Relacionamentos tóxicos, salário e mais: cresce infelicidade de chefes brasileiros no trabalho
Pesquisa realizada pela Robert Half em parceria com a The School Of Life revela ligeiro aumento de insatisfação entre gestores de um ano para outro, de 21,95% para 28,12%
Mais de um quarto dos chefes brasileiros não estão felizes no trabalho, segundo uma pesquisa realizada pela consultoria de soluções em talentos Robert Half em parceria com a organização global The School of Life. No total, 28,12% dos 387 líderes entrevistados assumiram insatisfação no trabalho, um ligeiro aumento em relação a 2024, quando o porcentual era de 21,95%. Já entre os 387 liderados, 26,72% afirmaram não estarem felizes.
Os dados são da 6ª edição do levantamento Inteligência Emocional e Saúde Mental no Ambiente de Trabalho, que ouviu 774 profissionais com nível superior completo de diferentes regiões do Brasil, a partir dos 25 anos. O mapeamento foi realizado entre os meses de janeiro e fevereiro.
"É preocupante saber que, mesmo com avanços nos debates e nas ações de gestão de pessoas e bem-estar organizacional, o trabalho ainda não é fonte de realização para uma parte expressiva dos trabalhadores", afirma Diana Gabanyi, CEO e chefe de experiências corporativas da The School of Life.
Os motivos mais apontados por chefes que se consideram infelizes no trabalho são salário insuficiente, falta de propósito e relacionamentos tóxicos, nesta ordem. Já entre os colaboradores, as razões são salário insuficiente, falta de plano de carreira e falta de propósito. A pesquisa apresentou uma lista de razões e os entrevistados escolheram até três opções.
Os níveis de felicidade, por sua vez, são de 71,88% entre os gestores e de 73,28% entre os colaboradores. As taxas similares entre líderes e liderados sugere que a satisfação não está necessariamente ligada ao nível hierárquico, autonomia ou poder de decisão, aponta Diana.
Entre os chefes que se sentem felizes no trabalho, as razões mais apontadas pelos entrevistados foram realização e senso de propósito; equilíbrio entre vida pessoal e profissional; e desafios e aprendizado contínuo. Entre os funcionários, as respostas foram parecidas: os principais motivos são clima organizacional e relacionamentos positivos; equilíbrio entre vida pessoal e profissional; e realização e senso de propósito.
Saúde mental e liderança
A pesquisa aponta ainda que 41,24% dos executivos e 44,83% dos trabalhadores têm enfrentado desafios emocionais - esses porcentuais incluem aqueles que se sentem emocionalmente abalados sem receber nenhum diagnóstico e também aqueles que receberam diagnóstico de ansiedade, estresse ou burnout.
Outro ponto importante é a vulnerabilidade na liderança: 20,62% dos gestores afirmam não se sentirem confortáveis para pedir ajuda a suas lideranças diretas, porcentual que é menor entre os colaboradores (16,38%). Veja a seguir como os participantes responderam em relação a se sentir confortável para pedir ajuda de sua liderança direta.
Líderes
- Sim: 54,12%
- Não: 20,62%
- Talvez: 18,56%
- Não sei dizer: 6,70%
Colaboradores
- Sim: 68,10%
- Não: 16,38%
- Talvez: 12,93%
- Não sei dizer: 2,59%
O relatório da pesquisa aponta que as empresas devem incentivar uma liderança autêntica e transparente para fortalecer relações de trabalho mais saudáveis e um ambiente em que pedir ajuda não é um sinal de fraqueza. Saulo Velasco, psicólogo e chefe de aprendizagem na The School of Life, aponta que a noção de que um bom líder deve ser sempre seguro, resoluto e autossuficiente pode acabar prejudicando o dia a dia no cargo. "Esse comportamento, reforçado por culturas corporativas que romantizam a resiliência extrema, pode gerar isolamento e esgotamento emocional, tornando a liderança um papel solitário", diz.
Comunicação e cooperação
Questionados se acreditam que as informações importantes são sempre comunicadas de forma clara, completa e no momento certo na empresa, porcentuais expressivos de executivos e trabalhadores disseram "não": 19,59% e 23,28%, respectivamente. Isso poderia fomentar um ambiente de "incerteza, boatos, interpretações equivocadas, erros e retrabalho", aponta Diana Gabanyi, da The School of Life.
Além da comunicação, os dados do levantamento também acendem o alerta para outro pilar de qualquer empresa, a colaboração: apenas 15,98% dos líderes e 15,52% dos liderados dizem sentir "sempre" que o espírito colaborativo é parte da cultura corporativa do negócio; 42,78% dos gestores e 41,38% dos colaboradores apontaram sentir isso "frequentemente"; 31,96% dos gestores e 35,34% dos colaboradores disseram "ocasionalmente".
Maria Sartori, diretora de mercado da Robert Half, afirma que a forma como as pessoas encaram o trabalho sofreu uma grande transformação, passando de um meio de sobrevivência para uma busca por propósito e equilíbrio. "Nesse cenário, modelos rígidos e hierárquicos devem ser substituídos por uma cultura organizacional mais colaborativa, empática e emocionalmente segura. Isso, no final de cada expediente, tende a se refletir em produtividade, engajamento e inovação", aponta.
Segundo os especialistas envolvidos na pesquisa, cinco iniciativas são importantes para que as organizações ampliem as reflexões sobre comunicação, cooperação, saúde mental e propósito: fomento de uma cultura de apoio mútuo, que facilite a busca dos profissionais por ajuda dentro da organização; treinamento em autoconhecimento e inteligência emocional; mais transparência e eficiência na transmissão de metas, mudanças e estratégias; incentivo ao trabalho em equipe e às relações interpessoais saudáveis; e ampliação das ações em prol do bem-estar mental da equipe.
