Querer pertencer é natural, mas cuidado com o desequilíbrio
A necessidade de fazer parte de algum lugar ou grupo é natural do comportamento humano, mas é preciso evitar o desequilíbrio Em algum momento da vida, todos vamos sentir a necessidade de pertencer a algum local ou grupo. Isso pode aparecer mais forte durante a adolescência, fase em que estamos buscando nossa identidade e nosso lugar […]
A necessidade de fazer parte de algum lugar ou grupo é natural do comportamento humano, mas é preciso evitar o desequilíbrio
Em algum momento da vida, todos vamos sentir a necessidade de pertencer a algum local ou grupo. Isso pode aparecer mais forte durante a adolescência, fase em que estamos buscando nossa identidade e nosso lugar no mundo. Mas não é regra, e também pode ocorrer em qualquer outra etapa da vida.
Naturalmente, vamos querer pertencer
A verdade é que essa vontade pode ser um ponto de apoio ou um peso que nos afunda. Tudo depende da forma como gerimos isso tudo. Sabrina Amaral é psicóloga especialista em neurociência do comportamento, e nos explica que a necessidade de pertencer é algo muito humano e profundamente enraizado em nossa natureza. "Desde os tempos antigos, quando éramos caçadores e coletores, pertencer a um grupo significava sobrevivência. Juntos, éramos mais fortes e podíamos enfrentar os desafios da vida. Essa herança ancestral ainda está presente em nós, mesmo em um mundo moderno", conta.
Autoestima e identidade
Na psicologia, essa necessidade de pertencimento é estudada através de diferentes lentes. Uma delas, segundo a especialista, é a teoria da 'autoestima social', que sugere que parte de nossa autoestima e valor pessoal é derivada da maneira como somos percebidos e aceitos pelos outros. "Quando nos sentimos parte de um grupo querido e valorizado, fortalecemos nossa autoimagem e senso de valor. Isso acontece quando nos sentimos parte de um grupo, seja ele família, amigos, colegas de trabalho ou uma comunidade. Sempre experimentamos um senso de identidade e pertencimento", exemplifica Sabrina.
Além disso, ela pontua que pertencer nos proporciona uma sensação de identidade e propósito. Pois quando nos juntamos a um grupo com interesses semelhantes aos nossos, encontramos pessoas que nos entendem e apoiam. "Isso pode nos ajudar a definir quem somos e o que valorizamos, além de nos dar um senso de significado em nossas vidas."
Estar em grupo é confortável
O pertencimento também tem um impacto positivo em nossa saúde emocional. Sabrina Amaral explica que estar cercado por pessoas que nos apoiam e nos entendem nos ajuda a lidar melhor com as emoções desconfortáveis, como angústia, medo ou tristeza. Ou seja, compartilhar experiências e sentimentos com o grupo nos permite processar nossas emoções de forma saudável.
"E não podemos esquecer do poder do apoio emocional que encontramos em nossos grupos", aponta a psicóloga. "Quando enfrentamos tempos difíceis, ter pessoas ao nosso lado, que nos apoiam e nos entendem pode ser incrivelmente reconfortante e fortalecedor. Saber que temos pessoas em quem podemos confiar e contar nos momentos difíceis reduz o estresse e a ansiedade. Sentir-se parte de uma comunidade solidária nos dá uma sensação de segurança e conforto", acrescenta.
Adolescência: a fase de buscar identidade e querer pertencer
Sem sombra de dúvidas, a adolescência é a fase em que essa busca por pertencimento se torna mais nítida e acentuada. "É a época da vida em que os jovens, em sua grande maioria, começam a se distanciar da família para desenvolver um senso próprio de identidade, vivenciando uma série de mudanças físicas, emocionais e sociais", - o que torna o pertencimento a um grupo ainda mais crucial, segundo Sabrina Amaral.
