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A serotonina a serviço da autodestruição

Solidão e Depressão vs. Felicidade e Plenitude

28 jul 2023 - 06h20
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Foto: Kristina Tripkovic / Unsplash

Salve, salve!!! Salve-se quem puder.

Esse neurotransmissor flui no sangue quando você se sente bem, é aceito e respeitado. Na sua ausência, o efeito é o contrário: sentimento de solidão e principalmente a depressão tomam conta da sua mente e corpo.

Como de praxe, ouvir esta playlist fará você ter uma experiência sensorial única e inigualável enquanto lê este artigo.

Duas das figuras mais geniais e depressivas da música foram Ian Curtis, líder do Joy Division, e Kurt Cobain do Nirvana. Eles abrem a playlist e depois são acompanhados por várias outras bandas e artistas como Stooges, Beck e Radiohead cujas músicas escolhidas também falam de tristeza, solidão, depressão e isolamento.

De saída temos “Atmosphere” do Joy Division. Eleita a melhor música do milênio em 2000 no programa de John Peel da BBC Radio One e usada para fechar o filme biográfico “Control” sobre Ian Curtis do qual escrevo mais abaixo.

Um trecho da letra: “Don’t turn away, in silence / your confusion / my illusion / worn like a mask of self-hate”.

Depois temos “Pennyroyal Tea” do Nirvana. Em 1993, Kurt Cobain disse à revista Impact: “[‘Pennyroyal Tea ‘] é sobre uma pessoa que está além da depressão, praticamente em seu leito de morte. "A palavra "pennyroyal" se refere à erva poejo, um medicamento natural que alguns afirmam poder induzir um aborto. Cobain esperava que a erva "destile a vida que está dentro de mim".

Parte da letra: “I’m so tired I can’t sleep / I’m a liar and a thief”

Os detalhes de cada música da playlist estão aqui.

Solidão e Depressão vs. Felicidade e Plenitude

Os estudos para combater a depressão evoluíram muito nos últimos 40 anos. Em 2017, segundo a OMS, a principal causa de invalidez no mundo era justamente a depressão, um transtorno mental que afeta 300 milhões de pessoas.

Um dos sintomas dessa doença silenciosa e soturna que chega sem avisar e vai se instalando é justamente nos fazer esquecer de situações felizes do passado. Uma estratégia para combatê-la, fazendo elevar naturalmente o nível de serotonina, é recordar momentos felizes através de fotos ou conversar com amigos do peito ajudando a refrescar a memória.

Mas não é só isso. Este poderoso neurotransmissor regula nosso sono, humor, temperatura do corpo, ritmo cardíaco, apetite e outras tantas sensações e comportamentos.

Em pequena quantidade no organismo, causa mal humor, sonolência diurna, distúrbios de memória e concentração, irritabilidade, inibição do desejo sexual, compulsão por comidas e principalmente doces.

Quando você estiver lidando com alguém que tenha um ou vários destes sintomas, isso pode ser apenas uma baixa dosagem de serotonina no corpo. Muitas mulheres sofrem de enxaqueca pelo mesmo motivo.

Como aumentar ou estimular a produção sem ter que apelar a remédios ou antidepressivos? Além da óbvia prática de esportes, devemos consumir alimentos ricos em triptofano: castanhas em geral, vinho tinto (uhuhu!), chocolate amargo (eba!), banana, abacaxi, carnes magras, leites e derivados, cereais integrais e até mesmo tomate.

Se você fizer esportes e depois do banho preparar aquela pasta básica com molho pomodoro e parmesão, umas castanhas de entrada, vinho tinto pra acompanhar e um chocolate amargo fechando, não tem erro. É serotonina na veia!

Para ver, ler e apreciar

Filme: Control (2007) de Anton Corbijn

Ian Curtis foi o grande poeta de sua geração. O ator Sam Riley entrega uma interpretação magistral incorporando o soturno, enigmático, epilético, depressivo e genial líder da lendária banda de pós-punk inglesa Joy Division neste filme.

A história da banda foi curta, intensa e trágica. Estavam crescendo e aparecendo na Inglaterra conquistando cada vez mais fãs. Ian não conseguia suportar a fama crescente, a perseguição da imprensa, um casamento prematuro com direito a um bebê, as bebidas e drogas. Tudo ao mesmo tempo.

Sua fama como compositor, as performances épicas, o sofrimento com os constantes ataques epiléticos, um talento nato e sem controle, o amor pela mulher e um caso extraconjugal tiveram consequências fatais. No dia 18 de maio de 1980, aos 23 anos, ele se enforcou. Era véspera da primeira turnê pelos EUA onde a banda provavelmente sairia mundialmente consagrada.

