O que é o 'paradoxo do protetor solar'?
Por conta das inúmeras campanhas de conscientização, o número de pessoas usando filtros solares tem aumentado nos últimos anos. Porém, pesquisadores também relataram que as taxas de melanoma e câncer de pele presenciaram um aumento nos números na mesma proporção, algo que foi batizado de "paradoxo do protetor solar".
"O problema é que as pessoas usam protetor solar como uma 'autorização' para se bronzear", alegou o presidente da divisão de dermatologia da Universidade McGill, Ivan Litvinov. Segundo ele, as pessoas pensam que estão protegidas do câncer de pele somente porque estão usando um produto comercializado para prevenir uma doença, quando não é bem assim que as coisas funcionam.
Riscos de saúde
Litvinov é coautor de dois estudos recentes que exploram o paradoxo do protetor solar. De acordo com o pesquisador, a maioria das pessoas não aplica protetor solar suficiente ou fica no sol por horas após a aplicação do produto no período da manhã, o que fornece uma falsa sensação de segurança.
Para compreender os fatores envolvidos entre as diferentes taxas de incidência de melanoma nas províncias atlânticas do Canadá, investigadores conduziram 23 grupos focais. No primeiro estudo, publicado na revista Cancers, os pesquisadores descobriram que certas regiões corriam mais risco do que outras.
Por exemplo, moradores da Nova Escócia e da Ilha do Príncipe Eduardo — localizadas em províncias com altas taxas de incidência de melanoma — mostraram-se mais propensos a relatar o uso de protetor solar, sendo mais conscientes dos riscos que a exposição solar causa à saúde, e mais aptos a seguir os índices de radiação ultravioleta (UV).
Mesmo assim, eles também receberam maior exposição solar devido às temperaturas mais quentes e à tendência a praticar atividades ao ar livre.
Uso correto do protetor solar
Em um segundo estudo do Biobank do Reino Unido, investigadores documentaram que o uso de protetor solar estava surpreendentemente associado a um risco dobrado de desenvolver câncer da pele. "Estas descobertas combinadas sugerem um paradoxo do protetor solar, em que indivíduos com níveis mais elevados de exposição solar também tendem a usar mais, mas não uma quantidade adequada, de protetor solar ou outras medidas de proteção solar, proporcionando uma falsa sensação de segurança", disse Litvinov.
Na visão do pesquisador, as intervenções para suprir essas lacunas de conhecimento e prática na proteção solar e na prevenção do cancro da pele deveriam considerar este paradoxo e as normas únicas das comunidades em todo mundo. Afinal, o protetor solar seria uma medida importante, mas com suas devidas falhas.
Para Litvinov, esse tipo de produto também é a medida menos eficaz de proteger a pele quando comparado a roupas de proteção solar, protetores contra erupções cutâneas e evitar o sol. Os investigadores também ressaltam que as pessoas podem e devem aproveitar o ar livre — algo considerado saudável —, mas desde que evitem sofrer queimaduras ou saiam bronzeadas demais.