A profissional aponta ainda um estudo publicado no Journal of Research on Adolescence, que pesquisou como o pertencimento a grupos influencia o bem-estar psicológico dos adolescentes. "Os resultados mostraram que os jovens que se sentiam mais conectados e integrados em seus grupos sociais relataram níveis mais altos de autoestima e felicidade", pontua.
É preciso balancear esse desejo de pertencer
Apesar de todos os aspectos positivos, é preciso compreender até que ponto isso é uma necessidade normal e saudável das relações humanas, e a partir de que momento pode se tornar uma obsessão problemática. O peso mencionado no início desta matéria.
De acordo com Sabina, o equilíbrio é fundamental para evitar essa questão. "O problema surge quando a busca pelo pertencimento se torna uma obsessão ou quando nos tornamos dependentes emocionalmente da aprovação das pessoas", aponta.
No caso da obsessão por pertencer…
A especialista em neurociência do comportamento explica que as pessoas podem se sentir constantemente ansiosas e inseguras sobre sua aceitação pelo grupo, o que faz com que ela busque constantemente aprovação e validação dos outros. "Isso pode levar a um ciclo vicioso de busca desesperada por aceitação, muitas vezes às custas da própria identidade e valores."
A dependência é sabotadora
Já em relação a dependência emocional, é comum que a pessoa condicione sua felicidade ao pertencimento a um grupo. Isso significa que a pessoa sente que não pode ser feliz ou completa sem a presença ou aprovação constante dos outros. "Essa dependência pode se manifestar de diversas formas, por exemplo quando as pessoas se sentem perdidas ou vazias ou quando não estão cercadas por outras pessoas, buscando constantemente a validação externa para se sentirem bem consigo mesmas", compreende Sabrina.
Ao seguir esse rumo, a dependência emocional pode levar a comportamentos prejudiciais e autosabotadores, como se submeter a situações ou relacionamentos tóxicos apenas para manter a conexão com o grupo. "Isso pode resultar em um ciclo de autoestima baixa, onde a pessoa se sente incapaz de se afastar de situações que a prejudicam emocionalmente", alerta a psicóloga.
Vamos às dicas
Mas calma, é possível sim que essa necessidade seja atendida de forma que possa agregar positivamente à sua vida, pois existem várias maneiras de cultivar um pertencimento saudável em nossas vidas diárias. Vamos a algumas dicas práticas listadas por Sabrina Amaral, psicóloga e especialista em neurociência do comportamento:
- Seja autêntico: Não tenha medo de ser quem você realmente é. Seja real consigo mesmo e com os outros. Relacionamentos verdadeiros são construídos com base na honestidade e na autenticidade.
- Cultive relacionamentos significativos: Dedique um tempo de qualidade para cultivar e fortalecer os relacionamentos com amigos, familiares e colegas. Você pode fazer isso conversando regularmente, compartilhando experiências e demonstrando interesse genuíno pelo outro.
- Envolva-se em comunidades e grupos: Você pode procurar grupos ou comunidades que compartilhem seus interesses, valores ou hobbies. Por exemplo: um clube, uma equipe esportiva, um grupo religioso e/ou trabalho voluntário, ou até mesmo uma comunidade on-line.
- Pratique a empatia e a compaixão: No seu dia a dia, procure demonstrar empatia e compaixão em seus relacionamentos, ouvindo ativamente, oferecendo suporte e sendo gentil com os outros. Mostre às pessoas que você se importa com elas e que estão sendo ouvidas e valorizadas.
- Equilibre o tempo sozinho e em grupo: É importante estabelecer limites saudáveis entre conexão e solitude. Busque o equilíbrio entre o tempo que você passa sozinho e o tempo que passa com os outros. É importante ter momentos para si mesmo, aproveitando sua própria companhia.
- Busque apoio profissional, se necessário: Se você estiver lutando para se sentir pertencente ou se estiver enfrentando desafios relacionados à dependência emocional, não hesite em procurar ajuda de um terapeuta. Ele pode oferecer suporte e orientação para ajudá-lo a cultivar um pertencimento mais saudável.