Fim de ano letivo e mudança de escola exigem atenção para amenizar eventuais perdas da criança
Mãe compartilha sua experiência ao trocar filha de colégio; psicóloga alerta que não se deve menosprezar os sentimentos do aluno, nem zombar da sua saudade
Neste período do ano, algo comum é que as crianças enfrentem a troca de escola. Esse desafio traz inúmeras sensações. Deixar um ambiente familiar, repleto de amigos e relações, para ingressar em um colégio a ser descoberto pode ser angustiante. No meio disso, as férias prolongam a incerteza. Alguns pais optam por rituais de despedida para marcar a transição com os amigos da antiga escola, enquanto outros acreditam que o melhor é "não enfatizar" o momento.
A psicóloga e professora da FMU, Rosana Zanella, explica que essa mudança envolve um processo de luto. "Quando a criança se despede de algo que era bom, sempre há um sentimento de nostalgia, dor de partida, tristeza e saudade... É importante prepará-la para a mudança. Levá-la para conhecer a nova escola, que será diferente da anterior, mostrar as vantagens e, quem sabe, tirar algumas fotos para rever nas férias e se habituar à ideia. Afinal, mudanças fazem parte da vida: mudar de casa, de emprego, ao crescer; mudar de amigos e até de parceiro amoroso ao longo da vida...", destaca.
No último dia de aula, a criança pode levar uma camiseta para que todos os colegas assinem com caneta, guardando essa lembrança. "Essa prática é bastante comum nas escolas e ajuda a lidar com os caminhos que vão mudando...", afirma Rosana.
"É possível também fazer um cartão e deixar o telefone de um amigo próximo, mantendo a possibilidade de um encontro futuro. Hoje em dia, com celulares e WhatsApp, os contatos com amigos continuam. Há amizades que duram toda a vida."
É fundamental que os pais não minimizem a dor da criança com frases como: "não é nada essa mudança; logo passa" ou "você é bobo, aquele amigo nem gostava tanto de você". A psicóloga alerta que não se deve menosprezar os sentimentos da criança em relação à saída da escola, nem zombar da sua saudade. Em vez disso, recomenda diálogos como: "É verdade. É chato. Eu já me senti assim. Você gostaria de falar mais sobre o que está sentindo?"
No novo colégio, pode haver um período de adaptação até que a criança faça novos amigos. A especialista em saúde mental sugere validar as queixas da criança, que pode sentir dificuldade em estabelecer novas amizades. "Demora um pouco, mas vamos devagar; vamos conseguir", diz ela, ressaltando que a professora e a escola devem auxiliar na inserção do aluno em um novo grupo.
"A criança que ingressa em uma nova escola pode chegar insegura, pois os amigos dela ficaram no colégio anterior. Os pais devem conversar com a escola para que a instituição ofereça um acolhimento adequado," complementa a psicóloga.
Diante de tantas mudanças, pequenos detalhes podem fazer a diferença. "Na volta às aulas, preparar um material escolar bonito e uma mochila nova pode motivar a criança", conclui.
Relato das dificuldades de uma mãe ao mudar a filha de escola
A médica Patrícia Bulcão, que reside na zona oeste de São Paulo, passou por esse processo com sua filha de dez anos no ano passado, mudando-a de escola por insatisfação com a proposta educacional do antigo colégio. A seguir, seu depoimento sobre a experiência:
"Foi difícil, inicialmente. O processo começou cerca de 45 dias antes do término das aulas. No início, cometi erros na condução do assunto, o que gerou mais revolta, pois não estava satisfeita com a escola e queria que ela também estivesse. O sentimento da minha filha era de desamparo e perda. Depois, tentei mostrar que a mudança era necessária para seu crescimento e que os amigos que ela fez continuariam ao seu lado.
Os primeiros quatro meses na escola nova também foram desafiadores. Ela sofreu muito, e precisei ser forte para demonstrar que essa mudança era essencial e que a nova escola abriria portas para seu desenvolvimento. Sempre que podia, deixava-a brincar com os amigos da escola anterior, para que percebesse que não havia perdido seus laços.
Também tentava mostrar como era bom conhecer novas pessoas. No entanto, o luto ainda não havia acabado. No segundo semestre, as coisas estavam um pouco mais leves e adaptadas. É um processo que ainda precisa ser trabalhado, para que no próximo ano ela se sinta melhor. Agora, finalmente, ela está com um grupo de novos amigos formado."