Caso Garro: quantas doses de bebida são necessárias para atingir 0,5 g/l de álcool no sangue?
Jogador se envolveu em um acidente de trânsito na Argentina em que uma pessoa morreu
Rodrigo Garro, jogador do Corinthians, foi um dos nomes mais comentados no último sábado, 4, após se envolver em um acidente de trânsito na Argentina. O jogador estava dirigindo sua caminhonete quando colidiu com uma moto que seguia no sentido contrário. O motociclista não resistiu aos ferimentos e morreu no local.
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Garro foi indiciado por homicídio culposo, quando não há intenção de matar, sem o agravante de ter testado positivo para álcool no sangue, apesar de ter apresentado 0,5 g/l no exame. O meio-campista chegou a ser detido, mas já foi liberado e está em casa, acompanhado da família.
Quanto álcool seria necessário para atingir 0,5 gramas por litro (g/l) de sangue, como foi o caso do jogador?
Em entrevista ao Terra, o professor de Neurologia José Mauro Braz de Lima, da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e membro da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas (ABEAD) explicou que duas doses padrão de qualquer bebida alcoólica já são suficientes para alcançar essa concentração no sangue.
"O que significa ter 0,5 g/l em uma pessoa que esteja dirigindo? Primeiro, precisamos considerar a necessidade de entender melhor como o álcool funciona no cérebro das pessoas. O álcool é uma molécula que penetra no nosso organismo de maneira muito fácil. Ele atravessa todas as barreiras e chega à célula do neurônio de forma mais simples, assim como penetra em qualquer outra célula do corpo", explica o professor.
A concentração de álcool no sangue é medida em gramas por litro (g/l) e serve para avaliar o nível de intoxicação alcoólica. No entanto, de acordo com o especialista, outro fator importante ao se falar sobre o consumo de álcool é que a sensibilidade varia de pessoa para pessoa.
"Se você tomar uma dose agora e, em meia hora, eu tirar seu sangue, já consigo identificá-lo no seu organismo. Outra questão é a sensibilidade: tem pessoas que bebem pouco e já ficam alcoolizadas, enquanto outras não", diz ele.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), diversos fatores influenciam a forma como o álcool afeta o corpo, como:
- Peso corporal: pessoas com menos peso geralmente sentem os efeitos do álcool mais rapidamente;
- Sexo: em média, as mulheres apresentam uma concentração maior de álcool no sangue em comparação aos homens, mesmo consumindo a mesma quantidade, devido a diferenças fisiológicas;
- Conteúdo estomacal: consumir alimentos antes ou durante o consumo de álcool pode retardar a absorção da substância;
- Tolerância: indivíduos que bebem regularmente podem desenvolver maior resistência ao álcool, precisando ingerir maiores quantidades para alcançar os mesmos efeitos.
Além disso, conforme explica, a taxa de álcool encontrada no sangue do jogador pode não indicar tudo o que ele bebeu na noite, pois a alcoolemia [taxa de álcool no sangue] pode diminuir conforme o tempo passa.
"Quanto mais você bebe, a sua alcoolemia vai subindo, mas conforme as horas vão passando, se você não continuar bebendo, ela vai diminuindo. E se você ficar 6 horas sem beber, essa alcoolemia baixa para o nível anterior, quase para nada."
De acordo com o professor, há pessoas que provocam ou sofrem acidentes com bem menos taxa de álcool no sangue do que 0,5 g/l.
"Não podemos só considerar a taxa de álcool no sangue, mas, sim, a alteração que a bebida causou no cérebro, a capacidade de falar, de dirigir. A quantidade de álcool é um referencial objetivo, mas é preciso levar em conta as condições em que a pessoa foi encontrada. Por exemplo, nos EUA, além de medir a taxa de álcool, eles fazem a pessoa andar em linha reta, falar."
Ele, que fez parte da construção da Lei Seca brasileira (Lei 11.705/08), promulgada em 19 de junho de 2008, afirma que o álcool no trânsito faz mais vítimas do que países em guerra. "A bebida é muito banalizada e subestimada. Falta educação, ensino, pesquisa e bom senso quando falamos sobre bebidas alcoólicas e seus efeitos."
Segundo o professor, a Lei Seca é muito importante, mas deve ser acompanhada de outros passos, como informação, educação, conscientização e fiscalização. "A fiscalização já é a Lei Seca, seguida da punição ou de uma justiça que seja aplicada de maneira mais efetiva para gerar um efeito realmente inibidor."