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Jairo Bouer: A importância de discutir prevenção do suicídio entre jovens

De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em 2022, foram 16.262 registros

4 ago 2023 - 16h43
(atualizado em 10/8/2023 às 20h17)
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Prevenção do suicídio entre jovens
Prevenção do suicídio entre jovens
Foto: Denis Novikov

O número de suicídios no Brasil tem crescido nos últimos anos, de acordo com os levantamentos mais recentes obre o tema. Segundo matéria da Agência Brasil, o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado no último mês de julho, revela que em 2022 foram 16.262 registros.

Em 2021, foram 14.475, o que mostra um aumento de mais de 12%. A taxa de suicídio aumentou de 7,2 por 100 mil habitantes em 2021, para 8,0 por 100 mil habitantes em 2022. Em média, 44 suicídios aconteceram todos dos dias no último ano no Brasil.

As taxas já vinham aumentando no país, mas a pandemia pode ter sido um potente catalisador do fenômeno, já que houve uma piora do isolamento social e das condições psicológicas e econômicas de boa parte da população. Os estados com as maiores taxas de suicídio, segundo os dados do anuário, são Rondônia (20,7/100 mil habitantes) e Rio Grande do Sul (14,7/100 mil habitantes).

O suicídio é um fenômeno multifatorial, mas solidão, depressão, ansiedade, abuso de substâncias, abandono, angústia, luto, perdas, preconceitos, intolerância, estigmas, violência, desemprego, baixa escolaridade, dificuldades econômicas e sociais, maior acesso a armas de fogo, sensação de vazio e de perda de sentido da vida podem estar estar presentes e associados.

Aumento entre jovens

O aumento nas taxas de suicídio tem sido proporcionalmente maior nas populações mais jovens, o que pode revelar um sofrimento psíquico mais intenso dessa geração altamente tecnológica. Para a Organização Mundial da Saúde, o suicídio é a quarta principal causa de morte entre os jovens de 15 a 29 anos. Ainda segundo a OMS são mais de 700 mil suicídios a cada ano no mundo, quase um a cada 40 segundos.

Dados do último Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, de setembro de 2022, mostram que entre os adolescentes brasileiros, a taxa de mortalidade por suicídio aumentou 49,3% na faixa de 15 a 19 anos entre 2016 e 2021, chegando a 6,6 por 100 mil, e cresceu 45% na faixa de 10 a 14 anos, alcançando 1,33 por 100 mil. 

Sabe-se que a prevenção ao suicídio que envolve uma série de intervenções combinadas pode impedir muitas dessas mortes. Mas vencer tabus, estigmas e preconceitos que cercam a saúde mental ainda é um desafio para boa parte da população. Ultrapassar essas resistências, quebrar o silêncio que envolve o sofrimento psíquico e garantir acesso aos serviços de saúde mental é essencial. 

É preciso que as pessoas aprendam a cuidar da sua saúde mental da mesma forma que se preocupam com sua saúde física. E é fundamental que a sociedade entenda que o indivíduo que pensa em suicídio está lidando, além das questões pessoais, com componentes sociais, econômicos e culturais coletivos, que podem ser determinantes para sua vida. Daí a importância de ações e de políticas públicas que envolvam todas essas dimensões. 

Rede de Saúde Mental

O TikToK, a plataforma digital que concentra a maior parte dos jovens a partir dos 13 anos, lança hoje, 4 de agosto, a Rede de Saúde Mental, uma parceria com o Instituto Vita Alere de Prevenção e Posvençao do Suicídio. O evento, que também comemora os 10 anos do Vita Alere, acontece no Sesc Av. Paulista a partir das 9 da manhã e terá a presença da psicóloga Karen Scavacini, fundadora do Vita Alere e de Handemba Mutana, líder do TikTok For Good no Brasil. 

A ideia central da rede é promover conteúdo sobre saúde mental e prevenção ao suicídio, tornar o espaço digital mais seguro para a comunidade, e facilitar a comunicação e a troca de informações entre os criadores e as instituições especializadas no tema. As instituições envolvidas no projeto são o Projeto Geni, o IBEAC, a Unicef, o CVV, Casa de Marias e a psicóloga Renata Barbosa. Do lado dos criadores, nomes como Spartakus, Dante Oliver, Dora Figueiredo e este que vos escreve.  

Para Karen Scavacini, a importância da rede é qualificar a conversa sobre saúde mental no aplicativo, trazer conteúdos com mais qualidade a ajudar quem precisa. 

De 4 de agosto a 31 de janeiro, os participantes produzirão conteúdo semanal com a hashtag #SaudeMental e #RedeSaudeMental para incentivar discussões sobre saúde mental na plataforma.

É importante lembrar sempre que a abordagem do suicídio de forma cuidadosa e ética pela mídia e pelas redes sociais pode ter um papel importante na prevenção, já que essa estratégia pode reduzir os estigmas e preconceitos em relação ao tema, bem como ajudar a pessoa, seus familiares e amigos a reconhecer sinais e sintomas de sofrimento psíquico. É esse trabalho conjunto da sociedade que pode fazer toda a diferença e mudar o rumo dessa história. Faça você também parte dessas redes em prol da saúde mental!

Serviço: 

Fique atento a esses sinais e sintomas:

Sentimentos persistentes de tristeza, perda de sentido, falta de prazer, angústia

Verbalização de despedidas ou de ideias ou intenção de suicídio 

  1. Isolamento social e distanciamento de amigos e familiares
  2. Publicações em redes sociais de mensagens, textos ou imagens de conteúdo depressivo
  3. Abuso de álcool ou outras substâncias (inclusive medicamentos psicoativos)
  4. Comportamentos violentos ou auto-agressivos frequentes (brigas, porres, acidentes, automutilação)
  5. Abandono de grupos, planos e projetos
  6. Transtornos psiquiátricos (principalmente depressão)
  7. Tentativa súbita de arrumar testamento ou de divisão ou doção antecipada de bens
  8. Passividade ou ausência de resposta diante de questões importantes como luto, perdas, desemprego, rompimentos afetivos, etc.

Se você está em sofrimento ou conhece alguém nessa situação, saiba onde buscar ajuda:

CVV: telefone 188 e https://www.cvv.com.br/

Linha Vida (SUS-Ministério da Saúde): telefone 196 (projeto piloto no DF)

Vita Alere: https://vitaalere.com.br/

Mapa Saúde Mental: https://mapasaudemental.com.br/, com lista de locais de atendimento em todo o país

Pode Falar (Unicef): https://www.podefalar.org.br/, focado em jovens de 13 a 24 anos

* Jairo Bouer é médico psiquiatra, comunicador e publica suas colunas no Terra Você às quintas-feiras. 

Fonte: Jairo Bouer
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