Caso Faustão: entenda como é o transplante de coração, riscos e pós-operatório
Apresentador de 73 anos recebeu um novo coração em cirurgia de 2h30 em São Paulo
O apresentador Faustão, de 73 anos, foi operado na tarde deste domingo, 27, para receber o transplante de coração. A cirurgia aconteceu no Hospital Israelita Albert Einstein, onde comunicador está internado desde o dia 6 de agosto, e durou cerca de 2h30.
O hospital foi acionado pela Central de Transplantes do Estado de São Paulo já na madrugada deste domingo, quando foi iniciada a avaliação sobre a compatibilidade do órgão, levando em consideração o tipo sanguíneo B.
Segundo o boletim médico, o procedimento foi realizado com sucesso. Faustão permanece internado na UTI, já que as próximas horas são importantes para acompanhamento da adaptação do órgão e controle de rejeição.
Transplante pelo SUS
Mesmo que seja paciente da rede privada de saúde, Faustão entrou em uma fila gerida pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT) do Ministério da Saúde, como é feito no caso de todos os outros órgãos, não só o coração. Isso quer dizer que ele estava em uma fila universal, administrada pelo SUS. Regionalmente, são as Centrais Estaduais de Transplantes que controlam para quem vai cada órgão doado.
A prioridade de Faustão em relação a outros doadores foi definida pela gravidade do seu caso. O Hospital do Coração (Hcor) esclarece que a gravidade do caso, o tipo sanguíneo e o tamanho corporal do paciente influencia no tempo de espera pelo órgão. Em casos menos graves, a espera por um transplante cardíaco pode ser de 12 a 18 meses, em média. Em casos mais graves, esse período pode ser reduzido para de dois a três meses.
Insuficiência cardíaca
A insuficiência cardíaca é a incapacidade do coração bombear o sangue para o corpo de forma eficaz. Assim, o coração não consegue suprir a demanda dos órgãos, da musculatura e da circulação periférica, explica o médico cardiologista Dr. Rizzieri Gomes.
Segundo o médico, na fase inicial, a doença não apresenta sintomas. Assim como é com a hipertensão, uma das principais causas da dilatação do coração. Da mesma forma, a diabetes e o infarto, problemas considerados "silenciosos", também podem contribuir para o surgimento da insuficiência cardíaca.
A Dra. Stephanie Rizk, médica especialista em transplante cardíaco e coração artificial da Rede D'Or e do Hospital Sírio-Libanês, acrescenta outras causas potenciais para o desenvolvimento da condição:
- Doença arterial coronariana (entupimento das artérias do coração);
- Arritmias cardíacas;
- Problema na válvula do coração (decorrentes da febre reumática, por exemplo);
- Cardiopatia congênita;
- Miocardite (inflamação do músculo do coração).
Além disso, a especialista alerta para o uso de alguns quimioterápicos que têm potencial de danificar o coração e o consumo abusivo de álcool, entre outros fatores.
Ao surgir o quadro de insuficiência cardíaca, o paciente pode evoluir com sintomas como falta de ar, fadiga, edema (inchaço) nas pernas e tornozelos, e ritmo cardíaco descompassado. "Além desses sintomas que pioram muito a qualidade de vida, a evolução da doença pode culminar em problemas no fígado e nos rins, além de arritmias graves potencialmente fatais", destaca.
Quando o transplante é indicado?
Conforme Stephanie, quadros mais avançados que não melhoram com a terapia padrão pode ser necessário o transplante cardíaco ou o implante do coração artificial. Rizzieri acrescenta que o transplante é a última linha de tratamento. Ou seja, quando todas as outras opções já foram esgotadas e o paciente não apresenta melhora significativa.
"A necessidade de transplante acontece quando o tratamento convencional, seja com cirurgias, dispositivos mecânicos e, principalmente, o tratamento medicamentoso associado a mudanças de estilos de vida, se tornam não responsivas. Isto é, não trazem melhora pro paciente", afirma o médico.
