Por que as mulheres líderes ainda enfrentam tanta resistência?
A liderança feminina enfrenta desafios culturais e estereotipos, mas traz inovação e força para as organizações.
A liderança feminina continua a ser um tema desafiador, especialmente no contexto corporativo e na vida pessoal. Mesmo em tempos de avanços significativos na equidade de gênero, muitas líderes ainda enfrentam julgamentos e resistências que parecem enraizados em questões culturais e estereótipos.
Uma das razões centrais para a percepção enviesada das mulheres na liderança está na divisão histórica de papéis femininos. Culturalmente, foi criada uma imagem da mulher como progenitora, cuidadora e responsável pela harmonia do lar. Esse arquétipo da "mãe" contrasta com a ideia da mulher como uma figura de poder no ambiente corporativo.
A imagem da mulher executiva, que assume a liderança, exige criatividade, assertividade e tomada de decisões firmes, muitas vezes entra em conflito com a imagem tradicional da mulher responsável pelo cuidado dos outros.
Essa separação de papéis gera um desconforto tanto nas corporações quanto na vida pessoal. Muitas vezes, o homem é visto como natural para a liderança, enquanto a mulher é julgada mais duramente por tomar decisões semelhantes, como se houvesse uma contradição inerente entre ser uma boa mãe ou esposa e ser uma executiva competente.
E um dos maiores desafios que enfrentamos é a permanência dos estereótipos femininos. É nesse contexto que precisamos entender que falar de diversidade feminina é reconhecer que as mulheres não cabem em uma única definição. O equívoco de pensar que há um “modelo ideal” de liderança feminina limita o potencial criativo, estratégico e inovador das corporações e da sociedade.
A liderança moderna exige uma combinação de habilidades: a capacidade de conectar, inspirar, ouvir, mas também de decidir e agir com firmeza. E essas habilidades não pertencem a um gênero específico. Na verdade, as líderes mulheres têm se destacado justamente porque trazem novas perspectivas ao ambiente corporativo. Mulheres na liderança frequentemente promovem culturas organizacionais mais colaborativas, com maior inclusão, inovação e foco no bem-estar dos colaboradores.
E superar o estigma em torno das mulheres líderes exige uma mudança profunda na forma como enxergamos poder, competência e gênero. Em primeiro lugar, é necessário quebrar a ideia de que sucesso na liderança se restringe a modelos masculinos. Precisamos de mais visibilidade para diferentes estilos, que valorizem não apenas resultados, mas o impacto humano nas organizações.
Além disso, o papel dos homens nesse processo de mudança é fundamental. Homens que lideram com empatia e colaboração devem ser exaltados tanto quanto as mulheres que o fazem, pois é essa simbiose entre os gêneros que fortalecerá as corporações no futuro.
Por fim, é importante entender que as mulheres não precisam se adequar a nenhum padrão específico para liderar. Não há um caminho único para o sucesso feminino. Cada mulher pode criar o seu, e a verdadeira diversidade nasce dessa multiplicidade de trajetórias. Quanto mais celebrarmos as diferenças, mais fortes seremos como sociedade e como corporação.
A liderança feminina é uma fonte de inovação e força, e cabe a todos nós, homens e mulheres, criar o espaço para que elas floresçam sem medo de julgamento ou repressão.
É hora de abraçarmos um novo modelo de liderança, onde o gênero não seja uma barreira, mas uma fonte de diversidade e riqueza para nossas organizações.
(*) João Roncati é diretor da People + Strategy, consultoria de estratégia, planejamento e desenvolvimento humano.