Apresentadora da Globo que sofreu ataque cardíaco alerta mulheres: “Você não suporta mais”
Anne Marjorie relembra o passado de violências, destaca o peso das demandas de mãe, trabalhadora e as culpas que recaem sobre os ombros
O último dia 3 de abril seguia como qualquer outro para Anne Marjorie até que a âncora do "Bom dia RN", da Globo, começou a passar mal enquanto tomava café da manhã, pouco depois de apresentar o telejornal matutino. Os sintomas eram comuns — inicialmente tontura, respiração muito curta — e até por isso a jornalista do Inter TV, afiliada da Globo no Rio Grande do Norte, demorou a buscar ajuda médica.
Foram horas até que o coração "começou a ficar insuportável" e uma amiga a alertou: "Isso não é batimento de quem está em repouso", afirma Anne ao relatar o episódio em entrevista ao Terra. A apresentadora ainda relembra o passado de violência doméstica -- "Dores da alma, tem hora que você não suporta mais, o corpo grita de uma alguma forma" --, conta como tem sido o período de repouso e reflete sobre as inúmeras tarefas que acometem mulheres, todas, sem exceção.
Mulheres exaustas!
Ela buscou atendimento médico — primeiro, uma clínica, depois foi encaminhada para um hospital — e entendeu a gravidade do quadro. Anne sofreu um ataque cardíaco supraventricular, que é um tipo de arritmia, e não um infarto como havia repercutido. Nesta semana, ela passou por uma cirurgia com cateter para tratar arritmia.
"O eletro chegou a 220ms e eu achando que estava tendo uma crisezinha de ansiedade. O que acontece nessa hora? Eu acho que um chamamento, especialmente pra nós mulheres que vivemos sobrecarregadas, que temos mil demandas, a questão da culpa", avalia ao pontuar o resultado do eletrocardiograma.
O papel da sobrecarga no diagnóstico
Vegetariana, pratica exercícios, não fuma, não bebe café. Atuamente com 40 anos, Anne parece um bom exemplo de como se cuidar para evitar problemas problemas de saúde. Ainda assim, seu estilo de vida não a poupou do ataque cardíaco.
A jornalista teve a rotina transformada quando assumiu a apresentação do "Bom dia RN". Para estar no ar, às 6h, ela acorda às 3h30. Nesse sentido, outra mudança foi que Anne passou a "viver das notícias". Antes de ser alçada à apresentadora de hard news (notícias quentes), fazia cobertura de entretenimento.
Mãe, trabalhodora, dona de casa...
Mas ela não culpa o trabalho, onde conta que foi acolhida quando sofreu o mal estar. Para a jornalista, o problema passa pela sobrecarga de demandas que acomete tantas mulheres. Além de apresentadora, ela é mãe de um rapaz de 20 anos e um garoto de 7.
Em paralelo, Anne conduz ainda o "Movimento Esperançar", que visa acolher vítimas de violência doméstica. Ao falar com a reportagem, ela lembrou que na semana do ataque cardíaco não conseguiu dar assistência a uma vítima — ao menos não como costuma fazer, acompanhando o processo para obter ajuda.
Violência contra mulher
Anne Marjorie deu início ao projeto de acolhimento há sete anos, quando ela própria conseguiu romper o ciclo do qual foi vítima. "Sofri todo tipo de violência: patrimonial, sexual, física. (...) O prejuízo dentro do meu coração, na minha alma, nunca vai ser reparado", destaca.
Como sobrevivente, ela reconhece como é difícil enfrentar essas violências, muitas vezes sendo desacreditada pela Justiça e pela sociedade como um todo. "Meu processo foi arquivado umas duas vezes e eu tenho laudo do inquérito, tudo. O mundo deu as costas na verdade. Era uma pessoa muito forte, com autonomia financeira, perdi tudo. (...) Então, são as dores da alma, tem hora que você não suporta mais, o corpo grita de uma alguma forma", desabafa.
Renascimento
Hoje em uma relação saudável — Anne agradeceu muito o apoio do noivo durante esse momento pós ataque cardíaco —, ela aproveita seus dias de repouso até retornar ao trabalho na próxima segunda-feira (17). Para se cuidar, a jornalista pretende manter o estilo de vida saudável e se atentar para o acompanhamento médico frequente.
Ela comenta que a mulher costuma fazer exames ginecológicos e de mama, por exemplo, periodicamente, mas não deve deixar de lado outras áreas do corpo. Isso porque, embora a cirurgia tenha sido bem sucedida, não se descarta a possibilidade de uma nova arritmia. De acordo com Anne, o procedimento chamado de "ablação" por meio de cateter "queimou" a veia que estava em desordem, o que regulou os batimentos, porém não a previne de futuros problemas. Precisa ficar atenta.