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Cirurgia de Lula teve biópsia 'em tempo real' e durou 40 minutos; saiba como foi o procedimento

Procedimento feito no Hospital Sírio-Libanês não encontrou indícios de malignidade na lesão retirada das cordas vocais; presidente eleito deverá poupar voz durante recuperação

21 nov 2022 - 14h39
(atualizado às 16h01)
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A cirurgia à qual o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) submeteu-se para a retirada de uma lesão nas cordas vocais durou 40 minutos, foi feita sob anestesia geral e teve biópsia "em tempo real" para analisar se havia indícios de malignidade no pedaço extraído, contou ao Estadão o médico Luiz Paulo Kowalski, cirurgião de cabeça e pescoço do Hospital Sírio-Libanês que fez parte da equipe que realizou o procedimento.

De acordo com o especialista, que também é professor titular de cirurgia de cabeça e pescoço da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), a cirurgia teve início por volta das 20 horas de domingo, 20, e ocorreu sem complicações. O presidente eleito teve alta na manhã desta segunda, 21, cerca de 12 horas após a conclusão da operação. A lesão, chamada de leucoplasia, foi descoberta no dia 12 de novembro durante avaliação de rotina.

Kowalski explica que a lesão foi retirada por completo e enviada para análise imediata, ainda quando paciente e equipe estavam no centro cirúrgico. "Um médico patologista muito experiente fez o que chamamos de exame por congelação e verificou que se tratava de uma displasia leve, de baixo risco", disse ele, referindo-se às características de uma provável lesão benigna. No boletim médico divulgado pelo hospital, a equipe já apontava "ausência de neoplasia", parecer oriundo da biópsia de congelação e que será confirmado por um exame definitivo.

Em exames de congelação, a amostra removida é congelada e passa por análise do patologista durante a cirurgia, com resultado dado em poucos minutos. Esse tipo de exame é utilizado quando o parecer imediato do patologista é importante para determinar a conduta do cirurgião - por exemplo, para que ele saiba se é preciso remover um pedaço maior do tecido caso haja indícios de malignidade.

O resultado do exame definitivo deverá sair entre 24 e 48 horas. "É muito raro o exame definitivo mostrar algo diferente em um caso como esse. O patologista que fez a análise no momento da cirurgia é muito experiente e não ficou com dúvidas (sobre a presença de células cancerígenas). Eu diria que a chance de malignidade é quase zero", explicou o médico.

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva recebeu alta nesta segunda-feira.
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva recebeu alta nesta segunda-feira.
Foto: Werther Santana/Estadão / Estadão

Lesão media 5 milímetros e foi retirada com a ajuda de laser

A cirurgia de Lula foi feita sem a necessidade de cortes externos e contou com o auxílio de um aparelho que usa laser para fazer a remoção da leucoplasia de forma mais precisa. A parte removida tinha cerca de 5 milímetros, segundo Kowalski. Para efeito de comparação, uma corda vocal tem cerca de 2,5 centímetros.

Conforme o cirurgião, nesse tipo de procedimento, os instrumentos cirúrgicos são inseridos pela cavidade oral. "A gente insere um laringoscópio e um microscópio cirúrgico pelo qual podemos ter uma visualização muito clara do aspecto e dos limites da lesão. Não é feita nenhuma incisão", explica o médico. "São instrumentos muito delicados. Por isso que, algumas horas depois, o paciente já pode se alimentar e falar, desde que sem exageros."

O especialista explica que foi usado ainda um aparelho que utilizar laser para fazer o corte da lesão. "É algo que facilita o procedimento por ter um corte muito preciso e cauterizar pequenos vasinhos, o que ajuda na cicatrização", diz o médico.

O cirurgião contou que foi necessário retirar "um pedacinho" de uma estrutura da região conhecida como falsa corda vocal. "Ela estava um pouco inchada pelo fato de o paciente já ter passado por radioterapia no passado e pelo uso frequente da voz nas últimas semanas. Então tivemos de remover um pedacinho para facilitar a visualização e o acesso à área que seria operada." Lula passou por radioterapia em 2011, quando foi diagnosticado com câncer na laringe. Os exames de rotina feitos neste mês mostraram completa remissão do tumor.

Sete profissionais participaram da cirurgia, além da equipe clínica de apoio que ficou de sobreaviso em caso de qualquer intercorrência. "Pela idade do presidente, temos uma equipe de suporte clínico, liderada pelo dr. Roberto Kalil, mas o procedimento foi muito tranquilo. Ele é um paciente idoso, mas muito saudável", disse o médico. Lula tem 77 anos.

Leucoplasia tem 10% de chance de virar câncer

A equipe médica do Hospital Sírio-Libanês que acompanha Lula optou por remover a leucoplasia para análise e por prevenção, já que esse tipo de lesão tem 10% de chance de tornar-se câncer. De acordo com Kowalski, o fato de o presidente já ter tido tumor na laringe em 2011 e estar com mais de 65 anos aumentam o risco, por isso a decisão pela remoção.

Segundo o cirurgião, o presidente não deverá abusar do uso da voz na primeira semana de recuperação e terá que passar por sessões de fonoaudiologia por pelo menos duas semanas. "Ele deverá fazer repouso vocal, mas pode conversar normalmente, participar de reuniões e falar ao telefone. O que ele não pode é exagerar, fazer esforço, gritar em discursos, falar por muito tempo, porque isso pode atrapalhar a cicatrização", explica o especialista.

"Mas ele pode continuar participando das atividades de transição. Isso não vai atrapalhar em nada, poderá opinar nas decisões. Mas terá de ser mais ouvinte para não forçar tanto a voz", acrescenta o médico.

A fonoterapia, explica Kowalski, auxiliará o presidente a usar as cordas vocais "com tranquilidade e sem grande esforço", em especial nesse período de recuperação. Ele deverá começar as sessões nesta terça, 22.

Além dos cuidados pós-operatórios, Lula terá de submeter-se a exames por cinco anos para monitorar o eventual aparecimento de novas lesões. "Ele deverá passar por laringoscopia periódica. No início, será com intervalo de três a quatro meses. Depois de um ano, o período entre um exame e outro poderá ser maior", comenta o médico.

Estadão
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