Brasileira investiga 'espinha' que não para de sangrar há 8 meses
Em entrevista ao Terra Você, Raíssa - que mora na Holanda - conta as dificuldades que enfrentou para poder realizar uma biópsia fora do país
A brasileira Raíssa Bulhões, 31, decidiu procurar ajuda médica quando notou que uma espinha em seu nariz não parava de sangrar. Natural do Rio Grande do Norte e morando na Holanda há 6 anos, ela conversa com o Terra Você sobre sua jornada para descobrir o que está causando o sintoma há 8 meses.
A tatuadora diz que não lembra exatamente quando a espinha apareceu em seu rosto, já que sofre com acne na mulher adulta, quando o quadro de acne atinge mulheres depois dos 30 anos. Um episódio no trem, em novembro do ano passado, chamou sua atenção para a espinha pela primeira vez.
“Eu cutuquei, começou a sangrar e eu não percebi. Meu irmão me avisou que o sangue estava escorrendo no meu nariz. Eu nunca tinha tido nada do tipo, nada parecido”, lembra Raíssa.
Raíssa não teve sintomas de inchaço, coceira ou dores específicas, mas conta que a espinha sangrava bastante e que, quando aparentemente ia cicatrizar, uma bolinha se rompia e ela sangrava novamente.
Em dezembro, a ilustradora precisou ir a uma consulta para tratar uma tosse que estava apresentando há semanas e chegou a citar a espinha para a médica que a atendeu. Como a marca não estava em evidência na ocasião, o profissional sugeriu apenas que Raíssa procurasse uma clínica especializada em acne.
“Eu também não dei tanta importância, porque teoricamente era recente e a médica não deu tanta importância também”, diz a tatuadora.
No início de 2024, dois meses após ter notado a espinha, Raíssa se preocupou com a inflamação e foi à clínica recomendada pela médica. Ao explicar sua situação, ela foi orientada a procurar um médico dermatologista. No entanto, marcar uma consulta não é tão fácil em Utrecht, cidade holandesa onde ela vive.
“Aqui você não pode simplesmente ligar num especialista e falar: ‘olha, eu quero marcar uma consulta’. [Aqui precisa] entrar em contato com o seu médico da família, numa clínica, tipo um postinho do seu bairro, e aí a secretária vai conversar sobre a sua situação com o médico e ele vai falar se acha ou não necessário ter uma consulta. Nessa consulta, ele vai dizer se acha ou não necessário um encaminhamento para um especialista”, explica Raíssa.
Na Holanda, não existem programas de saúde pública, como o SUS no Brasil, ou modalidades de consultas particulares. Raíssa diz que é obrigatório pagar um seguro de saúde e através dele se cadastrar na clínica do bairro. O médico dessa clínica é chamado de “médico da família” e acompanha os casos da região.
Após conversar com o médico da sua região e contar sua situação com a acne, Raíssa conseguiu uma consulta e persistiu para ser encaminhada a um especialista.
“A médica falou que não dava para perceber nada, que achava que era nada, mas já que eu estava querendo tanto, ela ia me dar esse encaminhamento”, lembra.
Porém, no final do mês de janeiro, quando tentou marcar a consulta com um dermatologista, Raíssa se deparou com um longo prazo de espera até conseguir um atendimento. Ela só conseguiu uma data para o final do mês de março.
No dia da consulta, Raíssa relatou os casos de câncer em sua família, mas a especialista descartou a possibilidade e recomendou que a tatuadora fizesse uma sessão de laser para diminuir a circulação sanguínea em seu rosto. De acordo com a dermatologista, o efeito do procedimento apareceria em 4 semanas.
“Ela disse que provavelmente foi alguma espinha, alguma picada de inseto que foi mais profunda e rompeu alguns vasos, por isso estava com essa dificuldade de cicatrizar”, conta.
Em abril, Raíssa realizou a sessão de laser na semana seguinte à consulta e, após quatro semanas, não obteve resultados. Ela decidiu então repetir a sessão e lembra que a esteticista da clínica chegou a deduzir que o procedimento não seria eficiente, mas realizou mesmo assim.
“Ela falou: ‘a gente vai fazer essa segunda sessão, mas eu já vou marcar com a dermatologista caso não resolva, porque eu acho que não vai resolver’”.
Passaram mais quatro semanas e Raíssa notou uma diminuição na intensidade e na frequência do sangramento. O tamanho da acne também diminuiu, mas não tinha parado de sangrar.
Foi só no dia 12 de junho que ela conseguiu ter sua segunda consulta com a dermatologista. Raíssa conta que a profissional voltou a afirmar que não acreditava ser câncer e que o laser pode não ter atingido a profundidade necessária para estancar o sangramento.
A médica sugeriu que a tatuadora fizesse mais sessões de laser com frequências mais fortes ou uma biópsia.
“[Ela disse] ‘A gente coleta para biópsia e faz a sutura, porque aí resolve o problema de vez, mas você vai ficar com a cicatriz’. Ela me deixou bem ciente de que eu ia ficar com a cicatriz e que podia ficar com marcas, mas eu precisava também da resposta, eu não queria passar pelo desgaste novamente de ficar fazendo essa ação de laser e não ver as coisas se resolvendo. Então, no mesmo instante eu falei que queria fazer a biópsia e ela marcou o procedimento para o dia seguinte”, relata Raíssa.
A tatuadora chegou a cogitar a possibilidade de voltar para o Brasil caso sua situação não fosse resolvida na Holanda e revela que já até falou com sua mãe sobre o assunto.
“Na semana passada, antes de ir para a segunda consulta com a dermatologista, eu conversei com a minha mãe e disse, que se não fizessem a biópsia ou resolvesse de alguma forma, eu tentaria resolver no Brasil ou então Portugal, algum país onde eu possa pagar para ser examinada”, diz.
Agora, Raíssa está de repouso e espera o resultado da biópsia, que sairá em duas semanas.
“Eu não estou tão preocupada porque a médica me falou que realmente não parecia ser [câncer]. A cartada final vai ser o resultado dessa biópsia. Eu espero, de verdade, do fundo do meu coração, que não seja nada, absolutamente nada. Mas, se caso for alguma coisa, eu vou ver como é que eles vão proceder aqui”, conclui Raíssa.