Push Pop It: Entenda a moda dos brinquedos para aliviar a ansiedade
Ao estimular os sentidos por meio de movimentos repetitivos, o item ajuda a reduzir o estresse, mas não deve ser a única ferramenta para isso.
Coloridos, de material flexível e cheio de bolinhas que lembram a sensação gostosa de apertar um plástico bolha. Pela breve descrição, você já deve ter adivinhado que estamos falando do Push Pop It, a nova febre do momento entre as crianças que, em pouco tempo, já ganhou diversos tamanhos, formatos e até virou tema de festa infantil!
O brinquedo, que faz parte da categoria dos Fidget Toys - assim como o spinner, brinquedo metálico que gira em torno do dedo e que fez sucesso há alguns anos -, é um daqueles que promete aliviar a ansiedade dos pequenos através dos movimentos repetitivos. Inclusive, a finalidade está embutida na própria categoria do utensílio, já que "fidget" significa "inquietação" em inglês. No caso da tendência mais recente, esse estresse seria aliviado ao pressionar e soltar as bolhas em relevo até que façam o barulho de estouro.
O "segredo" do sucesso
Embora o tipo Push Pop It tenha viralizado nos últimos meses, a psicanalista e psicopedagoga Andrea Ladislau revela que, na verdade, essa classe de brinquedos é bastante antiga. "Consideramos, na área da Psicologia e da Psicanálise, como se fosse um 'plástico bolha infinito', porque ele é permanente", referindo-se à característica do objeto de ser reutilizável, já que é feito de silicone e suas "bolinhas" voltam ao formato original se pressionadas pelo lado oposto.
Outra qualidade que o torna tão atrativo para as crianças, segundo a especialista, é o fato de caber na palma da mão, o que traz uma sensação prazerosa para quem o manipula. "Além disso, o movimento com as mãos ajuda a diminuir um pouco a ansiedade e a trazer uma certa autorregulação", acrescenta Bárbara Calmeto, n europsicóloga e diretora do Autonomia Instituto.
É realmente bom para desestressar?
De fato, Andrea destaca que a brincadeira com os fidget toys pode promover uma desaceleração mental e ser eficaz para interromper o fluxo de pensamentos, reduzindo consequentemente a inquietação dos pequenos. Não à toa o ápice de vendas do brinquedo aconteceu justamente durante a pandemia da covid-19.
"Muitas pessoas acham que criança não tem estresse, mas tem, principalmente no momento em que estamos vivendo em que tudo é novidade. Os adultos estão sofrendo com a pandemia e com o isolamento, mas têm condições de verbalizar, de expressar o que estão sentindo. Já as crianças, não possuem todos os elementos de linguagem para se expressarem, e podem acabar tendo estresse, depressão, aumento de ansiedade, dentre outros comportamentos", alerta a psicopedagoga.
Mas mais do que seu papel na saúde mental, o item exercita ainda habilidades interessantes ao desenvolvimento infantil e funciona como ferramenta importante inclusive para o trabalho com crianças autistas, que têm grande sensibilidade a texturas e ao toque. "O brinquedo auxilia na concentração das crianças, na organização espacial - ao apertar um lado e depois o outro, começa a exercitar uma sequência lógica. Ou seja, é uma maneira de estimular o cérebro, além de trabalhar a coordenação motora fina e a percepção", pontua a psicanalista.
E não para por aí! De acordo com Bárbara, os pais e educadores não precisam ficar limitados às funções básicas do push pop it, podendo usar o utensílio como base para outras atividades. " É interessante que quem estiver junto na brincadeira tente introduzir outra funcionalidade para variar. Por exemplo, apertar duas bolinhas e pedir para que ele aperte outras duas e faça a soma, ou então treinar a identificação das cores e outras propostas divertidas de acordo com o nível de desenvolvimento da criança", indica.
O brinquedo é contraindicado para alguma idade?
As especialistas concordam que não há contraindicação para o uso do brinquedo, desde que seu uso seja supervisionado por um adulto - especialmente no caso dos menores de dois anos.
Embora manipular o push pop it possa ser benéfico em qualquer idade, até mesmo para os adultos, Andrea observa resultados mais aparentes nas faixas etárias menores. "As crianças em torno de dois a sete anos acabam sendo mais beneficiadas pela função anti-estresse e pela redução da inquietação, pois nesta fase ainda apresentam dificuldade de verbalizar e de se expressarem", explica.
E claro que tudo depende do interesse do pequeno, que geralmente já se sente atraído pelas atividades manuais a partir de um ano e meio ou dois.
Cuidados com o uso excessivo
Como todo objeto da moda, é natural que as crianças fiquem entusiasmadas ao verem os colegas com o brinquedo e queiram adquiri-lo também. No entanto, Bárbara alerta que os pais tomem cuidado para que isso não se torne um modismo para o filho - freando assim o consumismo na infância - e também para que não criem uma dependência do brinquedo.
Neste sentido, Andrea sugere que a criança alterne as suas atividades e, se a família notar a necessidade, que faça um controle do horário em que o filho usará os fidget toys. "T razendo para a Psicanálise, há uma frase de Freud que diz 'todo excesso reflete uma falta'. Assim, não podemos deixar que a criança se concentre em um único objeto, precisamos também trazer para o mundo real, conversando com ela, estimulando a fala, tendo contato físico, propondo desenhos… Nada em excesso é bom", afirma.
Focar somente em um item não é interessante inclusive para o desenvolvimento da coordenação motora e do plano cognitivo do pequeno, de acordo com a doutora. "E se a criança usa apenas aquele brinquedo, geralmente acaba se entediando com facilidade e, depois de um tempo, o item deixa de ser novidade e ela não quer brincar mais", diz.
Outras formas de liberar as emoções
O push pop it pode sim ser uma ferramenta bacana para ajudar o pequeno a lidar com as emoções. No entanto, as especialistas lembram que o brinquedo não funciona como solução absoluta, e é importante que os pais ensinem seus filhos a canalizarem a ansiedade de outras maneiras. Nisso, entra a atividade física ou até mesmo práticas meditativas, como ioga ou respiração diafragmática, para se acalmarem, mas, acima de tudo, o diálogo aberto entre os integrantes da família.
"Os pais devem sempre conversar sobre as emoções com as crianças", recomenda Bárbara. E essa conversa pode partir inclusive de momentos descontraídos do dia a dia, como no meio de uma brincadeira.
"Também precisamos tentar diminuir o uso da tecnologia, tanto dos aplicativos quanto vídeos, que fazem com que a criança perca a essência do contato físico, da fala… Vale a pena evitar que mexam no celular durante as refeições, além de resgatar brincadeiras simples, e perguntar sobre como foi o dia do filho, até para que ele se sinta importante e acolhido", acrescenta a psicopedagoga.
Já se os adultos notarem que as estratégias não estão sendo o suficiente - ou que o pequeno está estressado e brincando excessivamente com o utensílio -, vale a pena prestar atenção no entorno, e em como anda o ambiente familiar e as outras esferas da vida da criança.
"Podemos nos perguntar: será que o estresse da criança está muito elevado? Será que é hora de buscar ajuda de um profissional de saúde mental?", pontua Andrea. De acordo com ela, através do auxílio de um psicólogo ou psicanalista, o pequeno pode conseguir extravasar os seus sentimentos, comunicando-se melhor e melhorando a qualidade de suas interações com o mundo adulto e com as crianças ao seu redor.
E para quem ainda não tem um fidget toy, dá para fazer um bem simples em casa usando bexiga e bolinhas gel:
https://www.instagram.com/p/CRrMBZdFJZi/