Bebê recebe transplante de intestino de doador falecido por meio de técnica inovadora
Procedimento na Espanha usou 'assistolia', que promove a oxigenação de tecidos e órgãos fora do corpo humano
Emma, uma bebê espanhola de 13 meses, é o primeiro caso no mundo a receber um transplante multidisciplinar de intestino "em assistolia", técnica na qual os órgãos e os tecidos do doador são mantidos com oxigenação extracorpórea uma vez que sua morte é certificada.
O procedimento, que é um marco nesse tipo de transplante, foi realizado no hospital público de Madri, na Espanha, e foi divulgado nesta terça-feira, 11, pelo governo regional em ato em que esteve presente o diretor da Organização Nacional de Transplantes (ONT), Beatriz Domínguez-Gil, a equipe médica do hospital e os pais da menina.
O bebê foi transplantado por meio de doação em "assistolia", que consiste na doação de órgãos e tecidos provenientes de um pessoa que é diagnosticada morta, após a confirmação da perda irreversível das funções cardiorrespiratórias (ausência de batimentos cardíacos e respiração espontânea). Os órgãos são preservados com um sistema de oxigenação extracorpórea.
?? Conocer a Emma y a sus padres es la mejor forma de ver el efecto transformador del #trasplante y anima a toda la @ONT_esp a seguir trabajando.
Es la primera receptora de un trasplante multivisceral en asistolia en el MUNDO
Felicidades al equipo de La Paz#GraciasDonantes pic.twitter.com/jnNF2t6jvw
— Organización Nacional de Trasplantes (@ONT_esp) October 11, 2022
Esta técnica "torna possível a utilização de órgãos que de outra forma seriam perdidos", de acordo com especialistas. A menina, que já está em casa em boas condições de saúde, sofria de "insuficiência intestinal" diagnosticada desde o primeiro mês de vida, e estava em um estado de saúde muito deteriorado, explicaram as autoridades de saúde de Madri em um comunicado à imprensa.
Apesar de 30% dos candidatos morrerem em lista de espera, nunca se havia utilizado um intestino vindo de doação por "assistolia" por se considerar que não daria certo devido a características especiais do órgão. No entanto, o Grupo de Malformações Congênitas e Transplantes do Instituto de Pesquisa em Saúde do Hospital de La Paz lançou um projeto de pesquisa de três anos no qual experimentou e provou que o intestino doado podia ser recebido com sucesso.
A operação foi um "sucesso" do qual participaram profissionais de sete especialidades pediátricas. De acordo com o Departamento de Saúde de Madri, nos últimos anos o número de pacientes que necessitam de um transplante de órgão para permanecer vivo aumentou e "a doação em assistolia vem se tornando uma fonte cada vez mais importante, uma vez que em adultos já representa um terço das doações" de órgãos feitas na Espanha.
Esta técnica foi usada no La Paz pela primeira vez em 2014 em adultos e em setembro de 2021 em crianças, embora anteriormente a equipe de transplante pediátrico a tenha realizado em três hospitais de Madrid e das regiões do País Basco (norte) e Andaluzia (sul), a primeira deles em 2018.
Transplantes de intestino por assistolia
O intestino é um órgão linfoide intimamente ligado ao sistema imunológico e que, em condições normais, é colonizado por micro-organismos. Portanto, a rejeição e a possibilidade de infecção são mais frequentes do que em transplantes de outros órgãos. É uma ação muito complexa do ponto de vista técnico e outro desafio é encontrar um doador adequado, considerando o baixo peso que as pessoas que precisam do transplante costumam ter.
Segundo o órgão de Saúde de Madri, a técnica de assistolia permite que, após a certificação do óbito, os órgãos sejam preservados com perfusão (bombeamento do sangue nos pulmões) sanguínea oxigenada através do sistema de Oxigenação por Membrana Extracorpórea (ECMO).
Desta forma, o órgão a ser transplantado não se deteriora. A doação controlada de assistolia demonstrou ter resultados semelhantes à doação clássica em casos de morte encefálica, e seu uso também está aumentando em outros países. Com EFE