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Gatos e outros animais sofrem com o luto?

Ainda não se sabe se os animais de estimação sofrem em resposta à perda ou se estão respondendo a mudanças em seu ambiente.

1 set 2024 - 20h44
(atualizado em 2/9/2024 às 15h10)
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Gato com semblante triste.
Gato com semblante triste.
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Quando sofremos com a perda de um animal de estimação, talvez não sejamos os únicos a sentir esta dor. Pesquisas mostram que gatos que são deixados para trás quando outro animal na casa morre, podem vivenciar o luto com a gente.

O luto é uma resposta humana bem documentada à perda — mas suas raízes podem ser muito mais antigas, uma vez que alguns cientistas acreditam que ele evoluiu em espécies extintas de humanos.

Observou-se que os corvídeos — membros da família dos corvos —, primatas e mamíferos marinhos, como golfinhos e baleias, mudam seu comportamento quando um dos seus morre, desde carregar filhotes mortos por dias até ficar perto dos corpos, como se estivessem em vigília.

Uma teoria é que o luto é um subproduto da resposta natural ao estresse à separação observada em animais sociais. De acordo com essa ideia, a angústia e o comportamento de busca provavelmente evoluíram para encorajar os animais a se reunirem com membros perdidos do grupo, o que era benéfico para a sobrevivência. Essas respostas persistem quando a separação é permanente, como na morte, levando à dor duradoura do luto.

Embora haja muitas pesquisas sobre como a perda de um animal de estimação afeta os seres humanos, sabe-se muito menos sobre como os gatos lidam com a perda, algo que foi investigado por uma pesquisa recente das psicólogas comparativas Brittany Greene e Jennifer Vonk, baseadas nos EUA.

Diferentemente das espécies sociais típicas, o ancestral selvagem do gato era em grande parte solitário. No entanto, a domesticação remodelou seu comportamento, permitindo que vivesse em grupos e criasse laços sociais.

O estudo de Green e Vonk sugere que os gatos podem sofrer com a perda de um colega de estimação. Em seu estudo com 452 gatos, muitos apresentaram sinais de angústia, como aumento da busca por atenção, vocalização e diminuição do apetite, após a morte de um companheiro.

O estudo descobriu que a força do vínculo entre os animais, o tempo que passavam juntos e as interações diárias eram fatores-chave neste comportamento semelhante ao luto.

Estudo mostrou que gatos apresentam mudanças de comportamento após a morte de colegas de estimação
Estudo mostrou que gatos apresentam mudanças de comportamento após a morte de colegas de estimação
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Este estudo se baseia em pesquisas anteriores da pesquisadora de bem-estar animal Jessica Walker e sua equipe, em 2016, que analisaram como cães e gatos reagem à perda de um companheiro.

O estudo de Walker, conduzido na Nova Zelândia e na Austrália, descobriu que 75% dos animais de estimação sobreviventes apresentavam mudanças de comportamento perceptíveis — e os gatos demonstravam maior afeição, apego e vocalizações relacionadas à ansiedade.

Vale destacar que ambos os estudos se basearam nas percepções dos donos para avaliar mudanças no comportamento dos animais de estimação, o que apresenta um potencial problema. Embora os donos sejam frequentemente os mais atentos a mudanças sutis em seus animais, as observações deles também podem ser influenciadas por seu próprio luto e estado emocional.

É realmente luto?

Há uma explicação alternativa para as mudanças no comportamento dos animais que os donos observaram nos estudos após a morte de um companheiro de estimação. A presença de um animal morto pode sinalizar perigo no ambiente, fazendo com que os pets mudem seu comportamento como uma medida de segurança, em vez de ser uma resposta de luto.

Embora isso não tenha sido estudado em relação a gatos domésticos, uma pesquisa de 2012 sobre gaios-da-califórnia revelou que ver um membro morto da sua espécie pode desencadear chamadas de alerta e comportamentos voltados para evitar o perigo, muito parecido com a forma como reagiriam a um predador.

Da mesma forma, um estudo de 2006 sobre abelhas descobriu que elas eram menos propensas a visitar flores que continham uma abelha que havia acabado de morrer ou seu odor, provavelmente reduzindo o próprio risco de serem atacadas.

Isso sugere que o que interpretamos como luto pode, em alguns casos, ser um instinto de sobrevivência. Alguns comportamentos que os donos dos animais notaram nos estudos após a morte de um companheiro de estimação — como o gato se escondendo ou buscando pontos de observação mais altos — podem reforçar esta ideia.

Uma pergunta que você pode estar se fazendo é se os gatos sofrem com a morte de seus donos. Embora seja tentador pensar que nosso gato lamentaria nossa morte, no momento, simplesmente não sabemos. Parece haver pouca ou nenhuma pesquisa sobre como os gatos reagem à morte de seus donos.

Um comportamento perturbador que foi bem documentado após a morte do dono de um animal é o consumo de seus restos mortais. Embora os gatos geralmente tenham má reputação por esse motivo, os amantes de cachorros devem estar cientes de que tanto os gatos quanto os cães são conhecidos por vasculhar restos mortais humanos.

Na verdade, cachorros de estimação são documentados com mais frequência fazendo isso. Alguns cientistas sugerem que este comportamento pode resultar da fome, mas também foi registrado quando a comida era abundante.

Outra teoria, mais alinhada com a ideia de luto, é que este comportamento pode começar como uma tentativa de reanimar um dono que não responde. Quando empurrar ou lamber não funciona, o animal pode passar a morder em um esforço para despertá-lo.

Portanto, ainda está sob discussão se os gatos sofrem em resposta à perda ou se estão respondendo a mudanças em seu ambiente que ainda não entendemos completamente.

*Grace Carroll é professora de comportamento e bem-estar animal na Escola de Psicologia da Queen's University Belfast, na Irlanda do Norte.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em inglês).

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