Casos de microcefalia ligados ao zika avançam no Brasil
Ministério da Saúde confirma 230 ocorrências da malformação relacionadas ao vírus e mais de 3,8 mil suspeitas; ciência avança nas pesquisas
A divulgação de novos dados sobre o vírus zika nos últimos dias lançou um novo alerta para o Brasil. O número de casos suspeitos de microcefalia cresceu consideravelmente nas primeiras semanas do ano, e pesquisadores encontram mais evidências da ligação da malformação ao zika. Enquanto isso, o vírus se espalha pelo continente americano.
O Ministério da Saúde confirmou nesta quarta-feira (20) 230 casos de microcefalia relacionados ao vírus. O número de notificações de casos suspeitos da malformação causada pelo zika entre outubro do ano passado e janeiro deste ano subiu de 3.530 para 3.893 em dez dias.
Somente nas duas primeiras semanas, do ano foram registrados 728 novos casos suspeitos de microcefalia. As notificações foram feitas em 764 municípios de 21 estados. Pernambuco possui o maior número de registros, com 1.306 suspeitas, o que equivale a 33% do total.
O ministério informou ainda que 49 mortes foram confirmados devido à malformação congênita, e seis dessas tiveram a relação com o vírus zika confirmada.
Microcefalia e zika
Enquanto os casos de microcefalia crescem, pesquisadores tentam desvendar o que está por trás do surto. A principal hipótese é de que a infecção do vírus zika em grávidas seja responsável pelo aumento no número de malformações.
Nesta terça-feira, cientistas do Instituto Carlos Chagas, da Fiocruz Paraná, chegaram mais perto da resposta e confirmaram que o zika consegue ultrapassar a placenta durante a gestação. A análise foi feita a partir de amostras de uma paciente que sofreu um aborto na oitava semana de gravidez, após apresentar sintomas do vírus.
Até agora, pesquisadores haviam encontrado o zika somente no líquido amniótico de duas mulheres grávidas. Os cientistas da Fiocruz identificaram a infecção de células da placenta pelo vírus e
sua transmissão placentária. Os pesquisadores acreditam que o zika possa estar usando a capacidade migratória dessas células para chegar aos vasos fetais.
O especialista em imunologia da Universidade de São Paulo (USP) Jean Peron afirma que é a descoberta é um avanço significante, mas ressalta que ela ainda "não comprova cientificamente que o zika causa a microcefalia".
Casos nos EUA
Três primeiros casos do vírus zika foram registrados na Flórida, nos Estados Unidos, disseram autoridades nesta quarta-feira. De acordo com o Departamento de Saúde do estado, dois casos da doença foram notificados no condado de Miami-Dade em pacientes que estiveram na Colômbia em dezembro.
O terceiro caso foi registrado no condado de Hillsborough, envolvendo uma pessoa que viajou para a Venezuela no mês passado. Em meados de janeiro, os EUA confirmaram o nascimento no Havaí de um bebê com microcefalia cuja mãe havia sido infectada pelo vírus zika, ao visitar o Brasil no ano passado.
Nenhum caso de transmissão interna da doença foi registrado nos Estados Unidos, que emitiu um alerta para mulheres grávidas, pedindo que elas evitem viajar para 14 países da América Latina e do Caribe devido ao surto do vírus.
O zika é transmitido pelo mesmo vetor da dengue, o mosquito Aedes aegypti. Os sintomas da infecção são febre baixa (menor do que 38,5°C), que dura de um a dois dias, erupções cutâneas, dor muscular leve, dor nas articulações, coceira e conjuntivite, na maior parte dos casos. Também há quadros em que pacientes não apresentam febre.