Script = https://s1.trrsf.com/update-1734630909/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Butantan: "Evento adverso grave" não tem relação com vacina

Testes do imunizante foram interrompidos pela Anvisa na noite de segunda-feira

10 nov 2020 - 11h36
(atualizado às 11h39)
Compartilhar
Exibir comentários

O presidente do Instituto Butantã afirmou em coletiva de imprensa nesta terça-feira, 10, que o "evento adverso grave" observado em um voluntário brasileiro da Coronavac não teve nenhuma relação com os testes do imunizante. "O evento adverso foi analisado e não teve relação com a vacina. E essa informação está de posse da Anvisa desde o dia 6", disse Dimas Covas.

Covas e membros do governo estadual afirmaram estar chocados e indignados com a decisão da Anvisa em paralisar o estudo. O Instituto afirmou ainda que não pode divulgar detalhes sobre o evento adverso por regras de sigilo. A única informação divulgada é que o voluntário era do centro de estudo do Hospital das Clínicas da USP.

Dimas Covas, presidente do Instituto Butantã, em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes
Dimas Covas, presidente do Instituto Butantã, em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes
Foto: Divulgação/Governo do Estado de SP / Estadão Conteúdo

De acordo com comunicado divulgado pelo infectologista Esper Kallás, principal pesquisador do estudo, a equipe de investigadores fizeram análises criteriosas sobre o ocorrido e também concluiu que o evento não está relacionado à vacina em teste. "Fomentar esse descrédito gratuito a troco de quê?", questionou o presidente do Butantan. "Mesmo com posse desses dados, a Anvisa nos avisou às 20h40, marcando uma reunião para hoje de manhã e avisando sobre a suspensão do estudo. Uma decisão que causa medo e incerteza."

O Instituto afirmou também que não pode divulgar detalhes sobre o evento adverso por regras de sigilo, mas reforçou que isso não era motivo para a interrupção do estudo. Na noite da segunda-feira, 9, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) suspendeu os testes do imunizante no País informando que o motivo era um voluntário brasileiro ter apresentado "evento adverso grave". Após a decisão, o Butantã se disse surpreendido com a medida e o presidente do Instituto, Dimas Covas, afirmou que esse participante morreu, mas que o óbito não teria relação com a vacina.

Covas explicou que um "evento adverso" não é o mesmo que "reação adversa", esta sim em geral relacionada à própria vacina. "Nesse estudo clínico tivemos reações adversas, eu mesmo as apresentei, foram leves. Não tivemos nenhuma reação grave. Não tivemos e continuamos a não ter. E podemos ter eventos adversos na população do estudo. É um acontecimento, mas que não tem relação direta com a vacina. São mais de 10 mil pessoas em acompanhamento e podemos ter os eventos mais diversos possíveis", afirmou.

Ele e o secretário de Saúde do Estado, Jean Gorinchteyn, compararam com um atropelamento. "Uma pessoa é atropelada quando sai de casa e morre - não estou dizendo que foi esse o caso - é um evento adverso. Isso é reportado, mas é um óbito pelo acidente, pela causa externa, sem nenhuma relação com a vacina", disse Covas.

Após a medida da Anvisa, a Coronavac não pode mais ser aplicada em nenhum dos voluntários. A vacina, entretanto, continua sendo testada em outros países. Na Indonésia, a farmacêutica estatal Bio Farm afirmou que o imunizante seguirá na fase clínica de testes, que envolvem 1,6 mil pessoas na província de West Java.

Em comunicado divulgado nesta terça, a Sinovac diz que entrou em contato com o Butantã após descobrir sobre a suspensão dos testes pela imprensa. "O diretor do Instituto nos disse que acredita que esse evento adverso grave não tem relação com a vacina. A Sinovac vai continuar falando com o Brasil sobre o assunto. O estudo clínico no Brasil é feito de acordo com o padrão internacional de Boas Práticas Clínicas (GCP, na sigla em inglês) e estamos confiantes na segurança da vacina", afirmou.

A paralisação da Coronavac no Brasil foi celebrada por Jair Bolsonaro por meio de um comentário publicado em seu perfil oficial nas redes sociais. "Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Dória queria obrigar a todos os paulistanos tomá-la. O Presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha", publicou. Ainda não foi confirmado se o voluntário que morreu no Brasil teria recebido placebo ou o imunizante.

Desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac e produzida no Brasil pelo Instituto Butantã, a Coronavac já foi aplicada em mais de 10 mil voluntários pelo País. Sua suspensão foi anunciada no mesmo dia que o governador João Doria afirmou que o primeiro lote dos imunizantes chegaria a São Paulo no próximo dia 20.

Em dados divulgados no mês passado, o Butantã afirmou que a incidência de eventos adversos entre os voluntários foi de 35% ante pelo menos 70% nas outras vacinas testadas. A comparação foi feita com dados das pesquisas de outros quatro imunizantes em estudos: Moderna, Pfizer/BioNTech, Oxford/AstraZeneca e CanSino.

De acordo com especialistas, o registro de eventos adversos é comum nesta etapa de pesquisas de imunizantes, mas sempre precisam ser investigados para se determinar a origem do problema. A pesquisa da vacina da Universidade de Oxford, em parceria com a farmacêutica AstraZeneca, também teve os testes interrompidos pelo menos duas vezes por causa de efeitos adversos graves, mas os estudos foram retomados após análises de comitê independente de cientistas.

Estadão
Compartilhar
Publicidade
Seu Terra












Publicidade