Cirurgia que Preta Gil fez é "desafiadora" e pode durar até 6 horas
Cirurgião oncologista explica como será a remoção do tumor da cantora, que está na última fase prevista do seu tratamento contra o câncer
Após meses de tratamento, chegou o momento da cirurgia de Preta Gil. A cantora e empresária fez o procedimento para retirada do tumor nesta quarta-feira (16), no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Ela trata um adenocarcinoma na porção final do intestino desde janeiro, quando recebeu o diagnóstico. De lá para cá, a artista passou por ciclos de quimioterapia e radioterapia até que se internou no domingo (13) para a realização de exames pré-operatórios.
Na segunda (14), Preta passou por ressonância magnética e Pet Scan, aparelho que detecta os tumores com maior precisão, e, na terça (15), fez nova colonoscopia, exame essencial para o diagnóstico da doença.
"É recomendado em caso de sintomas como sangramento nas fezes, diarréia, intestino preso e dor abdominal. Para a população sem sintomas, o ideal é fazer o exame a partir dos 45 anos e repeti-lo a cada 10 anos", reforçou a artista, segundo o G1. Preta tem usado sua jornada de enfrentamento ao câncer para difundir mais conhecimento sobre o tema e a importância do diagnóstico precoce.
Entenda a cirurgia
Para entender como é feita a operação, o Terra procurou o cirurgião oncológico Wesley Pereira Andrade. Embora não esteja na equipe que atende Preta Gil, o médico é doutor em Oncologia e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO).
De acordo com ele, trata-se de uma cirurgia "desafiadora" porque na porção final do reto está o esfíncter retal, músculo que faz o controle fecal, e que precisa ser preservado. Desse modo, a abordagem vai depender do local, tamanho e estágio do tumor. Conheça algumas possibilidades esclarecidas pelo médico:
- Ressecção do Reto (Ressecção Anterior Baixa): esse procedimento remove parte do reto contendo o tumor associado à retirada da gordura adjacente (mesorreto) e dos gânglios da região sem a necessidade de uma colostomia permanente. O intestino é reconectado, permitindo a evacuação normal.
- Ressecção Abdominoperineal: o cirurgião remove o reto inteiro e o ânus, resultando em uma colostomia permanente. É uma opção para tumores muito baixos no reto, com comprometimento do esfíncter retal.
- Ressecção Transanal de Tumor: uma ressecção local pode ser realizada através do ânus para tumores pequenos e em estágio inicial.
A colostomia, nome dado ao desvio das fezes para o abdômen, é uma necessidade em alguns casos. Pode ser definitiva, quando o tumor invade o esfíncter retal e sua remoção é o único caminho, ou temporária, quando é preciso apenas desviar o fluxo fecal para a recuperação do reto após a cirurgia.
Quais as possibilidades de cirurgia?
Andrade pontua que a operação pode ser aberta, laparoscópica ou robótica. Entenda as diferenças:
- Cirurgia Aberta:
Essa é a técnica convencional, realizada através de uma incisão no abdômen.
Vantagens: Permite ao cirurgião um acesso direto e amplo à cavidade abdominal e às estruturas envolvidas.
Desvantagens: Recuperação mais longa, maior dor pós-operatória, maior risco de infecção e cicatriz visível.
- Cirurgia Laparoscópica:
Realizada através de pequenas incisões no abdômen, com a introdução de uma câmera e instrumentos especiais. Um gás especial, geralmente dióxido de carbono, é usado para distender o abdômen e criar espaço para trabalhar.
Vantagens: Menos dor e trauma, recuperação mais rápida, menor risco de infecção e cicatrizes menores.
Desvantagens: Pode ser mais difícil em casos complexos
- Cirurgia Robótica:
Semelhante à laparoscopia, mas com a ajuda de um sistema robotizado. O cirurgião controla os movimentos do robô através de uma estação de controle, vendo o campo cirúrgico em 3D através de óculos especial ou visor.
Vantagens: Maior precisão, controle e flexibilidade; visão 3D pode melhorar a capacidade do cirurgião de visualizar estruturas complexas.
Desvantagens: Mais cara, requer equipamento e treinamento especializado.
Assim como no caso da abordagem, o oncologista ressalta que a escolha do tipo de operação depende das condições do paciente - localização e tamanho do tumor, por exemplo - e da experiência e preferência do cirurgião. Trata-se de uma operação que dura de três a seis horas, variando também de acordo com a gravidade e extensão do câncer.
Quantos e quais profissionais são necessários na sala de cirurgia?
Segundo Andrade, geralmente é necessária a presença de cinco profissionais: um cirurgião titular, dois cirurgiões assistentes, um anestesiologista e um instrumentador cirúrgico.
Como é a recuperação do paciente?
O cirurgião ouvido pelo Terra listou uma série de cuidados essenciais para os pacientes submetidos a esse tipo de operação. As medidas vão da alimentação à fisioterapia. Veja:
- Dieta: nos primeiros dias, precisa ser líquida ou muito macia. Alimentos sólidos são reintroduzidos à medida que o sistema digestivo volta a funcionar normalmente.
- Atenção à ferida: o paciente deve seguir à risca as instruções sobre como cuidar da ferida cirúrgica para evitar infecção.
- Reabilitação: pode ser necessário fazer fisioterapia (pélvica, inclusive) para auxiliar na mobilidade e fortalecimento muscular global.
- Suporte emocional: a gravidade da doença e a extensão do tratamento reforça a necessidade de suporte emocional por parte dos profissionais envolvidos, família e amigos do paciente.
Após a cirurgia, o paciente pode se considerar curado?
"Determinar a cura após uma cirurgia de câncer de reto é um processo complexo e em geral vamos ter essa certeza com o passar dos anos", pondera Wesley Andrade. Para ele, a mensagem principal é de que o paciente deve se sentir curado, já que apenas a medicina não é capaz de responder se o tumor vai retornar ou não.
Mas há indicativos. É o caso de ressecção completa, quando ocorre a remoção completa do tumor com margens negativas (sem células cancerosas nas bordas do tecido removido); do estadiamento, que é a extensão e o estágio do câncer no momento do diagnóstico e da cirurgia - tumores em estágio inicial tem maior probabilidade de cura; e da resposta a tratamentos neoadjuvantes, quando os pacientes já responderam bem às medidas adotadas antes da cirurgia.