Quantas vezes você seguiu a dieta de um colega, um artista ou aquelas publicadas em sites e revistas que não deu certo? E então foi trocando o plano alimentar até encontrar um que apresentasse melhores resultados. Com essa experiência, talvez já tenha percebido que uma dieta não funciona igual para todas pessoas — caso contrário, não teríamos tantas variações. Mas você sabe por que isso ocorre? É por uma questão simples chamada individualidade bioquímica.
Cada ser humano tem uma resposta diferente para cada nutriente que ingere e isso depende da constituição do organismo, que é influenciada por fatores genéticos e ambientais ou de comportamento. Tudo o que comemos ao longo da vida interfere na formação de enzimas que processam os alimentos.
Mariela Silveira, especialista em nutrologia, explica que algumas medidas de saúde pública são baseadas na maior parte da população. Por exemplo: é comprovado que comer cinco ou sete porções de frutas e verduras diariamente ajuda a prevenir muitos tipos de doenças.
"Existem medidas gerais que ajudam a maior parte da população, mas muitas peculiaridades se observam mesmo com detalhada avaliação clínica e só sabemos se tivermos a oportunidade de acessar o DNA da pessoa", diz a médica, que é diretora do Kurotel, em Gramado, no Rio Grande do Sul.
Programa HMR - A dieta chamada de Health Management Resources Program (Programa de Recursos de Gestão da Saúde) tem como objetivo reduzir as calorias ingeridas, com foco em frutas, vegetais e a substituição de refeições por shakes fornecidos pelo programa alimentar. Ela foi escolhida como a melhor para perda rápida de peso. A maioria dos alimentos ligados à dieta são fornecidos pela própria empresa, que inclui shakes e pratos mais elaborados, como curry vegetal com manga e um conjunto de alimentos para churrasco. Os produtos da dieta são comercializados apenas nos EUA, pela HMR.
Foto: Instagram / @hmrprogram / Estadão
Veja 10 dietas da moda inusitadas que não fazem bem para a saúde - Em cinco segundos, pense nas dietas da moda que já indicaram para você e que 'com certeza funcionam'. A busca pela rápida perda de peso leva muita gente a encarar dietas extremamente restritivas, seja de carboidratos, proteínas ou gorduras. Entre os nutricionistas, é consenso que, a médio prazo, nenhuma delas funciona. “O emagrecimento pode existir, mas não é saudável, porque terá deficiência de nutrientes e, com isso, volta do peso”, diz Michele Ferro de Amorim, professora do curso de Nutrição no UniCEUB, de Brasília. Confira aqui uma seleção de 10 dietas da moda inusitadas que você não deve seguir.
Foto: Reprodução/Pixabay / Estadão
Dieta do Dr. Atkins - Deixe frutas, legumes e carboidratos de lado e coma apenas carnes, óleos, manteiga, derivados do leite e um pouquinho de aveia e vegetais. A ideia da dieta do Dr. Atkins é que a baixa presença de carboidrato diminui o estímulo da insulina, um hormônio usado para construir vários tecidos do corpo, incluindo o de gordura. No entanto, o cardápio exagera justamente em gorduras e no colesterol, o que é péssimo a longo prazo. “Ela até funciona para emagrecer, mas pode fazer mal. Não pode ser indicada para quem tem doenças crônicas como diabete, pressão alta ou colesterol alto”, diz Carla Piovesan, da PUC-RS.
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Dieta Dukan - O médico francês Pierre Dukan conquistou o mundo com a dieta que ajudou a princesa Kate Meddleton e a cantora Jennifer Lopez a emagrecerem. A técnica consiste em aumentar o consumo de proteínas, reduzir a ingestão de outros nutrientes e dividir a mudança alimentar em quatro etapas (a primeira faria emagrecer seis quilos em quatro dias). Dukan faturava 100 milhões de euros por ano com a venda de livros, produtos e palestras até o Conselho Federal de Medicina da França cassar sua licença e proibi-lo de exercer a medicina no país. Motivo: fazer promoção comercial de seu regime. Detalhe: ele nunca fez nenhum estudo científico para verificar os efeitos da dieta no organismo.
Foto: Reprodução/Pixabay / Estadão
Dieta da sopa - Consiste em alimentar-se apenas de sopas. Há quem alegue ter perdido quatro quilos em uma semana graças à privação de gorduras e de carboidratos e à menor ingestão de proteínas. Mas esse é, justamente, o ponto fraco do regime. “Em uma dieta dessas, você fica privado de outros nutrientes, sente fome, fica entediado com a comida e não aguenta mais do que uma semana”, diz Michele Ferro de Amorim, professora de nutrição do UniCEUB, uma das maiores universidades de Brasília.
Foto: Reprodução/Pixabay / Estadão
Dieta da lua - Ela parte do pressuposto de que a lua influencia nos líquidos da maré e, na mesma lógica, do nosso corpo. Assim, toda vez que o satélite muda de fase, uma vez por semana, é preciso ficar 24 horas sem comer alimentos sólidos. No entanto, não há comprovação científica da relação entre a lua e nossos líquidos. “Essa dieta deixa a pessoa com déficit de nutrientes. Ela parte do raciocínio de que a mudança vem de fora, de uma dieta mágica, quando na verdade a perda de peso vem de dentro, da mudança da relação da pessoa com o alimento”, afirma Carla Piovesan.
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Dieta da sopa de repolho - Mais específica do que a dieta da sopa, esta vende a ideia de que a versão de repolho é a mais eficaz. A origem é no filme A Fantástica Fábrica de Chocolate, no qual Charlie Bucket e sua família comem apenas sopa de repolho, por serem muito pobres. Há quem diga ter perdido quatro quilos em uma semana (note que muitas dietas prometem essa perda). Novamente, o efeito sanfona ocorre após algumas semanas.
