Veja o que é o transtorno de personalidade narcisista
Condição leva o paciente a ter comportamento insensível, manipulador e arrogante com os outros
O narcisismo é um termo que se popularizou na internet nos últimos anos, sendo usado para designar, muitas vezes, pessoas extremamente vaidosas que gostam de se exibir nas mídias sociais. Apesar disso, esse comportamento é um velho conhecido de diversas áreas da psicologia, sendo estudado por especialistas desde o início do século 20, quando Sigmund Freud, fundador da psicanálise, escreveu um ensaio intitulado "Sobre o Narcisismo: Uma Introdução", que aborda pela primeira vez a questão do ego.
De acordo com Marina Balieiro, psicóloga do Hospital Edmundo Vasconcelos, o narcisismo está relacionado à autoestima elevada das pessoas, que geralmente é necessária para o bem-estar - desde que sem exageros. "Essa condição psíquica faz com que o indivíduo tenha um padrão de grandiosidade e, consequentemente, ache que é superior às demais pessoas", explica.
Segundo ela, o narcisista precisa de atenção e necessita que os outros estejam sempre o bajulando, reconhecendo tudo o que ele faz. "Assim, ele sofre da falta de empatia com os demais, porque se sente superior e, às vezes, supervaloriza as coisas que tem ou conquista. Isso também pode trazer alguns problemas para os relacionamentos", diz a profissional.
Causas do narcisismo
As causas do narcisismo ainda não são exatas. Todavia, pesquisas psicológicas buscam compreender os fatores que desenvolvem o problema, que pode ser multifatorial. "O primeiro fator está relacionado à genética, que influencia o desenvolvimento da condição, e o segundo, ao ambiente. Juntos eles moldam o ser humano", explica Marina Balieiro.
Segundo ela, esses são fatores que acabam sendo considerados a "causa" do narcisismo. "A condição também ocorre muito em pessoas que sofreram abuso ou que tiveram algum relacionamento complicado com familiares ou pessoas próximas quando mais novas", acrescenta a psicóloga.
Identificando a condição
Os sintomas do transtorno de personalidade narcisista variam conforme o paciente e a intensidade do caso. No entanto, os sinais mais frequentes são falta de empatia e grandiosidade. Segundo a psicóloga, a falta de empatia ocorre quando o indivíduo não consegue perceber as necessidades e os sentimentos do outro.
"Na questão da grandiosidade, ele sempre exagera naquilo que conquistou, mesmo quando são coisas menores, e tenta ser reconhecido ou reconhecer a si. Além disso, tende a buscar um tratamento privilegiado e melhor, o que acaba fazendo dele, muitas vezes, uma pessoa invejosa e arrogante", conta Marina Balieiro.
Tipos de narcisistas
Como nem todo narcisista apresenta o mesmo tipo de comportamento, estudos buscam compreender alguns padrões. Uma pesquisa realizada pela Universidade de Nova York identificou dois tipos de narcisismo: o grandioso e o vulnerável.
"O grandioso é extrovertido, arrogante e com a autoestima muito elevada. O vulnerável, ao contrário, é inseguro, tímido, com baixa autoestima, ansioso e sensível à crítica, isso porque fica sempre se comparando. Nesse caso, o paciente acaba sendo mais depressivo e com outros transtornos envolvidos, como ansiedade, anorexia e até uso de substâncias", afirma a psicóloga.
Diagnóstico do transtorno
Segundo Marina Balieiro, nem sempre é fácil diagnosticar o narcisismo em um paciente, pois os sintomas precisam ser persistentes. "Para identificá-lo existem alguns testes que são feitos e preenchidos pelo psiquiatra. Dentro de cada contexto, nós precisamos ver qual sintoma que o indivíduo tem e a gravidade do quadro", explica.
Porém, segundo a psicóloga, a dificuldade de fechar o diagnóstico está em diferenciar o transtorno de personalidade narcisista de outros transtornos. Por isso, ela explica que é importante que o médico verifique na consulta todos os contextos da vida do paciente, inclusive como ele se relaciona com a família e com os pais.
Tratamentos para o narcisismo
Geralmente, pessoas que têm o transtorno de personalidade narcisista demoram para procurar ajuda profissional ou, em muitos casos, buscam auxílio devido outras causas concomitantes, como depressão, ansiedade, insônia e pensamentos destrutivos, que podem resultar na identificação do problema.
"Depois do diagnóstico, os pacientes fazem a psicoterapia e, em alguns casos, fazem uso de medicamentos para controlar os sintomas concomitantes, e não por conta do transtorno. Assim, se você tem o transtorno de personalidade narcisista e depressão, você vai tratar a depressão, e o mesmo em casos de combinação com o transtorno de ansiedade e outros", explica a profissional.
Complicações do transtorno
Caso o transtorno não seja tratado, tanto o paciente quanto as pessoas ao redor podem sofrer algumas complicações. No caso dos narcisistas, Mariana Balieiro lista:
- Problemas no trabalho ou na escola;
- Relacionamentos instáveis;
- Depressão;
- Arrogância;
- Uso de substâncias;
- Pensamentos suicidas.
Para a família e demais pessoas que convivem com o paciente, o problema pode afetar de maneiras variadas. "Os relacionamentos com pessoas narcisistas são muito difíceis e tóxicos, em que muitas vezes eles não demonstram suas fraquezas e inseguranças, mas somente o que há de melhor. Isso acaba sufocando o outro, e é muito complicado de lidar", explica.
Logo, é importante tentar ajudar a pessoa, bem como se poupar. "Então, é muito importante que as pessoas que estejam próximas tentem se afastar um pouco e mostre sempre a importância do tratamento. Nesses casos, o mais relevante é não se deixar manipular, principalmente na conquista", recomenda.