A médica cardiologista do Hospital Icaraí, Dra. Bruna Miliosse, aponta que atualmente já remédios disponíveis para melhorar o funcionamento do coração nesses casos de insuficiência cardíaca. Além disso, eles aumentam a sobrevida do paciente portador desta doença.
"Quando a doença evolui e o paciente para de responder a essas medicações, é possível que o único tratamento indicado seja o transplante cardíaco. Isso deve ser avaliado caso a caso pelo cardiologista responsável", informa Bruna.
Quais os riscos da cirurgia?
O cardiologista explica que, com o desenvolvimento de novas técnicas e de todo o controle operatório, os riscos da cirurgia de transplante cardíaco vêm se reduzindo. "A taxa de sucesso beira os 80% nos primeiros anos da cirurgia. No entanto, o desenrolar do pós-cirúrgico é um desafio. Isso porque conta com o período de adaptação ao órgão novo, rejeição dele e o uso de medicamentos de forma contínua", afirma.
A fisioterapeuta Leandra Marques, especialista em reabilitação cardiopulmar, destaca a importância da fisioterapia para preparar o paciente para o transplante cardíaco. "Antes do procedimento, tanto do dispositivo quanto o do transplante, o fisioterapeuta avalia a condição física do paciente, identifica as limitações e prepara o paciente para a cirurgia por meio de exercícios respiratórios, fortalecimento muscular e orientações sobre o procedimento", explica.
Segundo o Dr. Thiago Chaves Amorim, anestesiologista formado pelo Hospital Albert Einstein, a colaboração entre uma equipe multidisciplinar de médicos, incluindo anestesiologistas, cirurgiões e enfermeiros, é essencial para garantir que o paciente esteja nas melhores condições possíveis para o procedimento.
"A avaliação meticulosa das condições de saúde do paciente, juntamente com o monitoramento contínuo durante o procedimento, são aspectos cruciais para o sucesso da cirurgia", destaca o profissional.
Ele ressalta a ainda a importância da comunicação aberta e transparente com o paciente e sua família. "Esse diálogo ajuda a esclarecer dúvidas, aliviar preocupações e criar um ambiente de confiança durante o processo cirúrgico", afirma.
Pós-operatório
O Dr. Rizzieri Gomes reforça que o pós-operatório é um grande desafio. "A cirurgia sim tem seu risco, mas o pós-operatório é fundamental", destaca. Com relação ao segmento da vida do paciente, notavelmente haverá uma melhora. "[Após o transplante], ele recupera a capacidade funcional e muitas vezes até mesmo poderá fazer atividade física, atividades que eram limitadas antes", afirma o médico.
Leandra explica que, após o transplante, o fisioterapeuta inicia um programa de reabilitação personalizado para auxiliar na recuperação. "Isso pode incluir exercícios para fortalecimento, mobilidade, resistência cardiovascular e respiratória. Além disso, eles ajudam o paciente a retomar as atividades diárias, monitorando de perto a função cardíaca durante o esforço físico e suas adaptações para superar as limitações pós-cirúrgicas", detalha.
Além disso, os pacientes enfrentam a necessidade de se adaptar a uma nova realidade após o procedimento. "Isso inclui aderir a um regime de medicamentos, realizar acompanhamento médico regular e adotar um estilo de vida saudável para manter a saúde do coração", destaca a fisioterapeuta.
Bruna Miliosse acrescenta que o paciente precisa usar medicações que podem diminuir sua imunidade, para evitar que o seu corpo rejeite o órgão transplantado. "Logo, cuidado redobrado deve ser tomado para evitar infecções nesses pacientes, pois estão mais frágeis. Mas o paciente pode ter uma boa qualidade de vida após o transplante, caso tudo corra bem", diz a profissional.
O cardiologista Dr. Rizzieri Gomes reforça a importância de uma adesão rigorosa ao tratamento medicamentoso, além de manter acompanhamentos e diagnósticos preventivos regulares. "Não tem opção de não fazê-lo, porque não basta só trocar o órgão, ele vai ter que manter cuidados contínuos para manter o novo órgão saudável. Isso é extremamente importante", afirma.
*Com informações do Saúde em Dia