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Brasileira com suspeita relata atendimento e falta de teste

Um relato pessoal de quem foi ao hospital após apresentar sintomas da covid-19

23 mar 2020 - 14h56
(atualizado às 15h01)
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Depois de quatro dias de tosse, dor de garganta, coriza e febre baixa, esses sintomas que estamos cansados de ouvir como relacionados ao novo coronavírus, um médico conhecido me recomendou procurar um pronto-socorro nesta segunda-feira (23). Apesar de tudo o que sentia ser muito leve - e diferente de qualquer outra gripe que já tive - o que me incomodava era uma certa falta de ar que não ia embora.

Fachada do Hospital Israelita Albert Einstein, Zona Sul de São Paulo (SP)
Fachada do Hospital Israelita Albert Einstein, Zona Sul de São Paulo (SP)
Foto: FLAVIO CORVELLO / Futura Press

Para minha surpresa, a sala de espera de um grande hospital particular, na região central da cidade, estava completamente vazia. Um paciente apenas terminava sua ficha, ninguém sentado nas cadeiras. Fui preparada para não ficar perto de ninguém, mas o único que se aproximou foi o segurança. Parecia desanimado como pouco movimento e disse acreditar que as pessoas estavam com medo dos hospitais. Frequento o local há anos e nunca o vi tão deserto. Peguei uma senha específica para algo como "sintomas do novo coronavírus" e não esperei nem dois minutos para ser chamada para a triagem.

O enfermeiro identificou que meu batimento cardíaco estava acelerado e nada mais. Novamente, em cinco minutos já estava diante de uma médica de olhos azuis. Com duas máscaras, duas luvas e dois aventais, tudo um em cima do outro, me examinou. Como não dava para ver seu rosto, me fixei nos olhos azuis e nos cabelos loiros presos em um rabo de cavalo, para o caso de precisar procurar por ela novamente no hospital.

Ela deixou claro que meus sintomas pareciam, sim, do novo coronavírus. Considerou também o fato de eu ser jornalista, ter entrevistado pessoalmente algumas pessoas que tiveram contato com pacientes da doença, ter andado de avião e estado em um grande evento recentemente. Mas ficou claro que, mesmo assim, não seria fácil fazer o teste. A médica me explicou que, nesse momento, o exame para identificar a covid-19 só estava sendo realizado em pacientes internados. Mas se mostrou preocupada com meu caso e disse que insistiria que eu fosse testada. Me pediu para fazer antes uma tomografia do tórax e exames de sangue.

Passei por corredores em que médicos e enfermeiros conversavam, sem ter quem atender. Alguns me disseram que depois do início da recomendação de isolamento, na semana passada, o movimento baixou drasticamente. Quase não esperei para tirarem meu sangue e depois fui direto para o exame de imagem. Dois médicos, que também não vi o rosto, me fizeram um questionário oral para evitar contato (toma algum remédio, tem alguma doença etc) e já passei pela tomografia. Na volta, me perdi pelos corredores vazios e consultórios com portas abertas, sem ninguém. Passei por uma médica que fazia uma ligação em vídeo para uma amiga e dizia que logo logo tudo ia passar.

Encontrei então a minha, a de cabelos loiros, no corredor, conversando em um grupo de colegas. Perguntei onde iria esperar pelos resultados, ela questionou enfermeiros qual era o local para isolar pessoas com sintomas respiratórios e acabaram me colocando numa sala de espera comum, que já estive em outros momentos. Mas como estava vazia também, funcionou como um isolamento de qualquer maneira.

Menos de uma hora depois, ela me chamou. Informou que meus exames de pulmão e sangue estavam ok, não eram maravilhosos, mas estavam bons. E que o quadro podia, sim, ser coronavírus. "Conversei com o grupo de médicos e não conseguimos fazer o exame, infelizmente, mas seria o ideal", me disse. Ela estava convicta de que eu era um caso que precisaria ser testado e que isso seria melhor para todos durante a pandemia. Mas pela baixa quantidade de exames, reiterou que isso só poderia ser feito se eu estivesse internada. Procurei por telefone e internet outros hospitais e laboratórios. A regra é a mesma, desde a semana passada.

A médica então me falou tudo aquilo que se deve falar aos suspeitos do coronavírus: 14 dias de isolamento, dormir em cama separada, ter um banheiro só pra mim, avisar todos com quem tive contato. Se piorar a respiração, deveria voltar a procurar o hospital. Mesmo sem ter como me testar, ela me deu um pedido para que eu faça o exame para covid 19. "Quem sabe você consegue em algum lugar."

Estou bem, ainda com um pouco de falta de ar. Virei um dos milhares de casos suspeitos de ter coronavírus no País. E sem chance dessa suspeita passar a virar qualquer tipo de confirmação, para o bem ou para o mal.

Estadão
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