Quitéria Chagas: a rainha das Rainhas de Bateria
Com 25 anos de carreira, Quitéria celebra 2025 com sua volta à avenida, desfilando pela Império Serrano Quitéria Chagas é uma das grandes musas do Carnaval brasileiro e um exemplo de força, superação e representatividade. Com 25 anos de dedicação ao samba, ela marcou história não apenas pelo brilho na avenida, mas também por sua […]
Com 25 anos de carreira, Quitéria celebra 2025 com sua volta à avenida, desfilando pela Império Serrano
Quitéria Chagas é uma das grandes musas do Carnaval brasileiro e um exemplo de força, superação e representatividade. Com 25 anos de dedicação ao samba, ela marcou história não apenas pelo brilho na avenida, mas também por sua luta como mulher negra em um cenário cultural repleto de desafios.
Uma marca em meio a tantas experiências
Quando olha para sua carreira, Quitéria Chagas relembra que seu primeiro grande marco no Carnaval veio em 2005, quando se tornou Rainha de Bateria do Império Serrano, uma conquista que simbolizou o protagonismo da mulher preta na maior celebração popular do Brasil. Mas foi em 2020 que Quitéria enfrentou o maior desafio de sua trajetória. Após um acidente em um reality show comandado por Sabrina Sato, ela desfilou sem o ligamento cruzado anterior, uma condição que causava dores extremas. Mesmo assim, adiou a cirurgia para não desfalcar sua escola, mostrando uma determina-
ção que impressionou médicos e fisioterapeutas. "Foi o momento mais difícil da minha vida, de superação. E foi uma dor absurda, porque era osso batendo no osso, eu não podia tomar medicação contra dor porque eu já tinha tomado por um mês e eu tinha que fazer a cirurgia logo depois do desfile."
Um espaço na atuação
Em 2007, tornou-se a primeira Rainha de Bateria a atuar em uma novela. Sua estreia foi em Páginas da Vida, de Manoel Carlos, mas essa conquista foi graças a muita luta. "Era um período onde tinha muito preconceito, rótulo e estereótipo, e não permitiam os atores terem outras profissões. Eu bati de frente, até que eu verbalizei isso na imprensa. O Manoel Carlos viu minha matéria e resolveu me chamar para fazer um teste e eu passei de primeira. Com isso, eu entrei no elenco", relembra.
Pausa na carreira: vida pessoal em primeiro
Sua carreira foi temporariamente interrompida quando se mudou para a Itália após casar-se. "Meu falecido marido era italiano, então eu fui morar na Itália, e não tinha como atuar na TV no Brasil morando fora." Em 2015, Quitéria deu à luz a sua filha, Elena, algo que ela relata ter mudado sua vida. "A maternidade me mudou completamente. Eu realmente nasci com a maternidade, casamento, enfim, me construí como mulher. Porque aí vem as responsabilidades, vem a questão de você ter um ser que depende absolutamente de você. Ser mãe não nasce no ato em que você engravida, você vai construindo esse 'ser mãe'. Até hoje eu estou construindo. A gente aprende com os filhos, têm sempre uma possibilidade", confessa.
Volta ao Brasil
Em 2023, com o falecimento de seu marido, vítima de um câncer terminal, Quitéria retornou ao Brasil pronta para retomar sua trajetória artística. "Estou reconstruindo a minha vida, um passo de cada vez.
Lá, minha rotina era ser mãe e mulher. Eu não tinha profissão alguma. E aqui eu estou resgatando a minha vida e meus trabalhos. Meu marido pediu para eu voltar pro Brasil, para eu resgatar a minha vida, voltar a fazer minhas coisas, me desapegar dele, enfim. Foram as últimas palavras dele que me marcaram", diz.
A volta ao seu país natal também permite que Quitéria possa ensinar ainda mais para sua filha, nascida na Itália. "A minha filha está aprendendo muito sobre a cultura brasileira ao vivo. Antes eu levava livros sobre a cultura preta, do Rodrigo França, que é meu amigo, para minha filha ler coisas africanas.
Apesar de ela ter nascido branca, ela tem uma raiz africana, ela tem que saber da minha cultura, não
só da cultura italiana. E eu tento mesclar as culturas para ela entender, para ela não ter preconceitos."
Desafios
Sua trajetória foi marcada por desafios desde o início. No Carnaval, mesmo sendo uma cultura de raízes negras, o prota gonismo de mulheres pretas era raro. "Quando entrei, no início dos anos 2000, a visibilidade era remota. Quando eu comecei a trabalhar na TV, no programa da Carla Perez, eu tinha um cabelo que não era perfil para nenhum trabalho, um cabelo africano, eu fiquei 10 anos com esse penteado na televisão, em uma época que ninguém aceitava penteados africanos. Ninguém aceitava nada de preto, na verdade."
Espiritualidade
Quitéria tem uma relação profunda com a espiritualidade, que permeia tanto sua vida pessoal quanto sua arte. "Não tem artista que não tenha uma conexão espiritual forte com algo importante, que transcende a arte. Eu acredito muito em Deus, e em tudo que me protege, que me rege", pontua. Além disso, a
Rainha de Bateria afirma que ver seu marido morrer na sua frente mudou sua vida.
Já quando o assunto é ancestralidade, isso não falta na vida de Quitéria Chagas. "A ancestralidade é a raiz preta na cultura do samba. Os batuques eram códigos para os escravos se comunicarem. Então, é ali que se conta a história da cul tura preta, que a gente continua o legado da nossa história africana e da construção dessa cultura."
Carnaval é muito mais que uma festa
"Eu não separo o Carnaval da seriedade, porque pra mim é muito sério. Eu entendo a história desta celebração, que foi construída pela cultura preta pra poder se em poderar perante a sociedade.
Então, o que eu me proponho quando eu piso na avenida e tudo que eu faço no Carnaval é para valorizar essa cultura, valorizar a mulher do samba. Para mim o carnaval é sério, porque é uma cultura importante que deve ser respeitada e valorizada. O carnaval para mim não é festa, é uma cultura. É o maior espetáculo da Terra."
Nova fase
Hoje, Quitéria Chagas vive um momento de reconstrução. Atualmente, ela retornou como Rainha de Bateria da Império Serrano e quer muito ver a escola retornar ao Grupo Especial. Além disso, Quitéria está pronta para voltar a atuar e, inclusive, já foi chamada para um novo projeto. "Agora há mais possibilidades para pessoas pretas atuarem, apresentarem programas. Estou esperançosa e pronta para essa nova fase", finaliza.
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