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Relacionamento abusivo: é preciso dizer chega!

Reconhecer quando uma relação é violenta é um processo doloroso, mas libertador "Relacionamentos não deveriam acabar com você", foi a frase óbvia, porém necessária, dita pela então youtuber Jout Jout, enquanto explicava por que gravou o vídeo para o YouTube "Não tira o batom vermelho", de 2015, que, embora começasse de forma bem-humorada, alertava para […]

16 jan 2025 - 10h05
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Reconhecer quando uma relação é violenta é um processo doloroso, mas libertador

"Relacionamentos não deveriam acabar com você", foi a frase óbvia, porém necessária, dita pela então youtuber Jout Jout, enquanto explicava por que gravou o vídeo para o YouTube "Não tira o batom vermelho", de 2015, que, embora começasse de forma bem-humorada, alertava para um tema espinhoso: relacionamentos abusivos. Seria incrível dizer que, nos últimos nove anos, as coisas mudaram e o óbvio não precisa mais ser dito, mas, infelizmente, não é o caso.

Reconhecer quando uma relação é um relacionamento abusivo é um processo muito doloroso, mas libertador e necessário
Reconhecer quando uma relação é um relacionamento abusivo é um processo muito doloroso, mas libertador e necessário
Foto: Revista Malu

Em 2024, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, uma mulher foi morta por feminicídio a cada seis horas. Feminicídio é um agravante do crime de homicídio que significa, resumidamente, que a vítima foi morta por ser mulher, por homens em quem deveria confiar, como maridos ou namorados. Esse crime é o auge da violência de gênero contra mulheres no Brasil e no mundo. Mas representa somente a parte mais visível de uma série de outras violências de gênero que ainda existem.

Além de agressões físicas em um relacionamento abusivo

Um elemento comum entre diversas vítimas de feminicídio é a dependência emocional que elas desenvolvem pelo agressor. Muitas, inclusive, voltam a se relacionar diversas vezes com o parceiro antes do fim trágico. Por mais absurdo que possa parecer, isso acontece porque nenhum relacionamento abusivo começa com uma tentativa de feminicídio, e na verdade, geralmente é o contrário. "É muito difícil para uma vítima perceber a situação. No início, o abusador pode se mostrar uma pessoa agradável, apenas com um 'gênio forte', convencendo a vítima de que aquele é apenas o jeito dele", exemplifica Vânia Portela, psicóloga, terapeuta e autora do livro Eu podia ser feliz e não sabia.

A psicóloga se refere ao chamado 'ciclo do relacionamento abusivo', nomeado pela primeira vez pela psicóloga estadunidense Lenore E. Walker na década de 70. Essa profissional atendeu mais de 1500 vítimas de relações abusivas e concluiu que, de modo geral, os abusadores seguem um padrão.

Ciclo do relacionamento abusivo

FASE UM: A Lua de mel

O casal se conhece e tudo parece normal ou até bom demais para ser verdade. Há excesso de atenção e

demonstrações de afeto (o chamado love bombing, tática de manipulação que consiste em fingir interesse pelo outro de forma exagerada), com grandes declarações de amor infinito, até que a vítima fique completamente à mercê.

FASE DOIS: Violência emocional

O par vai se mostrando uma pessoa difícil de lidar. "Normalmente, esses abusadores passam a apresentar uma necessidade de dominância, com uma linguagem voltada para críticas e uma certa desvalorização dos outros. Como supostamente nada nem ninguém são bons o bastante, eles vão manipulando a vítima para que ela se afaste de sua família e amigos. Começam também os ataques de ciúme. No início, serão sutis, até que começam as proibições. De roupas, de companhias, de ida a certos lugares, etc.", lista Vania.

FASE TRÊS: Violencia explicita

Ocorre algum grande ataque. Nesse momento, o abusador quebra objetos de valor da vítima (violência patrimonial), a humilha em público (violência emocional), ou parte direto para a violência física ou sexual. Muitas vezes, logo após o ataque, irá culpabilizar a vítima pelo que houve.

FASE QUATRO: Falso arrependimento e retorno a Lua de mel

O agressor demonstrará arrependimento. Irá prometer que irá mudar e passar a agir como na fase um, com grandes declarações de amor e fazendo de tudo para manter o contato com a vítima. Quando ela se comove e permanece no relacionamento, o ciclo retorna à fase dois.

A mudança é urgente

Embora, estatisticamente, homens morram mais que mulheres em crimes violentos, a existência de feminicídios faz um alerta terrível sobre a sociedade. "O feminicídio trata de mulheres sendo mortas dentro de casa, o que nos sinaliza a necessidade de um foco maior na estrutura de uma família e comportamento dos seus componentes", cita Vânia. Ou seja: enquanto homens são mortos por pessoas de fora de seu convívio mais próximo, mulheres são mortas por homens diretamente ligados ao seu ciclo de convivência, que prometeram cuidar delas.

Apenas como exemplo, após avaliar mais de 350 casos de feminicídio em 2018, o Ministério Público de São Paulo divulgou as 'motivações' dos feminicidas para cometerem o crime. A principal razão para 45% desses assassinatos foi a decisão da mulher de encerrar o relacionamento. Em segundo, vieram as crises de ciúme como 30% das motivações. Ou seja: mulheres são mortas porque o feminicida vê no assassinato uma forma de 'punir' a mulher por não obedecê-lo.

Não se cale

A culpa de um relacionamento abusivo jamais será da vítima, e as mulheres devem sempre estar atentas para jamais se colocarem como 'responsáveis' por acolher um parceiro agressivo, já que é aí que a violência costuma se instalar. "Muita atenção com comportamento dominante, com proibições, e com parceiros que parecem só demonstrar empatia por quem já gostam", alerta Vânia.

A terapeuta prossegue com um apelo para famílias e amigos. "Observe sim comportamentos fora do normal em relação a outros casais. Exigências absurdas, cerceamento de liberdade e excesso de poder por parte de um dos membros do relacionamento, por exemplo. Em briga de marido e mulher, se mete a colher sim", afirma.

Busque ajuda!

Para encerrar, Vânia deixa um recado taxativo: "Se houver violência física, se afaste imediatamente do agressor e procure os meios legais e a ajuda de pessoas da sua confiança. Jamais esconda a situação, antes que seja tarde. A partir do momento em que se percebe estar em uma relação abusiva, busque também ajuda terapêutica, para criar as estratégias de afastamento e separação com segurança, desenvolver novamente a sua autoconfiança e criar aos poucos uma estrutura adequada para sair de casa. É preciso primeiro entender a si mesma e suas deficiências para lidar com a situação, fortalecendo-se para uma tomada de decisão sólida e estruturada", finaliza a profissional.

Se você está sendo vítima de uma relação violenta, a Central de Atendimento à Mulher pode ser discada no número 180 e está disponível 24 horas por dia em todo o Brasil. Há ainda o WhatsApp da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos no número +55 61 9656-5008. Ambos disponibilizam opções tanto de denúncia quanto de orientações. Além disso, o Boletim de Ocorrência (B.O) por violência doméstica pode ser registrado tanto na delegacia mais próxima quanto nas delegacias especializadas em direitos das mulheres. Você não está só e nem precisa aguentar em silêncio.

Revista Malu Revista Malu
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