Arlindo Cruz e canabidiol: o que explica eficácia do óleo extraído da cannabis
Cantor Arlindo Cruz vêm tratando sequelas de AVC com óleo de canabidiol; prescrição e uso esbarram em portaria do CFM
Mesmo que seja um método que esbarre em determinações do Conselho Federal de Medicina e no preconceito, por ser derivado da planta da maconha, os benefícios do uso do óleo de canabidiol (CBD) já chamam atenção de especialistas da área médica e de pacientes com doenças neurológicas. Pesquisas já evidenciam a eficácia da substância em retardar sequelas neurológicas e, muitas vezes, se torna a última esperança para pacientes e familiares nessa condição.
Na semana passada, por exemplo, a esposa do cantor Arlindo Cruz, de 64 anos, revelou que o cantor está sendo cuidado em casa com tratamento à base de óleo de canabidiol, para combater as sequelas do Acidente Vascular Cerebral (AVC) que sofreu em 2017. É preciso ressaltar que o uso do óleo do canabidiol não é o mesmo que o uso recreativo da planta, ou seja, fumar.
"O tratamento já vem mostrando resultados significativos em aspectos físicos e cognitivos. Esse é só o início, poeta. Estamos muito esperançosos", escreveu sua esposa, Babi Cruz, em uma publicação no Instagram.
O caso de Arlindo Cruz não é isolado. De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mais de 100 mil pacientes usam o extrato da maconha importado do exterior sob prescrição médica. Os dados mostram que o número de pacientes que importam produtos à base de cannabis aumentou cerca de 15 vezes nos últimos cinco anos.
No entanto, o uso de canabidiol para tratar sequelas de acidentes vasculares cerebrais (AVCs) não é comprovado cientificamente. Veja, abaixo, o que explica a eficácia do uso medicinal do canabidiol para outras doenças.
Óleo de canabidiol
O biotecnólogo Gabriel Barbosa, que é supervisor de Pesquisa e Desenvolvimento na HempMeds, explica ao Terra que a interação do canabidiol com receptores neurológicos é determinante para a eficácia da substância. O efeito em convulsões associadas a algumas síndromes específicas já foi comprovado.
"Entre as doenças que podem ter alguns de seus sintomas tratados estão principalmente epilepsia, esclerose múltipla, dores neuropáticas e oncológicas", explica o especialista. "Pacientes de diversas outras condições também têm se beneficiado por uma melhora na sua qualidade de vida, como no caso do AVC, embora as evidências ainda sejam baixas. O óleo de canabidiol também tem sido muito utilizado na diminuição do estresse e ansiedade, entre outras questões de saúde mental".
Isso acontece, principalmente, porque essa substância tem a mesma atuação de antidepressivos e ansiolíticos, por exemplo, mas com menos efeitos colaterais.
"São as suas interações farmacológicas com receptores que são fundamentais para o bom funcionamento do nosso organismo", reforça Barbosa.
Não há nenhuma contraindicação absoluta ao uso da substância. No tratamento clínico, a indicação tende a ser para quadros neurológicos, principalmente para pacientes com epilepsia que não respondem aos tratamentos convencionais.
Desde 2018 o canabidiol deixou de ser uma substância considerada doping pela Agência Mundial Antidoping (WADA). Atletas usam o óleo para dores musculares e nas articulações, ansiedade, tensão nervosa e insônia.
Legislação sobre o óleo de canabidiol
O óleo de canabidiol é feito a partir de um substrato retirado da planta cannabis, a mesma da maconha, e exige diversos cuidados específicos de plantio, poda e colheita. A própria extração também tem suas peculiaridades, como auxílio de equipamentos infusores e extratores de óleos essenciais.
No Brasil, é preciso ter autorização judicial para plantação da cannabis, que deve ter finalidade estritamente medicinal.
Apesar de pesquisas comprovarem os benefícios do óleo do canabidiol para outras doenças, o Conselho Federal de Medicina (CFM) limitou ainda mais a prescrição da substância a apenas dois tipos de epilepsia e esclerose tuberosa. O CFM também proibiu palestras de médicos sobre o tema fora do ambiente científico na época.
Em outubro, porém, voltou atrás e atualizou a resolução, autorizando a prescrição do óleo para tratar epilepsias em crianças e adolescentes que não respondem aos tratamentos convencionais.