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6 em cada 10 brasileiros mantiveram o peso na quarentena

Levantamento feito por um grupo de pesquisadores das áreas de endocrinologia, psicologia e patologia

13 jun 2020 - 05h12
(atualizado às 09h27)
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Foto: Alex Falcão / Futura Press

No início da quarentena, uma das preocupações de quem estava praticando isolamento social por causa do novo coronavírus era de que a nova rotina e a ansiedade resultassem em ganho de peso. Mas um levantamento feito por um grupo de pesquisadores das áreas de endocrinologia, psicologia e patologia apontou que seis em cada dez brasileiros conseguiram manter o peso, mesmo com o aumento, de um modo geral, do consumo de pães e massas no período. Manter hábitos alimentares saudáveis e praticar atividade física estão entre os segredos de quem está vivendo o período sem engordar nem emagrecer.

O levantamento foi feito por meio de um questionário online, que foi respondido por 1.470 pessoas e levou em consideração o Índice de Massa Corporal (IMC), tempo de isolamento e alimentação durante a quarentena. Ele também apontou que hábitos como prática de atividades físicas e consumo de álcool tiveram impacto na variação de peso da população.

Quase metade dos entrevistados (48,1%) afirmou sentir mais vontade de comer, mesmo quando não está com fome, mas 44% afirmaram que não mudaram os hábitos alimentares. Segundo a pesquisa, 23% dos entrevistados ganharam peso e 17% relataram que emagreceram. A variação de peso é considerada quando é superior a um quilo.

"Tem piada o tempo todo nas redes sociais sobre aumento de peso durante a pandemia. Preparamos esse formulário e 60% das pessoas não tiveram variação de peso. Vimos também o tempo de isolamento, de zero a 15 dias, entre 15 e 30 dias e mais de 30 dias. As pessoas que estavam há mais tempo em isolamento foram as que mais variaram o peso. Tanto para ganhar quanto para perder", explica a endocrinologista Rosita Fontes, que é membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e uma das integrantes da equipe que fez o levantamento.

De acordo com o levantamento, o ganho médio de peso foi de 2,8 kg, mas as pessoas engordaram entre 1,1 kg e 12 kg, este último número foi registrado entre participantes que estavam isolados há mais de 45 dias. Na outra ponta, a perda média de peso ficou em 2,6 kg. Os entrevistados informaram que perderam entre 1,1 kg e 8 kg - neste caso, entre isolados há mais de 30 dias.

A preocupação dos pesquisadores em relação às variações de peso, principalmente no caso de engordar, diz respeito à relação entre obesidade e o novo coronavírus. Por causar um processo inflamatório, a obesidade dificulta a resposta imunológica do paciente ao vírus. "Alguns casos de jovens com casos graves de covid-19 têm sido em obesos." No Brasil, quase 20% da população é considerada obesa e mais da metade dos brasileiros está acima do peso.

Segundo Rosita, embora todos os grupos tenham aumentado o consumo de carboidratos, o índice foi maior entre os que ganharam peso. "Só 10% dos entrevistados relataram que estão comendo mais frutas e verduras. No geral, a maioria não mudou os hábitos alimentares, mas 39% estão comendo mais massas e pães. Só que esse porcentual é maior entre as pessoas que engordaram. Vimos que 65% das pessoas que ganharam peso estão entre as que consumiram mais carboidratos. As pessoas que estão consumindo mais verduras e frutas perderam peso. Mas não é só o tipo de alimentação que conta. É o conjunto de fatores. Entre os que ganharam peso, 64% passaram a se exercitar menos e 40% passaram a consumir mais álcool. Dos que diminuíram o peso, 29,9% estão com mais vontade de comer, mesmo sem fome. Nos que engordaram, foram 72,1%."

Há quase três meses, a dentista Lizabete Zouain Fontes de Rezende, de 64 anos, só sai de casa para ir ao médico ou para atender algum paciente. Ela conta que manteve hábitos saudáveis de alimentação e não teve alterações de peso no período. "Eu estava com restrição de açúcar e carboidrato, já tinha perdido dez quilos. Agora, comecei a comer carboidrato, porque a gente fica dentro de casa e faz arte, mas tenho uma alimentação saudável."

O consumo de frutas aumentou durante a quarentena. "Eu não lanchava à tarde e, agora, acabo comendo uma fruta. Mas sinto falta de verduras cruas. Eu diminuí o consumo, porque tem de ser fresquinha e não tenho ido ao supermercado."

Com a academia onde fazia pilates fechada, ela encontrou uma alternativa para não ficar sedentária. "Tenho feito caminhada na garagem, mas é monótono."

A assistente de pessoal Daiane Meline Souza Gonçalves, de 34 anos, se encaixa no grupo dos que tiveram menos de 15 dias de isolamento e que só sai para atividades essenciais, como o trabalho e supermercado. Na pesquisa, esse perfil corresponde a 9% e 62,1% dos entrevistados, respectivamente.

Apesar da tensão do período, ela mantém a alimentação equilibrada. "Eu como tudo regrado. Normalmente, mantenho a alimentação saudável. No final de semana, me dou ao luxo de pedir pizza, hambúrguer, mas minha alimentação não mudou muito."

A organização ajuda no processo. "Faço a comida da minha filha de 1 ano e 7 meses para congelar e já separo uma parte para mim. Minha marmita costuma ter arroz, carne, legumes e salada. Também como frutas. Sinto vontade de comer quando estou com mais ansiedade, mas, de um modo geral, como a mesma quantidade."

A psicóloga Marianna Fontes Leal, que também integra o grupo de pesquisadores, diz que a pandemia pode desencadear episódios de ansiedade, tendo em vista a mudança de rotina e o medo de adoecer ou de ver entes queridos doentes. E isso pode causar alterações no apetite.

"Algumas pessoas encontram dificuldade para se alimentar e outras comem mais pelo conforto que a comida pode trazer neste momento. Para controlar a ansiedade, é necessário lidar com as emoções, e não negligenciá-las. As pessoas devem inserir momentos de autocuidado, como exercícios, meditação, atividades que tragam prazer e bem estar. Mas é necessário ficar atento. Se estiver causando prejuízos grandes, é importante buscar ajuda profissional."

Estadão
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