Alectomia: entenda procedimento que fez mulher perder parte do nariz
O Dr. Thiago Marra explica o que é a alectomia e quais seus principais riscos. Dentista responsável pelo procedimento foi indiciado
A esteticista Elielma Carvalho Braga perdeu parte do nariz após passar por um procedimento cirúrgico em Aparecida de Goiânia, na região metropolitana de Goiânia (GO). O dentista Igor Leonardo Soares Nascimento, responsável pela cirurgia, foi indiciado pela Polícia Civil por exercício ilegal da medicina e lesão corporal gravíssima. O procedimento, chamado alectomia, não pode ser feito por dentistas.
A vítima precisou passar por diversas cirurgias para reconstrução do nariz devido a um processo de necrose, que deixou seu nariz deformado e com muitas cicatrizes. Além disso, alguns procedimentos foram necessários para Elielma recuperar a capacidade de respirar pelas narinas. Em sua defesa, o dentista diz que o problema não foi decorrente da cirurgia, e sim causado por uma síndrome desenvolvida após uso de medicamentos. Ele também afirma que tem dado todo o suporte à paciente após o ocorrido.
Alectomia
A alectomia é a redução da aba do nariz, e é uma das etapas da cirurgia de rinoplastia, explica o Dr. Thiago Marra, cirurgião plástico e professor na área de rinoplastia. "A cirurgia de rinoplastia deve ter mais de vinte etapas, entre deslocamento e retirada de septo. A alectomia é apenas uma delas", afirma.
Ele destaca que, além de resultados estéticos insatisfatórios, todas as cirurgias plásticas estão sujeitas a infecção e a necrose, que é a desvascularização do tecido. "No caso da rinoplastia, como é uma região contaminada, é comum haver infecção, por mais que se faça antibiótico profilático", alerta o especialista.
Nos quadros de infecção, o paciente vai apresentar vermelhidão, dor e pus. Já no caso da necrose, a morte do tecido causa uma ferida, que vai gerar uma cicatriz. Um dos primeiros sinais é a alteração da coloração da pele, indica o cirurgião plástico. "Num pós-operatório imediato essa pele fica pálida e branca, depois surge a necrose, que vai formar uma capa preta de cicatriz do tecido morto. E aí vai ter que ser feito todo o tratamento com pomadas, câmara hiperbárica e, eventualmente, um debridamento da região", explica.
O profissional alerta que não só a alectomia e outros procedimentos de rinoplastia podem causar necrose. Isso porque preenchimentos também podem levar à morte do tecido. "O preenchimento, dependendo se ele foi mal feito, pode embolizar, ou seja, pode obstruir o vaso sanguíneo. E aí este vaso sanguíneo obstruído vai então causar a necrose", afirma.
Dentista é indiciado
A esteticista vítima da complicação entrou com um processo na Justiça por danos morais e estéticos contra o dentista e prestou queixa contra ele junto ao 1° DP Aparecida de Goiânia. Na sexta-feira (20), o inquérito realizado pela Polícia Civil foi concluído e encaminhado ao Tribunal de Justiça de Goiás.
A delegada responsável pelo inquérito, Luiza Veneranda, concluiu que o profissional não possui o conhecimento técnico necessário para realizar a alectomia. Ela também apontou que ele assumiu o risco de lesão corporal gravíssima e exerceu ilegalmente a medicina, arte dentária ou farmacêutica, previsto no artigo 282 do Código Penal.
Igor Leonardo Soares Nascimento continua trabalhando enquanto aguarda decisão da Justiça. Em nota, ele afirmou ser cirurgião-dentista há 19 anos, especialista em implantes dentários, ortodontia e ortopedia funcional dos maxilares, estética bucal, e harmonização facial avançada.
Ele também reforçou que a complicação da esteticista não é decorrente da cirurgia. "O problema do caso da Elielma foi uma reação que aconteceu após o procedimento que se chama Síndrome de Nicolau, que é um raro agravamento de vasos sanguíneos após o uso de medicamentos injetáveis.Algo muito raro de acontecer e foi devido ao preenchimento realizado no nariz dela e não pela cirurgia como estão falando", declarou.