Bebê morre na barriga da mãe após maternidade mandar pais de volta para casa por três vezes
A mulher apresentava sangramentos e a bolsa já tinha estourado, mas foi orientada a voltar para casa por não ter dilatação suficiente
O quarto da pequena Isabelly Martins da Silva está todo montado, com a parede pintada de amarelo e quadros decorativos cor de rosa. Infelizmente, a menina não vai chegar a conhecê-lo, e os pais se perguntam até agora o porquê. Isabelly veio a óbito ainda na barriga da mãe, no último domingo, 10, após três idas da família ao hospital, enquanto a mulher já estava em trabalho de parto.
O caso aconteceu na cidade de Senador Canedo, na Região Metropolitana de Goiânia. Os pais abriram um boletim de ocorrência pelo ocorrido.
Segundo o pai Rafael Martins, 30, sua esposa, Ana Beatriz Nunes, de 23 anos, entrou em trabalho de parto ainda no início da manhã de domingo. “Às 6 horas da manhã ela rompeu o tampão juntamente com o sangramento. De imediato, nós corremos para a maternidade, dando entrada lá aproximadamente por volta das 7h, 7:30h da manhã”, conta, ao Terra.
Na primeira ida à Maternidade Municipal Aristina Cândida, a médica avaliou o tamanho da dilatação de Ana Beatriz, que ainda estava em 3 cm. Ela disse que a mulher precisava estar com no mínimo 5 cm de dilatação para fazer a internação na unidade de saúde, e pediu para que o casal retornasse para casa.
Assim que chegaram em casa, Ana Beatriz foi ao banheiro e constatou que havia tido mais um sangramento. “Dessa vez foi mais forte. De imediato, eu levei o celular, tirei a foto e nós retornamos pra maternidade. Nós chegamos lá por volta das 9, 10 horas da manhã. E aí, outra vez, procedimento de triagem”, relembra o marido.
A situação se repetiu. Os dois enfrentaram a mesma espera que antes, ouviram da médica que a dilatação ainda não era suficiente e voltaram novamente para casa. Antes, Ana Beatriz chegou a ser medicada para que a dor que sentia diminuísse. Foi para casa, teve mais sangramentos e os dois voltaram ao hospital já no início da tarde.
Daquela vez, chegou a ser feito um exame para medir os batimentos cardíacos da bebê, que assustaram ao pai. "Os batimentos da minha filha estavam batendo a 168, 170. Teve uma hora que chegou até 180, sabe? Muito acelerado. Eu nunca tinha visto o coração da minha nenenzinha naquela frequência", afirma, contando que tinha acompanhado de perto toda a gravidez da esposa. A médica, porém, disse que tudo estava normal.
O casal foi orientado a ir para casa mais uma vez e retornar após cerca de 3 horas para iniciar o trabalho de parto. Já anestesiada e sem dor, Ana Beatriz voltou à maternidade acompanhada de Rafael por volta das 17h. De imediato, o primeiro procedimento feito pela médica foi tentar escutar os batimentos da bebê, mas nenhum som foi ouvido.
Sem justificativa
Rafael conta que levaram Ana Beatriz para realizar um ultrassom e, ali, comprovaram que a criança já não tinha mais vida. Ele se queixa de que não foi lhe dada nenhuma explicação para a causa da morte, nem mesmo a notícia da morte veio da médica que os atendeu durante todo o processo.
"Ela se recusou a falar comigo, não quis falar comigo, não me deu nenhuma explicação do que pode ter acontecido. Não recusaram o atendimento para nós, mas eles não fizeram o atendimento necessário que precisava. Ela já estava em trabalho de parto, a placenta dela já estava rompida, ela já estava perdendo sangue, o que não é normal, e mesmo assim eles foram 'empurrando com a barriga'", reclama.
O pai foi à delegacia nesta terça-feira, 12, prestar queixa da situação. Em nota, a Polícia Civil de Goiás informou que o fato está sendo investigado pela Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente de Senador Canedo.
"Estão sendo realizadas todas as diligências cabíveis, com oitiva de todos os envolvidos e solicitação dos exames periciais pertinentes para a escorreita apuração das circunstâncias dos fatos e dos responsáveis. O procedimento será concluído e remetido ao Poder Judiciário tão logo estejam concluídas as investigações, com todas as oitivas e laudos periciais", diz o texto.
Rafael diz ainda que, na delegacia, encontrou um outro casal que dizia estar passando pelo mesmo que ele, também por erro da mesma médica. "Já apareceu mais um pessoal hoje me procurando lá na porta da delegacia e teve mais duas pessoas que me procuraram também por mensagem falando que aconteceu a mesma perda, só que dias atrás", afirma. A identidade da profissional não foi revelada.
O Terra buscou a Secretaria Municipal de Saúde de Senador Canedo, mas não obteve retorno até o momento desta publicação.