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Após corte do Ministério da Saúde, Universidade de Pelotas retoma pesquisa com investimento privado

No fim de julho, o ministro interino Eduardo Pazuello cancelou financiamento da maior pesquisa populacional em andamento no mundo por considerá-la 'regionalizada'

5 ago 2020 - 19h24
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PORTO ALEGRE - A Universidade Federal de Pelotas (UFPel) anunciou nesta quarta-feira, 5, que a pesquisa nacional de prevalência do novo coronavírus será retomada com financiamento privado. A quarta fase do estudo será custeada por um fundo criado pelo Itaú Unibanco para apoiar o enfrentamento da covid-19 no Brasil. O investimento de R$ 11,5 milhões vai garantir a realização das etapas 4, 5 e 6. Em 21 de julho, os trabalhos haviam sido suspensos após o Ministério da Saúde ter cancelado o financiamento.

Esta nova etapa de entrevistas e testes rápidos ocorrerá entre os dias 20 e 23 de agosto, em 133 cidades, de todos os estados do Brasil. O quarto estágio vai seguir a mesma metodologia dos três anteriores. Aproximadamente dois mil entrevistadores vão voltar a visitar os lares brasileiros para realizar testes rápidos e entrevistas, com 250 moradores em cada município, totalizando 33.250 participantes.

UFPel realizará nova pesquisa entre os dias 20 e 23 de agosto, em 133 cidades, de todos os estados do Brasil. 
UFPel realizará nova pesquisa entre os dias 20 e 23 de agosto, em 133 cidades, de todos os estados do Brasil.
Foto: Reprodução / UFPel / Estadão

O estudo Epicovid19-BR, coordenado pela UFPel, é a maior pesquisa populacional em andamento no mundo a estimar a prevalência de coronavírus. Nas três primeiras etapas, realizadas entre maio e junho, foram quase 90 mil pessoas entrevistadas. O último resultado indicou que 3,8% dos brasileiros têm ou já foram infectados pelo vírus. O levantamento apontou ainda que o número real de casos é seis vezes maior do que o de casos notificados. De cada cem infectados, um vai a óbito. Com quase 2,9 milhões de infectados, o Brasil já registra mais de 96 mil mortes em decorrência da Covid.

Conforme o epidemiologista e coordenador geral do estudo, Pedro Hallal, a continuidade do projeto é fundamental, uma vez que os números de casos, internações e mortes seguem em elevação no País. "Nossa prioridade é seguir fazendo ciência e fornecendo informações para a sociedade brasileira, independentemente das dificuldades. O povo brasileiro precisa do Epicovid19, e, por isso, fico muito feliz em anunciar que seguiremos com a pesquisa", afirmou Hallal ao Estadão.

Ao longo dos estudos, os pesquisadores já identificaram a existência de "várias epidemias" em curso simultâneo no País, com diferenças entre as regiões brasileiras e desigualdades entre grupos étnicos e socioeconômicos. Enquanto no Norte 10% da população, em média, têm ou já teve coronavírus, no Sul, esse percentual está em torno de 1%. Em todas as fases da pesquisa, os 20% mais pobres apresentaram o dobro do risco de infecção em comparação aos 20% mais ricos. Além disso, indígenas tiveram um risco cinco vezes maior do que os brancos.

A pesquisa também estimou que crianças têm a mesma chance de adultos para contrair o vírus. Dentre os sintomas mais registrados estão dor de cabeça (58%), alteração de olfato ou paladar (57%), febre (52,1%), tosse (47,7%) e dor no corpo (44,1%).

Ministério da Saúde cancelou pesquisa

No fim de julho, o ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, confirmou o fim do convênio da pesquisa nacional. Eram necessários R$ 4 milhões do governo federal para financiar o estudo. Embora tenha considerado a análise "muito boa", Pazuello alegou que o trabalho tinha caráter regional. "A pesquisa dessa forma ficou mais regionalizada e tivemos dificuldade de transferir o raciocínio para fazer uma triangulação das ideias para efeito de Brasil, como um todo. O Brasil é muito heterogêneo", pontuou.

Estadão
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