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Alta procura faz máscaras cirúrgicas sumirem de farmácias do centro de SP

População compra para levar em viagem ao exterior ou enviar para familiares que moram em países que estão com risco de transmissão de coronavírus; novos lotes chegarão com preços reajustados, segundo funcionários

26 fev 2020 - 14h37
(atualizado em 27/2/2020 às 05h58)
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SÃO PAULO - Farmácias do centro da capital paulista estão sem máscaras cirúrgicas nas prateleiras. Desde o início do ano, o medo do coronavírus fez aumentar a procura pelos produtos, principalmente por parte de pessoas que estão com viagem marcada ou por quem tem parentes em países com registro de mortes e casos confirmados para a doença. Nos últimos dias, a procura aumentou ainda mais.

"Várias redes de farmácias informaram que estão com estoques zerados ou com dificuldade de conseguir esse item", afirmou Sergio Mena Barreto, presidente da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), que reúne as 26 maiores redes de farmácia do País.

Barreto explicou que, antes da epidemia, a demanda por máscaras nunca foi tão alta e estava restrita a usos específicos. Mas quando eclodiu a doença na China, 30 dias atrás, a procura pelo produto aumentou muito e distribuidores não tinham máscaras para entregar.

Novos casos confirmados estão surgindo na Europa. Dezenas de novas infecções no Irã também intensificam os temores de uma propagação descontrolada do vírus no Oriente Médio. Nesta quarta-feira, 26, o Ministério da Saúde confirmou o primeiro caso de coronavírus no Brasil, como havia sido antecipado na terça-feira, 25. Há outros 20 casos suspeitos.

Uma parte das máscaras vendidas no Brasil é comprada pronta da China. Outra parte é fabricada localmente, mas usa insumos produzidos no país asiático. Com o avanço da epidemia na China, o consumo interno explodiu e os produtos (máscaras prontas e insumos) deixaram de ser exportados para abastecer o mercado doméstico, disse Barreto.

"Muitos chineses querem comprar máscaras porque vão viajar ou enviar para familiares que moram fora do Brasil. Em média, vinte pessoas passam por dia pela loja em busca de máscaras. Quando os produtos chegam, acabam no mesmo dia ou no máximo no dia seguinte. Hoje não temos mais. Algumas pessoas também ligam e outras querem encomendar", disse Ana Paula Souza Miranda, farmacêutica, de 31 anos.

A vendedora Stefani de Souza, de 28 anos, saiu às 8 horas nesta quarta-feira para comprar máscaras para os patrões que são chineses e estão com viagem marcada. "Procurei na 25 de março, no São Bento, no Anhangabaú e na República". Perto do meio-dia, ainda não tinha encontrado. "Eles vão para a China e pediram para eu comprar 50 unidades de máscaras. Não é para usar aqui. Achei que seria fácil achar, mas não é".

"Sempre que acaba comunicamos o responsável pelas compras da rede, mas nem sempre tem como enviar logo. Antes ninguém procurava por máscaras". No estabelecimento, o pacote com 100 máscaras brancas descartáveis até a semana passada custava R$ 25,90. "O novo lote, previsto para chegar até sexta-feira, 28, virá com reajuste e sairá por R$ 29,90", adiantou a farmacêutica Ana Paula.

O Grupo DPSP, dono das bandeiras Drogarias Pacheco e Drogaria São Paulo, informou que houve aumento de 53,5% na venda de máscaras descartáveis e de 172% de álcool em gel neste mês até a última terça-feira, em suas lojas espalhadas por seis praças, comparado com o mesmo período do ano passado. A maior taxa de crescimento de vendas de máscaras foi registrada na lojas do Grupo localizadas no Distrito Federal, com aumento de 289,3% neste mês em relação a 2019. No caso do álcool em gel, o maior avanço nas vendas ocorreu na Bahia, de 332% no período. A empresa informou, por meio de nota, que, por enquanto, não identificou a falta dos produtos na sua rede de lojas.

Quando sentiu a forte demanda por máscaras três semana atrás, Barreto contou que uma rede de farmácias de Minas Gerais reforçou os estoques e comprou o equivalente a mais de um ano de vendas do produto. Agora essa empresa está revendendo esse item pelo site da companhia, inclusive para outros estados.

