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Pets clonados: especialista alerta sobre comportamento do animal

Assunto tem chamado atenção dos brasileiros mas, no País, a regulamentação só existe para animais domésticos de interesse zootécnico

3 mai 2022 - 06h10
(atualizado às 08h10)
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A cantora e atriz Barbra Streisand com suas cachorras, Miss Violet e Miss Scarlett, clones de Samantha, cachorrinha que morreu em 2017, aos 14 anos.
A cantora e atriz Barbra Streisand com suas cachorras, Miss Violet e Miss Scarlett, clones de Samantha, cachorrinha que morreu em 2017, aos 14 anos.
Foto: Instagram/@barbrastreisand / Estadão

Em janeiro deste ano, a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei 5010/13, do Senado Federal, que regulamenta a pesquisa, a produção e a comercialização de animais domésticos clonados.

Contudo, pela proposta, podem ser clonados apenas animais domésticos de interesse zootécnico: bovinos, búfalos, cabras, bodes, ovelhas, cavalos, asnos, mulas, porcos, coelhos e aves. Por enquanto, a lei não se estende aos animais domésticos de companhia, os chamados pets.

Mesmo ainda não sendo realidade regulamentada no País, a possibilidade de clonar aquele animal que morreu, e que faz falta, aumenta a curiosidade dos brasileiros, principalmente após casos conhecidos, como o da cantora e atriz Barbra Streisand, que em 2018 revelou à revista Variety que suas duas cadelas, Miss Violet e Miss Scarlett, eram clones de Samantha, sua cachorrinha que morreu em 2017, aos 14 anos.

Apesar de parecer um sonho, essa possibilidade de 'reviver' o animal de estimação ainda é para poucos. A ViaGen Pets and Equine, uma das empresas norte-americanas mais populares especializadas na clonagem de animais cobra, aproximadamente, 50 mil dólares (cerca de R$ 248 mil) para clonar um cachorro, 30 mil dólares (cerca de R$ 148 mil) para clonar um gato e 85 mil dólares (cerca de R$ 422 mil) para clonar um cavalo, segundo a BBC.

O professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Marco Roberto Bourg de Mello, que possui pós-doutorado pela Universidade de Illinois e é especializado em Reprodução Animal, explica que a clonagem se refere à cópia do material genético do bicho, e não das características fenotípicas, que se referem ao comportamento.

"Quando estamos fazendo um clone, estamos produzindo uma cópia genética idêntica - o genótipo -, já o fenótipo é a aparência e depende muito do meio ambiente. Quando falamos em fenótipo, podemos, além de falar da aparência, pensando nos animais de companhia, incluir o comportamento desses pets - que não é copiado no processo de clonagem", alerta o pesquisador.

O professor, então, enxerga como equívoco a aplicação da técnica de clonagem em animais de companhia, como cães e gatos.

"Eu particularmente, vejo com um equívoco as pessoas terem o desejo de clonar seus pets, na tentativa de ter de volta o bichinho de estimação. Além da clonagem ainda ser uma técnica ineficiente, com muitas perdas, muitos erros, defeitos, e cara, o 'produto' final, mesmo que nasça com saúde, é bem provável que tenha um comportamento diferente do original", afirma Mello.

O pesquisador explica que há grandes chances do animal clonado não ter o mesmo comportamento do animal anterior.

"Se você teve um cachorro manso, o clone pode ser um pouco mais agressivo, se o original era calmo, o clone pode latir mais, e até a questão de pelagem, por exemplo. Há estudos que mostram que, mesmo que geneticamente idênticos, existem diferenças fenotípicas de pele", conta o pós-doutor.

O processo da clonagem

O pesquisador Marco Roberto Bourg de Mello fala ainda sobre o processo de clonagem e resume as etapas, que começa com a extração de um pequeno pedaço de pele do animal, até a transferência do embrião para o útero de um animal receptor.

"Do ponto de vista técnico e laboratorial, o procedimento para fazer clones muda muito pouco de espécie para espécie. E acompanhando este assunto durante tantos anos na literatura científica, até hoje, desde o nascimento da ovelha Dolly, em 1996, [o primeiro animal adulto clonado do mundo], já foram clonadas muitas outras espécies diferentes, como equinos, ratos, cães, búfalos, camudongos, e outros", diz Mello.

"A técnica é muito parecida para todas as espécies e envolve as mesma etapas. De uma maneira mais resumida, a primeira etapa é fazer a cultura da célula que vai doar o genoma - o núcleo. Se eu quero clonar um cachorro, eu preciso pegar um material vivo deste cachorro. Após a morte do animal, é preciso fazer uma biópsia, pegar um pedaço muito pequeno da pele dele para levar ao laboratório e cultivar", explica o pós-doutor.

"A próxima etapa é conseguir óvulos - um gameta feminino - que vão ser usados para que o núcleo possa virar um embrião, para depois o embrião virar um feto e, por fim, o clone. Esses óvulos são pegos de ovários de animais fêmeas. Pegamos os óvulos, retiramos o núcleo do óvulo e incluímos o núcleo da célula do animal que vai ser clonado - que foi extraído na biópsia na primeira etapa. Isso se faz para todas as espécies e nessa fase temos o embrião clonado - e conseguimos produzir vários", explica o especialista.

"A penúltima etapa é a de cultivar este embrião em um encubadora, uma estufa que chamamos de 'útero artificial'. Este embrião se desenvolve por cerca de sete dias. Passado este período, o embrião clonado é transferido para o útero de um animal receptor para continuar a gestação que dura, normalmente, de acordo com a espécie do animal", finaliza o professor.

Ativismo da causa animal

A ativista da causa animal, e fundadora de um instituto que leva seu nome, Patruska Barrero, acredita que a clonagem de animais domésticos de companhia não seja algo positivo, mas ela nem sempre pensou desta forma.

Atuando há 26 anos na causa animal, Patruska já sonhou um dia em clonar uma cadela que perdeu quando tinha 18 anos - a Florzinha.

"Quando eu tinha 18 anos, uma cadela que eu amava, chamada Florzinha, morreu e eu guardei os pelos dela achando que eu ia cloná-la um dia. Inclusive, uma das faculdades que eu fiz - a de Fármacia - foi porque eu queria ser geneticista para aprender sobre clonagem", revela a ativista. Contudo, sua visão sobre o assunto agora é outra, depois de tantos anos de experiência cuidando de animais necessitados.

"Hoje na perspectiva como ativista da causa animal, enxergo que vale mais a pena ficar com a memória do animal que não vai retornar, do que investir a grande quantia que precisa para fazer a clonagem. Acho fantástica a evolução da medicina, mas diante da nossa realidade e da quantidade de animais que estão disponíveis para adoção, ou até mesmo em situação de rua, é muito mais humano você adotar um animal desses do que investir uma pequena fortuna para ter um indivídio que não necessariamente vai ser o que você perdeu", afirma Patruska.

Segundo a ativista, o Instituto Patruska Barrero é a única instituição em Salvador, na Bahia, voltada para a causa animal, que detém o título de Organização de Sociedade Civil e de Interesse Público, fornecido pelo Ministério da Justiça.

Entre as atuações do Instituto estão a capturação de animais em situação de rua, o suporte a protetores independentes e ONGs locais com pouca visibilidade, além de ajuda a pessoas de baixa renda, com atendimento veterinário a preço acessível. Cerca de 200 animais estão sob a tutela do Instituto prontos para serem adotados.

Estadão
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