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Dieta da carne com toranja - Famosa na década de 1970, essa dieta prega que a ingestão da toranja com uma proteína ajuda na queima de gorduras. A promessa é perder 4,5 quilos em 12 dias. O problema, como todas as outras dietas que não envolvem uma reeducação alimentar e mudança de hábitos, é a enorme restrição. Após alguns dias, o indivíduo se cansa da mesmice dos pratos e volta a comer normalmente.
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Dieta dos sucos - Vitaminas são ótimas para o organismo, então por que não se alimentar apenas delas? Esse é o princípio da dieta dos sucos que, no entanto, priva o organismo de outros nutrientes importantes, como proteínas, carboidratos e gorduras. “As vitaminas A, K, E e D, por exemplo, apenas são absorvidas com a presença de lipídios (presentes em óleos e gorduras)”, afirma Carla Piovesan.
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Dieta da mastigação - A dieta é baseada no princípio do médico norte-americano Horace Fletcher, que ficou conhecido no fim do século 18 e início do século 19 como o grande mastigador. A ideia do regime é mastigar 32 vezes cada pedaço que colocamos na boca até ele ficar líquido. Parte da ideia faz sentido, sim: nutricionistas recomendam mastigar bem a comida. “O cérebro demora para perceber que o estômago está satisfeito e mandar o estímulo para que nos sintamos satisfeitos”, diz Carla Piovesan, professora de nutrição da PUC-RS. No entanto, a dieta é cansativa e de baixa adesão. Vale mais ficar com o hábito de alimentar-se devagar e apreciar o prato.
Foto: Reprodução/Pixabay / Estadão
Dieta da tênia - Ingerir um ovo de tênia dentro de uma cápsula para ela crescer e se alimentar do que você come é uma dieta obscura que promete emagrecimento. Após atingir o peso desejado, o indivíduo tomaria um medicamento para matar o verme. Famosa no início do século 19, ela ganhou projeção graças aos relatos de que a cantora de ópera Maria Callas perdeu bastante peso com a técnica. Os perigos, no entanto, são altíssimos: a tênia pode atingir nove metros e causar dores de cabeça, problemas nos olhos, meningite, epilepsia e demência. Hoje, o regime é piada entre os profissionais da saúde.
Foto: Divulgação / Estadão
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Genética e alimentação
Segundo a especialista, as 'dietas da moda' funcionam apenas para um grupo de pessoas. Uma alimentação rica em proteína, a cetogênica por exemplo, é boa para quem consegue metabolizar rapidamente esse nutriente. Quem possui alguma alteração genética que reduz essa metabolização terá dificuldade para perder peso com um plano alimentar desse tipo.
"Com o conhecimento do DNA, consigo adequar a alimentação de forma muito mais personalizada. Muitas pessoas chegam com sobrepeso e a medida tradicional é diminuir ingestão de gordura, mas se essa pessoa tem ótima metabolização, o que precisa dar para ela são lipídios de boa qualidade e diminuir carboidrato", explica Mariela.
O teste genético adequado permite, segundo a médica, ver a porcentagem ideal de proteína e lipídio que uma pessoa pode consumir, analisar intolerância a glúten ou lactose, quantidade de nutrientes necessários e até indicar o melhor tipo de exercício físico para cada um.
Os sequenciamentos genéticos são bem amplos e podem ser feitos, por exemplo, para identificar alterações que podem causar alguma doença ou, neste caso, para adaptar a dieta à pessoa. No Brasil, somente médicos podem solicitar o exame, que custa de R$ 1 mil a R$ 3 mil e já é feito em diversos laboratórios. "Ainda é um exame caro, o preço varia de um laboratório para outro e do número de genes analisados, mas vão ficar mais baratos", afirma a diretora médica do Kurotel.
Metabolismo e dietas
O gasto calórico, também conhecido por taxa metabólica ou metabolismo, é outro aspecto individual que influencia no processamento dos alimentos pelo organismo. Os homens tendem a ter um nível mais elevado do que as mulheres, o que os leva a queimar calorias e perder peso mais rápido do que elas.
"O principal determinante da taxa metabólica é a quantidade de massa magra, composta por ossos, vísceras, mas principal por músculos. O homem tem musculatura mais desenvolvida do que a mulher por conta da produção de testosterona", explica o endocrinologista Marcio Mancini, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP). Uma vez que a queima de gordura ocorre na fibra muscular, o público masculino se beneficia mais na perda de peso.
Outro ponto que o médico observa é que, pela ausência de estrogênio, o homem acumula gordura nas regiões do tronco e abdome quando engorda. E são nesses locais que o processo de formação e remoção das células gordurosas é mais acelerado. Nas mulheres, a gordura se concentra no quadril, glúteos e coxas, ficando mais 'parada'.
Conhecer sua taxa metabólica ajuda tanto você quanto o profissional da saúde a elaborar a dieta mais adequada. Esse gasto calórico é medido por meio de um exame chamado calorimetria basal indireta, que mede, por meio da respiração, as calorias gastas. Pode ser feito em repouso ou junto com um teste ergométrico.
Diante de todos esses fatores, Mancini afirma que, segundo estudos, o que conta mesmo na hora de aderir a uma dieta é o número de calorias ingeridas, não importando se vêm de carboidrato, proteína ou gordura — desde que sejam provenientes de fontes saudáveis. Em níveis padrões, mas que variam de acordo com as características e objetivos de cada pessoa, o consumo de calorias fica entre 1.200 e 1.500 para mulheres, e de 1.500 a 1.800 para homens.