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8 características de personalidade compartilhadas por pessoas centenárias

Não só a genética define a longevidade de uma pessoa. Os fatores psicológicos também são importantes.

13 jan 2024 - 07h59
(atualizado em 15/1/2024 às 12h44)
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Não só a genética define a longevidade de uma pessoa
Não só a genética define a longevidade de uma pessoa
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Apagar 100 velinhas no bolo de aniversário está deixando de ser um evento excepcional.

Dados da Divisão de População das Nações Unidas indicam que 621 mil pessoas haviam atingido os três dígitos de idade em 2021. Em 1990, eram apenas 92 mil.

A Espanha, palco das nossas pesquisas sobre o tema, é um dos países com maior número de centenários do planeta: são 19.639, segundo os últimos dados do Instituto Nacional de Estatísticas do país. Destes, 77% são mulheres.

No Brasil, o número de pessoas com 100 anos de idade ou mais subiu de quase 24 mil pessoas no censo de 2010 para 37.814 em 2022, segundo dados do IBGE - 72% são mulheres.

As chaves do envelhecimento saudável

Dentro dessa população, nossa equipe de pesquisas estudou as características das pessoas que atingiram os 100 anos de idade com saúde - ou seja, sem manifestar sinais de deterioração cognitiva e gozando de razoável autonomia física.

Afinal, é este grupo privilegiado que pode oferecer certas chaves para o envelhecimento saudável.

É claro que os fatores genéticos e de estilo de vida são muito importantes para atingir a longevidade extrema em bom estado de saúde. Mas qual é o papel dos fatores psicológicos?

As pesquisas indicam que as pessoas que experimentam mais emoções positivas e estão mais satisfeitas com suas vidas têm maior probabilidade de viver por mais tempo.

Além disso, os recursos psicológicos (como o otimismo, a resiliência, a autoestima etc.) não são apenas os ingredientes que alimentam nosso bem-estar psicológico. Eles também colaboram para a saúde física e mental.

Manter-se ativo é essencial para a longevidade
Manter-se ativo é essencial para a longevidade
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Com a palavra, os centenários

Em uma pesquisa recente, questionamos se os centenários saudáveis realmente possuem recursos psicológicos ou características positivas de personalidade que possam tê-los ajudado a enfrentar com mais sucesso as situações traumáticas, dificuldades e desafios impostos por uma vida tão longa.

Para responder a esta pergunta, realizamos entrevistas detalhadas com 19 pessoas com boa saúde entre 100 e 107 anos de idade (16 delas eram mulheres).

Concluímos que os centenários compartilham 19 recursos psicológicos, que agrupamos em oito categorias. Aqui estão elas, acompanhadas de alguns testemunhos representativos dos idosos.

1. Vitalidade

Os centenários entrevistados são pessoas ativas e participativas. Elas têm comprometimento com a vida e clara vontade de continuar vivendo.

Alguns deles trabalharam até idade bastante avançada e, atualmente, continuam ativos, física e intelectualmente.

"Costurei até os 98 anos. Agora, gosto muito de fazer palavras cruzadas e tento resolver sudokus. Desço os andares de elevador, mas subo pela escada, para exercitar as pernas" (mulher, 100 anos).

"Às 6 horas, é a festa dos avós e eu vou. Afinal, tem bingo e não quero perder" (homem, 100 anos).

Os idosos entrevistados tomaram as rédeas de suas próprias vidas
Os idosos entrevistados tomaram as rédeas de suas próprias vidas
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

2. Gosto pela interação

A sociabilidade é sua característica. Eles se sentem amados pelos que os rodeiam e ajudaram os outros sempre que puderam, ao longo da vida.

"Nunca tive dificuldades para fazer amigos; para isso, sou muito simpática. Tive muitas amizades" (mulher, 104 anos).

"Aqui, gostam muito de mim. Cada vez que encontro uma freira, ela me faz carinho e me diz algo bonito, elas não fazem isso com todos" (homem, 100 anos).

"Um casal de idosos com poucos recursos vinha comer na minha casa todos os dias" (mulher, 102 anos).

3. Compromisso

Os centenários pesquisados foram pessoas responsáveis, competentes, trabalhadoras, valorizadas, queridas e honestas. Eles perseveraram para conseguir seus objetivos.