Depois de Ian Curtis e do fim do Joy Division, os integrantes remanescentes criaram outra banda, uma tal de New Order. E o resto é História.

Altamente recomendada pra quem gosta de música e cinema.

Livro: Fragmentos de uma Biografia – Kurt Cobain de Marcelo Orozco (2002)

 A ambiguidade deixa sua marca na história da música

No dia 8 de abril de 1994 o corpo de Kurt Cobain foi encontrado por um eletricista em sua mansão em Seattle. O exame dos legistas estimou que a data do suicido foi três dias antes, no dia 5 de abril. A mega dose de heroína já bastaria pra consumar o ato. Não satisfeito, Cobain ainda deu um tiro na boca. Ao seu lado havia um curto bilhete de despedida.

Aos três anos de idade, o pequeno Kurt era uma criança irrequieta. Os pais tentavam acalmá-lo com o remédio Ritalin que acabava tendo o efeito contrário, deixando-o ainda mais agitado. Os pais mudaram para sedativos deixando o moleque fora de combate. Ali se iniciava uma dependência química que o acompanharia por toda a Vida.

Um sujeito ambíguo, contraditório, compositor de músicas poderosas e riffs de guitarra rasgados e guturais. Fez de tudo pra ficar famoso e tornar o Nirvana reconhecido, mas quando a banda estourou mundialmente em 1991 com o magistral “Nevermind”, ele passou a criticar o engenheiro de mixagem Andy Wallace acusando-o de deixar o álbum muito comercial.

No livro do jornalista e crítico musical Marcelo Orozco a obra do Nirvana e as letras compostas pelo seu líder são destrinchadas uma a uma. O objetivo é tentar entender como uma banda de rock conseguiu a façanha de agradar a todas as tribos de uma só vez.

Outro dia, durante uma viagem de carro, quis observar a reação dos meus filhos ao ouvirem pela primeira vez o “Nevermind”. Tanto o mais velho, então com 7 anos, quanto o mais novo com 4 ficaram vidrados. Ouvimos o disco de cabo a rabo. Uns dias depois me pediram “Papai, coloca aquele disco do bebezinho nadando com o dinheiro”. Desejo atendido, claro.

Kurt havia tentado se matar outras duas vezes com overdoses de heroina e uma terceira após se entupir de bebidas e tranquilizantes. Em todas elas foi salvo por sua mulher, Courtney Love. Quando a filha deles, Frances Bean Cobain, nasceu ele sugeriu um suicidio duplo com a mulher após invadir o quarto da esposa com um revólver. A esposa milagrosamente o convenceu a seguir vivendo e a desistir da ideia maluca.

O líder do Nirvana sofria de depressão crônica. Pouca serotonina no sangue devido a algum distúrbio? Talvez. Fato é que em seus 27 anos de existência e a curta carreira deixaram um legado gigantesco aos fãs do rock.

Artista: Vincent Van Gogh, O maior de todos

Ler “Cartas a Theo”, o compêndio de correspondências entre os irmãos Vincent e Theo, é um pouco cansativo, repetitivo e monótono.

Exatamente o contrário do que foi a Vida de Van Gogh, na minha opinião o maior artista de todos. Desde pequeno teve uma vida difícil, marcada pela pobreza, miséria e doenças. Seu irmão mais novo, Theo, teve papel fundamental em sua vida e sempre o ajudou.

Em maio de 1889, após ter cortado a sua própria orelha numa discussão com Gauguin, van Gogh internou-se no hospital psiquiátrico de Saint-Rémy, na Provence, ficando lá durante um ano. A depressão e a esquizofrenia já se faziam presentes.

Em Vida, nunca teve o merecido reconhecimento. Conviveu com grandes artistas como Edgar Degas, Georges Seurat, Paul Gauguin, entre outros, sendo influenciado por eles. Durante sua vida, vendeu somente um quadro: ‘O Vinhedo Vermelho’.

A fama e o reconhecimento tardaram, mas não falharam. O valor recorde de 147,3 milhões de euros foi pago pelo quadro ‘Portrait of Dr. Gachet’, em 1990, a obra mais cara do pintor holandês até o momento.

(*) Pedro Silva é engenheiro mecânico, PhD em Materiais, vive em Viena na Áustria, produz suficiente serotonina para viver com serenidade, e escreve semanalmente a newsletter Alea Iacta Est.

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