Bolsonaro deixa coletiva após pergunta sobre Mais Médicos
Programa tem 18.240 profissionais - sendo 8.332 cubanos, segundo o governo do país brasileiro; Nordeste será região que mais perderá médicos
O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) interrompeu nesta sexta-feira, 16, uma coletiva de imprensa na sede do 1º Distrito Naval, no Rio de Janeiro, ao ser questionado sobre a saída anunciada pelo governo cubano do programa Mais Médicos. "Como o assunto saiu da área militar, quero agradecer a todos vocês aqui", disse ele, pondo fim à coletiva, que durou menos de 4 minutos.
Após tomar um café com o comandante da Marinha, o almirante Eduardo Bacellar, Bolsonaro falava sobre a escolha dos comandantes que irão trabalhar nas áreas da Segurança e Defesa do governo, quando foi questionado sobre o anúncio do governo de Cuba de retirada dos 8 mil médicos cubanos do programa de saúde do governo.
O programa Mais Médicos tem 18.240 profissionais - sendo 8.332 cubanos, segundo o governo do país brasileiro. De acordo com Cuba, seus médicos atuam em 4.058 municípios, cobrindo 73% das cidades brasileiras. O Nordeste será a região que mais perderá médicos com a decisão do governo cubano, com 2.817 baixas.
Segundo o presidente eleito, os médicos cubanos no Brasil "estão sendo submetidos à situação praticamente de escravidão". "Imaginou confiscar 70% do seu salário?", questionou. Ele reforçou novamente a defesa por salário integral. Os médicos cubanos do programa ficam com 25% do salário recebido - a maior parte do valor vai para o governo do país caribenho.
Bolsonaro também voltou a questionar a qualidade dos profissionais cubanos, afirmando que desconhece uma autoridade que já tenha sido atendida por um médico cubano.
"Será que devemos destinar aos pobres profissionais, entre aspas, sem qualquer garantia de que eles sejam razoáveis profissionais no mínimo? Isso é injusto e desumano. E eu não sou presidente ainda, mas se fosse exigiria isso: um revalida profissional, assistir o médico atender o povo. O que temos ouvido de muitos relatos são verdadeiras barbaridades. Não queremos isso para ninguém no Brasil, muito menos para os pobres", afirmou Bolsonaro.
O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, saiu em defesa dos médicos cubanos que participaram do programa Mais Médicos, no Brasil, encerrado unilateralmente pelo governo do país caribenho nesta quarta-feira, 14. Sucessor de Raúl Castro, ele afirmou que os médicos prestaram um "valioso serviço ao povo brasileiro" e que atitudes assim devem ser "respeitadas e defendidas".
O presidente eleito defendeu ainda o direito dos cubanos de trazer a família da ilha para o Brasil e afirmou que receberá nativos do país caribenho que pedirem asilo no País.
"Isso é pedir muito? Há quatro anos e pouco, quando foi discutida a medida provisória, o governo da senhora Dilma disse em alto e bom som que qualquer cubano que porventura pedisse asilo seria deportado. Se eu for presidente, o cubano que pedir asilo justifica no meu entender pela ditadura da ilha e terá o asilo concedido da minha parte", disse Bolsonaro.
O convênio com o governo cubano é feito entre Brasil e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas). "Diante desta realidade lamentável, o Ministério da Saúde Pública (Minasp) de Cuba tomou a decisão de não continuar participando do programa Mais Médicos e assim comunicou a diretora da Organização Panamericana da Saúde (OPAS) e aos líderes políticos brasileiros que fundaram e defenderam esta iniciativa", anunciou o governo cubano em comunicado.
Contratação
O Ministério da Saúde realizará nesta sexta-feira uma reunião com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) para a definição da saída dos médicos cubanos do programa Mais Médicos e a entrada de profissionais brasileiros a serem selecionados por edital.
Segundo informações do ministério, ainda será finalizada a proposta de edital para a seleção dos profissionais para as 8.332 vagas que serão deixadas pelos médicos cubanos. O governo de Cuba anunciou nesta semana o rompimento unilateral da participação no programa Mais Médicos. O motivo para a decisão foram as declarações do presidente eleito Jair Bolsonaro com críticas ao programa.
De acordo com o Ministério da Saúde, no início da próxima semana, será dada entrevista à imprensa para esclarecer os detalhes sobre o edital de seleção e chamada para inscrições. A seleção de profissionais brasileiros em primeira chamada do edital será realizada ainda no mês de novembro, de acordo com a Pasta, e o comparecimento aos municípios, imediatamente após a seleção.