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A terapia genética que pode reverter uma dolorosa doença e transformar a medicina

Medicamentos de silenciamento de genes permitem aos pacientes ficarem livres de crises de dor agudas causadas pela porfiria

16 abr 2019 - 18h06
(atualizado às 18h22)
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Médicos usaram um novo tipo de tratamento chamado "silenciamento de genes" para reverter uma doença que provoca crises de dor capazes de deixar uma pessoa incapacitada.

A condição, chamada porfiria aguda intermitente, também causa paralisia e é fatal em alguns casos.

A nova abordagem faz ajustes nas instruções genéticas presentes em nosso DNA.

Os médicos dizem que estão "genuinamente surpresos" com o sucesso do tratamento e que ele poderia ser usado contra doenças que anteriormente não eram tratáveis.

Sue Burrell não tem mais crises de dor
Sue Burrell não tem mais crises de dor
Foto: Sue Burrell / BBC News Brasil

O que é porfiria?

Existem vários tipos de porfiria, mas todos são causados pelo fato de o corpo não conseguir produzir o suficiente de uma substância chamada heme.

O heme é um componente-chave da hemoglobina, proteína presente nos glóbulos vermelhos, que transportam oxigênio pelo corpo.

Problemas no processo de fabricação do heme no corpo podem levar a um acúmulo de proteínas tóxicas e causar crises de dor. Em outras porfirias, as proteínas podem levar a problemas de pele.

Quão grave é a porfiria?

Sue Burrell, de Norfolk, na Inglaterra, tem porfiria e suportou dores que poucos imaginam ser possível ter. Ela precisava tomar analgésicos opióides fortes todos os dias.

Durante um período, ela teve crises graves a cada duas semanas e necessitava de atendimento hospitalar. Mesmo assim, a morfina não sanou sua dor.

Ela disse à BBC que era pior que um parto: "É tão intenso, tão forte, que afeta suas pernas, suas costas e se espalha por todo o corpo. É realmente insuportável".

Sua irmã foi afetada ainda mais gravemente e ficou completamente paralisada no hospital por dois anos.

O novo tratamento funcionou?

Sue não precisa mais de analgésicos diários
Sue não precisa mais de analgésicos diários
Foto: BBC News Brasil

Sue foi um dos pacientes dos testes clínicos e, agora, está tomando o medicamento contra a porfiria. Ela diz que não usa mais analgésicos e que sua vida mudou. "Tive dor por dez anos, não esperava que isso acabasse."

Uma pesquisa feita com 94 pessoas de 18 países foi apresentado no Congresso Internacional do Fígado, em Viena, na Áustria. O novo tratamento reduziu o número de crises graves em 74%.

E metade dos pacientes ficaram completamente livres das crises que exigiam tratamento hospitalar, em comparação com 16% dos que passaram por uma simulação do tratamento. Uma pessoa abandonou o estudo devido a efeitos colaterais.

Como o tratamento funciona?

O nosso DNA contém as instruções para o funcionamento do corpo humano
O nosso DNA contém as instruções para o funcionamento do corpo humano
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O tratamento usa uma abordagem chamada silenciamento de genes.

Um gene é uma parte parte do DNA que contém um manual de instruções para a produção de proteínas, como hormônios, enzimas ou outros materiais brutos.

Mas nosso DNA fica trancado dentro do núcleo de uma célula e mantido isolado das fábricas de proteína da célula. Então, nossos corpos usam um pequeno código genético, chamado RNA mensageiro, para preencher a lacuna e transportar estas instruções.

A droga chamada givosiran mata esse mensageiro em um processo conhecido como interferência de RNA.

Na porfiria aguda intermitente, isso reduz os níveis de uma enzima envolvida na produção de heme e previne o acúmulo de proteínas tóxicas.

Isso poderia ser usado para tratar outras doenças?

David Rees, professor do King's College London, na Inglaterra, tratou pacientes que participaram do estudo. "Este é um tratamento realmente importante - é inovador. A porfiria é uma das primeiras condições contra a qual ele foi usado com sucesso", disse Rees.

"Estou genuinamente surpreso com o quão bem funciona para esta condição e acho que dá muita esperança para o futuro."

Potencialmente, a abordagem pode vir a ser aplicada a outras condições, mas ainda é cedo para afirmar isso com certeza.

O silenciamento de genes tem sido aplicado para tratar uma doença genética que causa danos aos nervos e a Food and Drug Administration, um órgão equivalente à Anvisa nos Estados Unidos, disse que estes medicamentos "têm o potencial de transformar a medicina".

Uma abordagem semelhante também está sendo investigada para a doença de Huntington, que é causada por uma proteína tóxica que mata as células do cérebro. Os pesquisadores também estão investigando isso como alternativa às estatinas para reduzir níveis de colesterol.

Barry Greene, presidente da empresa farmacêutica Alnylam, que desenvolveu a givosiran, disse à BBC que as últimas descobertas "prenunciam uma nova classe de medicamentos".

Qual foi a reação da comunidade científica?

O campo de silenciamento de genes existe há muito tempo. O Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 2006 foi para os pesquisadores que descobriram a interferência de RNA, que ocorre naturalmente em nossas células.

Mas esta área está atingindo um estágio em pode ser usada para ajudar alguns pacientes.

"Fico entusiasmada com isso, porque se concentrar no RNA mensageiro permite fazer um ajuste fino das proteínas envolvidas em certas doenças", diz Alena Pance, do Instituto Wellcome Sanger, dedicado a pesquisas genéticas.

"Portanto, talvez pela primeira vez, seja possível oferecer uma forma de controlar essas doenças de maneira muito precisa. Há doenças para as quais é muito difícil encontrar tratamento e, com essa tecnologia, isso agora pode ser possível de resolver."

É como uma terapia genética?

Mais ou menos. A terapia genética altera permanentemente a cópia das instruções genéticas no DNA.

Isso pode ser benéfico, porque significa que você precisa de tratamento apenas uma vez, mas pode ser mais arriscado. Se algo der errado, como editar acidentalmente a parte errada do código genético, isso não poderá ser desfeito.

O silenciamento de genes deixa o DNA original intacto ao ter como alvo as instruções que ele envia à célula. A desvantagem é que você precisa continuar fazendo o tratamento para que a terapia funcione.

As duas abordagens provavelmente terão um papel contra diferentes doenças.

A terapia genética tem maior potencial contra doenças como a distrofia muscular de Duchenne, caracterizada pela ausência de uma proteína vital para manter os músculos saudáveis.

O silenciamento de genes tem mais potencial quando os níveis de uma proteína afetam o curso de uma doença.

Alguém será capaz de pagar pelo tratamento?

Essa é a pergunta de um milhão de dólares, quase literalmente.

Até agora, os medicamentos genéticos têm sido caros. O custo de uma terapia genética recente para uma forma rara de cegueira foi estimado em US$ 850 mil (R$ 3,3 milhões).

Quanto custarão as injeções mensais de givosiran ainda é algo desconhecido. A esperança é que, à medida que este campo se desenvolva, os custos caiam.

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