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Colesterol alto: cresce número de crianças e adolescentes com o problema

Estudo da UFMG mostra que 27,4% das crianças e adolescentes brasileiros têm altos níveis de colesterol total

3 abr 2023 - 10h10
(atualizado às 11h08)
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Aumenta número de crianças e adolescentes com colesterol
Aumenta número de crianças e adolescentes com colesterol
Foto: Neydtstock

Com 3 anos, o pequeno Luan Matos, de Diamantina, interior de Minas Gerais, foi diagnosticado com uma doença "de velho": o nível de colesterol dele estava mais alto do que o esperado. Seis anos depois do diagnóstico, a mãe do garoto, Delis Matos, de 29 anos, não apenas aprendeu a lidar com a doença do filho, como ainda sugere pratos mais saudáveis para outras famílias na mesma situação.

Ela faz parte do grupo "Mães de crianças com colesterol e triglicerídeos altos" no Facebook, que já conta com mais de 2,4 mil membros. Segundo estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mais de um quarto das crianças e adolescentes brasileiros (27,4%) têm altos níveis de colesterol total e praticamente um em cada cinco (19,2%) tem alterações no LDL, chamado popularmente de "colesterol ruim".

O dado é de uma grande revisão de estudos que selecionou 47 pesquisas de todas as regiões do País, com crianças e jovens de 2 a 19 anos, e se baseia nos parâmetros da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). De acordo com Gerson Luiz Bredt Junior, médico e membro do Conselho Administrativo da SBC, no longo prazo os altos níveis de colesterol no sangue tendem a acarretar placas de gordura nas veias - que, por sua vez, podem provocar infartos ou um acidente vascular cerebral (AVC), por exemplo.

"A gente já está acostumado com enfarte aos 60, 70 anos, porque as pessoas começam a ter colesterol alto aos 40. Porém, o que vemos hoje são infartos cada vez mais precoces: colesterol alto a partir dos 10 anos pode causar enfarte aos 25, 30 anos. Mas agora já está aumentando o número de crianças de 5 anos, o que pode refletir em enfarte até mesmo antes dos 20?, afirma ele.

Entre os motivos para a alta, dizem os especialistas, estão a alimentação cada vez menos saudável, com grande consumo de alimentos ultraprocessados (como biscoito, chocolate, congelados etc) e o sedentarismo. Fatores genéticos também têm grande influência, Com a longevidade maior entre aqueles que têm predisposição a enfartes e AVC, esse perfil genético também aparece com mais frequência na sociedade.

Como identificar a hipercolesteronomia?

Existem dois tipos de colesterol, mensurados em exames de sangue de rotina: o LDL (Low Density Lipoprotein, ou proteína de gordura de baixa densidade, em tradução livre), ou "colesterol ruim"; e o HDL (High Density Lipoprotein, ou proteína de gordura de alta densidade, em tradução livre), ou "colesterol bom". A soma de ambos é o colesterol total.

Conforme o presidente do Departamento de Pediatria da Sociedade Brasileira de Endocrinologia (SBE), Sonir Roberto Rauber Antonini, um colesterol total acima de 170 mg/dL em adultos já é um sinal de alerta e acima de 200mg/dL é considerado muito elevado. Em crianças, esses valores são menores: é desejado o colesterol total menor do que 130 mg/dL. Acima de 150 mg/dL, já é considerado muito elevado.

Em termos específicos, ele aponta que uma criança com um colesterol LDL acima de 70mg/dL já é preocupante, mas o maior risco é se o nível estiver acima de 100 mg/dL. "Se a criança tiver um colesterol HDL muito baixo, é ruim, porque ela não tem uma espécie de proteção. Agora se isso for somado ao LDL alto, a equação fica bem ruim: é uma doença chamada hipercolesterolemia", explica.

No caso das crianças, outro cenário também deve ser levado em conta: a síndrome metabólica. Nesses casos, o pequeno tem, geralmente, triglicérides alto e colesterol HDL baixo, podendo ou não ter colesterol LDL elevado. Aqui, é comum perceber também o sobrepeso.

Apenas a alimentação causa o colesterol alto?

Antonini defende que apenas 20% a 30% do nível de colesterol no sangue é passível de mudança somente com a alimentação, mas a maior parte se refere a condições genéticas e herança familiar. "É essencial destacar a hipercolesterolemia familiar, causada por um defeito genético no local que é onde o colesterol tem que se ligar ao receptor do LDL. Nesse caso, a alimentação ajuda um pouco, mas não é suficiente sem medicação", afirma.

O médico diz ainda que o aumento da expectativa de vida pode explicar o aumento de casos. "Uma pessoa que enfrentasse um infarto há 40 ou 50 anos atrás, morreria. Hoje ela sobrevive, tem filhos, netos, e vai transmitir essa tendência genética", afirma o cardiologista.

Ainda assim, a alimentação saudável, somada à atividade física, mesmo em pessoas com índices normais de colesterol, já diminui o risco de doenças cardiovasculares como infarto e AVC. Por isso, Delis compartilha as receitas que passou a fazer para o filho Luan com as colegas no grupo do Facebook.

Hoje com 9 anos, o filho único da mineira não tem acesso a alimentos gordurosos e ultraprocessados em casa e consome frequentemente frutas, verduras e pães integrais. "No começo foi bem difícil fazer com que ele comesse melhor, a minha sorte é que ele não é muito fã de doces e bolos. Sempre tem gente que oferece (comidas menos saudáveis) e ele nega, ou no máximo só experimenta", afirma.

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Estadão
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