Como Claudia Raia, ela engravidou depois dos 50 anos: 'Ainda existe muito preconceito'
Relações públicas teve gestação saudável de gêmeos e defende olhar diferente para a maternidade tardia
A notícia da gravidez de Claudia Raia nessa segunda-feira, 20 surpreendeu internautas por causa da idade da atriz, que já tem 55 anos, idade em que grande parte das mulheres brasileiras já passou pela menopausa. Mas, segundo especialistas, o avanço da medicina - com técnicas como o congelamento de óvulos - tem tornado a maternidade nesta faixa etária um pouco menos rara.
É o caso da relações públicas Rosana Beni, hoje com 65 anos. Ela, que se define como "workaholic", adjetivo dado a pessoas viciadas em trabalho, conta que decidiu ser mãe aos 47, quando já tinha uma carreira estável e maturidade suficiente para escolher formar uma família. "Um amigo sempre diz que sou uma pessoa que gosta de quebrar paradigmas e, com a maternidade, não foi diferente. Não dei ouvidos para quem dizia que eu já estava velha para ser mãe. Afinal, essa é uma decisão só diz respeito à mulher e ao seu corpo, sua saúde", diz.
Orientada pelo seu médico, o ginecologista e obstetra Alexandre Pupo, que atende nos hospitais Sírio Libanês e Albert Einstein, Rosana tentou por um ano engravidar naturalmente. Sem sucesso, buscou na inseminação artificial uma via para realizar o sonho da maternidade. Foram seis tentativas utilizando os seus próprios óvulos e os espermatozóides do seu marido na época até conseguir engravidar. Quando a gestação virou realidade, veio em dose dupla: ela se tornou mãe de gêmeos.
De acordo com Pupo, casos de gravidez natural são raros nesta faixa etária. A paciente mais velha que teve nessa condição, lembra o ginecologista, tinha 48 anos.
A gestação
"Minha gravidez foi tranquila", relembra Rosana. Ela não tinha problemas de saúde, levava rotina saudável e seguia todas as recomendações médicas. "Um ponto positivo da maternidade tardia é que as mulheres geralmente são mais maduras e aderem melhor ao pré-natal", comenta Pupo. Mas essa não é a regra para todas as gestantes com mais de 50, alerta o médico.
Em geral, mulheres com mais de 35 anos têm mais chances de desenvolver complicações na gestação por terem níveis hormonais mais baixos, o que pode causar abortos espontâneos e erros no desenvolvimento cromossômico dos bebês, levando a condições genéticas como a Síndrome de Down. Por causa disso e da maior predisposição de mulheres acima de 45 anos a terem doenças crônicas, todas as gestações acima dos 35 anos são consideradas de risco.
No caso de Rosana, o risco era em dose dupla: a gestação de gêmeos exige o dobro do corpo da mulher e, na idade dela, os ossos da bacia já estão consolidados, o que dificulta um parto normal. Mas, em 5 de maio de 2009, Raphael e Anita nasceram saudáveis e com apenas três minutos de diferença em uma cesariana sem complicações. Rosana amamentou as crianças normalmente, voltou a trabalhar poucos meses após o parto e hoje defende mudar a visão da maternidade tardia na sociedade.
"Ainda existe muito preconceito com mães da minha idade. É importante que as pessoas respeitem a autonomia das mulheres na escolha da idade em que querem ter filhos. Se é comum que homens sejam pais aos 50, por que ainda vejo amiguinhos dos meus filhos fazendo comentários sobre a minha idade? Isso precisa mudar", defende Rosana.
Considerando a faixa etária dos 20 aos 59 anos, a proporção de quem optou pela maternidade tardia têm aumentado. Em 2001, as mulheres com mais de 40 anos corresponderam a 2,5% das mães de nascidos vivos no Brasil dentro desse grupo, segundo números do Ministério da Saúde. Já em 2020, de quando são os dados mais recentes, elas representaram uma parcela de 4,2%. / COLABOROU RAISA TOLEDO, ESPECIAL PARA O ESTADÃO
'Parecia que tinha ganhado na loteria'
Xará da atriz das novelas, a assistente comercial Cláudia Fernandes teve seu único filho aos 53 anos, por meio da fertilização in vitro. Com o sonho de ser mãe desde cedo, mas sem relacionamentos amorosos duradouros, aos 40 anos, ela havia desistido da maternidade, imaginando que suas chances seriam ainda menores.
Mas foi com seu melhor amigo que, em 2015, Cláudia encontrou seu grande amor. Stuart Clarke, que é natural de Londres, na época tinha 42 anos e alimentava o sonho de ser pai, incentivando assim a busca por tratamentos para juntos tentarem a gestação.
Com acompanhamento profissional, o casal ficou durante quatro anos na tentativa de ter seu bebê, mas não imaginavam que durante esse período Cláudia descobriria outros problemas que dificultariam o processo, como adenomiose, miomas e endometrite. Ela conta ainda que chegou a ouvir alguns comentários desagradáveis nesse tempo, mas isso não a desmotivou,
Segundo ele, houve até comentários de ela era "egoísta", porque tinha 52 anos e o filho não a teria na velhice. "Mas minha resposta foi que ninguém sabe o tempo de vida de ninguém. Acho que isso não tem nada a ver, nunca tive medo", conta.
Quando soube da confirmação da gravidez, "parecia que eu tinha ganhado na loteria, era um prêmio. Minha médica já tinha falado até em substituição de útero, de tantos problemas que eu tinha. Achei realmente que eu tinha sido abençoada pelo universo, conta. O nome escolhido pelos pais foi Anthony, que hoje tem 2 anos e 9 meses.
Quando questionada sobre o futuro e a maternidade, ela lida com tranquilidade. "Nessa idade, tenho mais paciência, maturidade. Posso não ter tanta energia: se por um lado perco em não correr atrás dele no parquinho, ganho ainda mais em sabedoria. A maternidade me deixa mais jovem, com 65 anos vou estar levando meu filho no futebol, ou pro karatê", brinca.
Juliana Amato, médica especialista em Infertilidade e reprodução humana, pela USP e Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, explica que hoje em dia as mulheres têm outras visões. "Elas querem engravidar mais tarde. A gente via muitas que só queriam engravidar depois de 35, 37 anos, e agora aparece muito depois dos 50, é comum vermos".
A especialista conta ainda que a expectativa de vida da mulher aumentou nos últimos anos, e que esse público cada vez mais busca ter um estilo de vida saudável, gerando mais saúde, e o pensamento de ter filhos mais tarde.
Hoje em dia Cláudia segue compartilhando sua história em grupos de Facebook e WhatsApp, e incentiva diversas outras tentantes a não desistirem do sonho de ser mãe. "Sou muito realizada, quero que outras mulheres sejam também. Sempre recebo mensagens de tentantes que não conheço, e quando compartilham comigo o (diagnóstico) positivo, choro de felicidade."