A Extrafarma, por meio de nota, confirmou que houve aumento da procura de itens como máscara e álcool em gel e informou que "está se preparando para a maior demanda". Já a Descarpack, fabricante de descartáveis informou, por meio de nota, que verificou "aumento considerável" na procura por máscaras e luvas, desde o início da epidemia de coronavírus. A empresa disse que está fazendo de tudo para atender à demanda.

A assistente financeira Jéssica Braga, de 27 anos, foi uma das que passaram a usar máscara. Nesta quarta-feira, 26, ela já pegou o metrô com a proteção. "Por indicação da minha amiga, médica. Pego metrô todo dia para o trabalho, é zona de fácil contágio. Tento me prevenir como posso."

O Estado percorreu farmácias do centro da capital paulista nesta manhã de quarta-feira. Todas disseram não ter o produto para venda e muitas sem previsão de chegada. Todos os estabelecimentos, porém, adiantaram que o novo lote virá com valor reajustado.

Somente em uma loja de produtos descartáveis na Galeria Califórnia, na Rua Barão de Itapetininga, na República, região central, o Estado encontrou dois tipos de máscaras - branca e azul - na prateleira. "A procura aumentou, mas ainda temos bastante e um novo lote de 3 mil unidades chegará nos próximos dias", disse Nilma Souza.

No estabelecimento, o pacote com 100 unidades varia de R$ 16 a R$ 25,90, dependendo do modelo. "O novo lote virá com reajuste", adiantou Nilma. Na prateleira do estabelecimento, junto com as máscaras apareciam embalagens de álcool em gel. "A procura também é grande por álcool em gel, embalagens de 500 ml e de 5 litros", afirmou Nilma. O pote com 500 ml é vendido por R$ 9,5 e o galão de 5 litros, por R$ 44.

Para se precaver, a ascensorista Maria José, de 57 anos, aproveitou e comprou máscaras descartáveis e álcool em gel. "Já temos um caso confirmado no Brasil. Dá receio. Vou usar porque trabalho dentro de elevador. Vou comprar para mim e minha família. Espero que tenham máscaras para toda a população, em caso de necessidade".

Em outra farmácia, o auxiliar da loja Cleidiomar Barreto, de 30 anos, afirmou que não havia previsão para a chegada de mais máscaras. "Desde que surgiram informações do coronavírus, a procura aumentou. Querem encomendar. Muitos asiáticos procuram para mandar para familiares que moram fora porque lá também está em falta. Vamos até colocar uma placa na frente da loja avisando que não temos unidades para vender no momento".

A administradora Rosana Kamia, de 47 anos, foi uma das clientes que veio até a loja em busca de máscaras. "Estou procurando máscara para uso pessoal. Tenho receio, por causa da doença, mas não encontrei em nenhuma farmácia".

Algumas redes farmacêuticas avisam seus clientes por Whatsapp sempre que chega um novo lote. "Enviamos uma mensagem aos consumidores que nos pedem encomenda. A última cliente veio esses dias porque precisava comprar para mandar para o filho que mora na Itália. Ela disse que ele não encontrou mais no país. Assim que avisamos, ela veio comprar", disse o auxiliar de farmácia Ewerton Vinicius, auxiliar de farmácia, de 26 anos. "Já fizemos novos pedidos, mas sem previsão de chegada. Por causa do carnaval, também atrasou".

Devo usar máscaras? Quando buscar atendimento médico?

Infectologistas ouvidos pelo Estado recomendaram ainda que a população não entre em pânico e que, em caso de doenças respiratórias, só busque atendimento médico se sintomas como febre, tosse e coriza persistirem.

Como evitar o coronavírus

De acordo com o Ministério da Saúde, medidas podem ser incorporadas no dia a dia para reduzir o risco de contaminação e transmissão do vírus.

  • Lavar as mãos frequentemente com água e sabonete por, pelo menos, 20 segundos. Se não houver água e sabonete, usar um desinfetante para as mãos à base de álcool
  • Evitar tocar nos olhos, nariz e boca com as mãos não lavadas
  • Evitar contato próximo com pessoas doentes
  • Ficar em casa quando estiver doente
  • Cobrir boca e nariz ao tossir ou espirrar com um lenço de papel e jogar no lixo
  • Limpar e desinfetar objetos e superfícies tocados com frequência
Estadão
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