"Meus patrões gostavam muito de mim. Fiquei sete anos com eles e, no dia em que me casei, a senhora chorava como se fosse minha mãe" (mulher, 103 anos).

"Faz quatro anos que quebrei o quadril e, com cerca de um mês, já estava andando, sem muletas e sem andador, sem nada. Sou muito perseverante" (mulher, 101 anos).

4. Controle

Os idosos entrevistados tomaram as rédeas de suas próprias vidas. Eles demonstraram autonomia para decisões e souberam encontrar as oportunidades.

"Quando meu marido ficou doente, precisei enfrentar tudo. Assumi os negócios do meu marido, cuidei das contas e dos bancos, mandei nos homens, tudo" (mulher, 102 anos).

5. Motivação intelectual

São pessoas curiosas, que valorizam a cultura e têm motivação para aprender. Em muitos casos, são leitores incansáveis.

"Muitas vezes, quando estava com os animais, cometia o erro de ler e as ovelhas invadiam a plantação. Chegava então o guarda e dizia: 'você não vê onde se meteram as ovelhas, que estão comendo a plantação' (...) Li tudo o que pude e também escrevi muito" (homem, 100 anos).

6. Positividade

Os centenários demonstram agradecimento e são capazes de ter prazer com as pequenas coisas do dia a dia.

"A vida me deu tudo, graças a Deus. Ela me deu tristezas, como perder familiares, mas não passei mal por aquilo" (mulher, 100 anos).

7. Resiliência

Apesar das dificuldades (problemas na infância, perda de entes queridos, eventos como a guerra civil espanhola e a covid-19...), os centenários pesquisados souberam seguir adiante com suas vidas e, em alguns casos, mudar de direção.

Acima de tudo, sua experiência com as adversidades não causou danos psicológicos.

"Eu era muito ligado à minha mulher. Quando ela morreu, eu tinha 97 anos e minha filha pensou que eu não fosse superar. No princípio, estive mal, mas depois pensei que só se vive uma vez e é preciso ser forte, porque a minha mulher não gostaria de me ver mal" (homem, 101 anos).

8. Inteligência

Os centenários souberam assumir desafios para os quais não tinham formação concreta e os superaram com sucesso.

Eles são curiosos e adoram aprender. Sua conversa é rápida, ágil e eles têm boa memória. Sabem ler e escrever - alguns, sem nunca terem frequentado a escola. Eles adaptaram e dirigiram suas vidas para os caminhos que os deixassem satisfeitos.

"Por 20 anos, fui presidente da Câmara Agrária [nunca teve formação específica]" (homem, 100 anos).

Pesquisadores encontraram uma atitude positiva nos idosos entrevistados
Pesquisadores encontraram uma atitude positiva nos idosos entrevistados
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

As lições dos centenários

A análise da vida dos centenários saudáveis fornece algumas pistas para atingir uma velhice saudável:

  • Manter-se fisicamente ativo.
  • Cuidar das relações sociais, expressar amor aos entes queridos e ter disposição para ajudar.
  • Promover atitudes de compromisso, responsabilidade, honestidade e perseverança ao longo da vida.
  • Estabelecer objetivos realistas de curto e médio prazo e empenhar-se para atingi-los.
  • Ter visão ampla para encontrar oportunidades além do ambiente próximo ou da zona de conforto.
  • Estabelecer ordem e certos hábitos na vida diária, para que as exigências do dia a dia não causem esgotamento.
  • Manter a mente ativa, incluindo a exploração de novas áreas de conhecimento e aprendizado (pintar, escrever etc.).
  • Ser curioso - por exemplo, aprender sobre novas culturas, ler, viajar..
  • Praticar a gratidão, mantendo a consciência sobre tudo de bom que existe na vida.
  • Divertir-se, aprendendo a identificar e explorar as experiências positivas diárias.
  • Desenvolver capacidades que permitam aceitar eventos negativos e estressantes como parte da vida. E, na medida do possível, extrair a essência positiva dos eventos adversos.
  • Desafiar a mente. Tentar resolver problemas cada vez mais difíceis.

* María Dolores Merino Rivera é professora de psicologia diferencial, bem-estar psicológico e saúde do trabalho da Universidade Complutense de Madri, na Espanha.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em espanhol.

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