como os terpenos normalmente possuem pontos de ebulição mais baixos, ajuste o vaporizador para cerca de 140°C. Assim, é possível aproveitar todos os aromas e sabores que a sua cannabis pode proporcionar (além de todos os benefícios terapêuticos!).