É só tristeza ou se tornou depressão: como identificar?
Psiquiatra ensina maneiras de compreender quando o sentimento se tornou um transtorno depressivo
Distinguir momentos de tristeza comuns e a manifestação de um transtorno depressivo pode ser um desafio na vida de quem está passando por uma fase difícil. Reconhecer os sinais distintivos entre esses estados é fundamental para a compreensão individual e também na busca de suporte e tratamento adequados.
Em entrevista ao Terra Você, a médica psiquiatra Cíntia Braga explica as principais diferenças entre tristeza e depressão e como identificá-las.
A especialista conta que a tristeza é um sentimento básico, que pode vir acompanhada de alguns sintomas, inclusive de choro, desesperança. Ela pode se manifestar frente às dificuldades do dia a dia, um luto ou uma notícia ruim.
“Entretanto, como todas as emoções, ela passa. Pode ser que demore um pouco, mas passa. A pessoa ainda consegue ter interesse e prazer em outras coisas”, diz a médica.
Já a depressão se caracteriza por vários outros sintomas além da tristeza, como falta de vontade, energia ou prazer e permanece. Ela perdura por semanas, meses e até mesmo anos. Geralmente, começa com poucos sintomas, que vão se avolumando e pouco a pouco e passam a fazer parte da maior parte dos dias da pessoa deprimida.
“A falta de prazer é bem a cara da depressão - um jeito cinza, sem graça, sem gosto, sem sentido de ver a vida - diferente do que era antes”, explica.
Quanto aos fatores de risco que aumentam a probabilidade de alguém desenvolver depressão a partir de um período de tristeza, a psiquiatra conta que o luto e o estresse crônico podem ser fatores desencadeantes de um quadro depressivo.
A falta de elaboração de acontecimentos, a falta de atenção consigo próprio para conseguir entender que determinada situação é adoecedora, falta de acompanhamento psicoterápico, falta de autocuidado, falta de condições sociais, econômicas e culturais, também são fatores que podem levar a esse adoecimento.
“Há um componente genético na manifestação de transtornos ansiosos, mas a epigenética - fatores ambientais que modificam a expressão genética - costuma ser preponderante”, acrescenta a profissional.
Entre as estratégias de autocuidado que podem ajudar uma pessoa a identificar e lidar com sentimentos de tristeza antes que evoluam para depressão, a psiquiatra destaca que o autoconhecimento é fundamental.
Se perguntar: “Eu estou triste por algum motivo específico ou eu estou sem prazer na vida de maneira geral?” “Eu estou cansado ou estou sem energia para as atividades que me são de interesse?” “Eu estou trancado em casa maratonando séries por que eu gosto ou por que quero me isolar do mundo?”, podem ajudar no diagnóstico.
“O acompanhamento psicoterápico auxilia muito nesse processo. Além disso, o autocuidado é fundamental. Geralmente colocamos as nossas necessidades básicas por último - isso é muito perigoso”, alerta.
A médica destaca que a atenção à saúde física é um dos primeiros passos para a estabilidade na saúde mental. Cíntia diz que é importante ter atenção com a alimentação, hidratação e a prática regular de atividades físicas, que, em casos depressivos leves - que em psiquiatria já envolvem grande sofrimento psíquico - é superior à medicação no tratamento dos sintomas.
“Se ainda sim perceber que não foi o suficiente, talvez seja a hora de procurar um auxílio psicoterápico. Com algum trabalho, a maioria das pessoas consegue melhorar com esses passos. Mas se mesmo assim os sintomas ainda permanecem, é a hora de uma intervenção medicamentosa”, explica a psiquiatra.
Então, ao notar comportamentos diferentes, procure entender, procure acolher o que surja, incentive hábitos saudáveis e, se possível, oriente a pessoa a procurar uma avaliação profissional.