Transformar sentimentos negativos em saudade pode reduzir depressão, sugere estudo
Para neurocientista brasileiro que liderou a pesquisa, o sentimento, embora doloroso, representa um 'senso de apreciação e conexão'
O neurocientista brasileiro Jorge Moll Neto liderou um estudo que demonstra como transformar sentimentos negativos em saudade pode reduzir sintomas de depressão, com participantes mostrando melhoria após um experimento de uma semana com vídeos evocativos. Apesar dos resultados promissores, é necessária confirmação em ensaios clínicos maiores.
Um estudo, liderado pelo neurocientista brasileiro Jorge Moll Neto, mostrou que transformar sentimentos negativos em saudade pode reduzir a depressão, em especial sintomas mais intensos da doença, como a autocrítica e a tristeza. Para Moll Neto, o sentimento, embora doloroso, representa "um senso de apreciação e conexão através de memórias de eventos e pessoas".
A pesquisa, publicada na revista Frontiers in Psychology, em janeiro, envolveu 39 participantes que não tinham diagnóstico de transtornos mentais, mas apresentavam sentimentos frequentes de autoculpa e tristeza apontados em um teste de depressão (o inventário de Beck). Segundo o neurocientista, a vulnerabilidade à depressão aumenta em pessoas com excesso de autocrítica, devido à propensão que têm a se culpar pelo fracasso.
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Anteriormente, pesquisadores já haviam demonstrado que o sentimento de nostalgia ajuda as pessoas a encontrar significado em suas vidas, reforçando um senso de pertencimento e aceitação. Nesse sentido, a saudade pode ajudar a minimizar a culpa e a tristeza, facilitando a conexão positiva entre passado e presente.
No experimento, os voluntários foram orientados a criar um vídeo de 10 minutos usando fotos, vídeos e músicas que evocassem os sentimentos na seguinte ordem: autocrítica, tristeza e, finalmente, saudade. A ideia era que eles assistissem ao material diariamente por uma semana e refletissem sobre os sentimentos que ele evocava.
Passado esse período, ao refazer as avaliações do inventário, os pacientes apresentaram uma redução dos sentimentos depressivos, saindo de uma média de 11,8 pontos no teste para 9,6 pontos. Valores acima de 10 indicam depressão leve e os superiores a 30, depressão severa.
Os resultados são promissores. Apesar disso, a amostra, pequena e predominantemente feminina, não permitiu estabelecer uma relação causal direta entre a intervenção e a redução dos sintomas. A conclusão da pesquisa deverá ser confirmada a partir de um ensaio clínico randomizado (escolhido aleatoriamente), feito com pacientes já diagnosticados com depressão.