Quem é Exu? Conheça mais sobre a divindade africana
Historiador conta mais sobre a figura da Umbanda e do Candomblé e detalha as diferenças entre Exu orixá e Exu entidade; confira
Você já pode ter se deparado com a figura ou o nome de Exu por aí, seja em algum desfile de Carnaval ou, até mesmo, recentemente, com a fala polêmica da cantora Ludmilla. O tema, muitas vezes, pode levantar discussões entre pessoas que acreditam ou não na divindade espiritual. Então que tal entender um pouco? Por isso, conversamos com o historiador Tadeu Mourão, que nos trouxe um conhecimento profundo de quem é Exu.
Quem é Exu?
Exu é uma divindade africana, um orixá, que chega ao Brasil por meio do Candomblé. "É uma divindade absolutamente primordial. Exu é sempre cultuado antes de todas as outras divindades, porque a presença dele é solicitada para que a ordem se mantenha no espaço sagrado. Ademais, é considerado os olhos de Olódùmarè, a consciência criadora do Universo. A importância de Exu é basilar no Candomblé, assim como na religião tradicional de Iorubá, que é a origem de Exu", explica.
A principal característica de Exu é ser a ação de tudo que existe. "Não existe nada absolutamente estático, porque Exu está em toda energia, ele é o princípio da energia em si, do movimento que existe no átomo, no sexo, nos planetas, nas estrelas, nas galáxias, e tudo está em movimento", ressalta e acrescenta "Exu é muito complexo, tem várias funções no Universo de Iorubá, do Candomblé. Ele é a divindade do comércio, da comunicação, que afasta o caos. Ele é absolutamente fundamental".
Exu entidade e Exu orixá
Há dois tipos de Exu, o Exu entidade e o Exu orixá. Abaixo, Tadeu esclareceu em detalhes. Confira:
Exu orixá: "Ele tem a função de fazer com que o caos não se aproxime dos espaços sagrados. Exu orixá, na África, é colocado na porta das casas das pessoas, dos templos, nas entradas de feiras, para evitar que o caos se aproxime ou entre nos espaços".
Exu entidade: "Os Exus entidades de Umbanda são espíritos humanos, como nós, espíritos desencarnados, que têm a função, assim como Exu orixá, de nos proteger, cuidar dos espaços sagrados - como nossas casas, templos, hospitais, cemitérios - todos os espaços em que o sagrado e o profano, de alguma forma, possam se encontrar. Eles estão lá para manter a ordem".
Representações fálicas
O historiador conta que, quando os padres e os cristãos chegaram ao continente africano, por volta do século XVI e XVII, se assustaram com as representações de Exu. "Elas eram, e são, feitas em um modelo fálico, pois o falo é uma das representações de Exu. E, para o cristão, o órgão representa a sexualidade, o tabu, o pecado primordial", detalha.
Com isso, deram início às associações de Exu ao demônio: "Quem é, dentro do universo cristão, que está relacionado ao sexo e ao falo? O Diabo. Então o primeiro fator que fez Exu ser associado ao mal foram as formas que ele era retratado, o que tem tudo a ver com a função cosmológica de Exu, pois ele é o senhor do movimento. Nada melhor do que representá-lo deste jeito. Por meio do falo, no sexo, é que a vida se renova. A representação, de algum modo, condensa esse princípio do movimento que traz o futuro e é exatamente, segundo os muitos princípios desta divindade tão ampla, tão complexa e tão magnífica".
Os mitos de Exu
A segunda camada do preconceito por Exu vem através dos mitos. "No mito, ele desafia os homens e, muitas vezes, outras divindades. E, para o olhar cristão, quem desafia a humanidade e o divino? A figura do demônio novamente. No universo cristão, Deus é completamente bom, e o Diabo inteiramente mal. Porém, este universo religioso cristão desconhece que, para muitas culturas no mundo, é absolutamente fundamental que exista um personagem dentro da sua estrutura mística que represente a divindade malandra, a brincalhona, a que vai pregar peças. Nesta visão, esta personalidade é demoníaca, e Exu orixá é uma das maiores representações desta personalidade de todas as cosmologias que já ouvi falar", explana.
Realizam a transformação
O especialista finaliza contando que Exu é sinônimo de transformação: "Essa divindade prega peças com uma função, elas sempre têm uma moralidade de alguma forma. Os Exus vão transformar o mundo, a comunidade, as relações das outras divindades graças à essas peças que eles pregam. Porque essas divindades representam a destituição do que não serve mais para a reconstrução da cultura, da cosmologia, do nosso interior. Eles representam o desafio divino que impulsiona a modificar o que não serve mais na cultura, na prática, nos hábitos, nas relações. Não é fácil, não é uma tarefa gostosa, saborosa. É sempre algo que vai exigir estranhamento, dor, vai incomodar, porque a transformação real nossa é incômoda".
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