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Como ensinar homens a amarem as mulheres? Reflexões da série Adolescência

Entenda como a série Adolescência, da Netflix, expõe o ódio às mulheres e os desafios de ensinar os homens a respeitar e amar as mulheres

26 mar 2025 - 14h27
(atualizado em 27/3/2025 às 09h16)
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ódio às mulheres
ódio às mulheres
Foto: Netflix / Personare

A experiência de assistir à série de direção britânica Adolescência, da Netflix, me pegou na curva. Escancarou a bolha em que vivo: rodeada de discussões de gênero e esforços para equidade. Fora dela, o cenário é outro: um ambiente cada vez mais marcado pelo ódio às mulheres.

  • Entre 2017 e 2022, as denúncias de crimes de ódio contra mulheres na internet aumentaram de 961 para 28,6 mil, conforme dados da SaferNet
  • Paralelamente, a presença digital das crianças só aumenta: a pesquisa TIC Kids Online Brasil 2024 revelou que 83% das crianças e adolescentes brasileiros que utilizam a internet possuem contas em redes sociais. 
  • Notavelmente, 60% das crianças entre 9 e 10 anos já estão nessas plataformas — mesmo com restrições etárias.

No meio de todos esses dados, só consigo me perguntar: 

Por que é tão difícil ensinar homens a amarem as mulheres? 

E mais: por que comunidades online de disseminação de ódio às mulheres, ou seja, de misoginia, fazem tanto sucesso? 

Neste artigo, compartilho três reflexões principais:

  • a masculinidade como forma de defesa
  • a forma que o medo da vulnerabilidade se transforma em ódio às mulheres
  • a urgência de discussões de gênero que contemplem a escuridão do ambiente virtual. 

Vale lembrar que tudo o que escrevo parte da minha vivência. Sou uma mulher, racializada, nascida e criada no Brasil. Amo, vivo e trabalho exclusivamente com mulheres nos últimos cinco anos.

Essa é a minha bolha, mas precisamos ir além para construir um mundo mais justo e respeitoso.

Leia também sobre a série Adolescência:

A masculinidade como forma de defesa: de que os homens estão se defendendo?

Entre 2012 e 2022, as buscas pelo termo "feminismo" no Google cresceram 120%. Em 2023, perguntas como "o que é feminismo?" e "o que é uma mulher feminista?" estavam entre as mais pesquisadas. Isso reflete uma busca por compreensão mais profunda do movimento.

Em contrapartida, a chamada "machosfera" só cresce. Estudos recentes identificaram 137 canais no YouTube com conteúdo misógino, acumulando 3,9 bilhões de visualizações e mais de 105 mil vídeos. 

Esses espaços promovem ideais antifeministas e teorias conspiratórias sobre uma suposta "dominação feminina".

No livro "Alguma vez é só sobre sexo?", o psicanalista Darian Leader traz uma visão preciosa sobre a masculinidade: "a masculinidade é, em si, uma defesa". Segundo o autor, a ideia masculina de que mulheres "querem ser penetradas, mesmo quando dizem não", pode ser uma projeção do próprio medo-desejo.

Se a masculinidade é, de fato, uma defesa, contra o que exatamente esses homens sentem que precisam se proteger?

O aumento da busca por feminismo e a explosão de conteúdo misógino na internet não acontecem de forma isolada; eles são faces opostas de um mesmo fenômeno.

A ascensão do feminismo representa uma ameaça à estrutura de poder que tradicionalmente favoreceu os homens. Não porque busca uma dominação reversa, como alegam os canais antifeministas, mas porque expõe as fragilidades e inseguranças dessa identidade construída sobre o controle. 

Podemos ler a defesa violenta da masculinidade online não como força, mas como medo.

E se a masculinidade é uma resposta, como sugere Leader, talvez o que está em jogo não seja apenas a relação com as mulheres, mas a relação dos homens consigo mesmos e com o mundo que já não os coloca mais no centro incontestável da narrativa.

Do medo ao ódio: por que ser vulnerável dói tanto?

A série "Adolescência" está centralizada nas acusações de homicídio de Jamie Miller, um adolescente de 13 anos. As cenas mais fortes são as que o protagonista é inquerido sobre o suposto crime. Fica claro para nós, expectadores, uma dança angustiante entre medo e controle. 

O que me leva a crer que os homens têm medo da perda de controle. 

  • Medo de não serem mais a referência absoluta
  • Medo de que sua identidade não seja mais definida pela superioridade automática sobre as mulheres
  • Medo de olharem para si e encontrarem vulnerabilidade, fraqueza, dúvida - qualidades que a masculinidade tradicional ensinou a reprimir e projetar no feminino.

Pesquisas sobre masculinidade indicam que homens expostos a discursos que questionam seus privilégios sociais tendem a experimentar altos níveis de ansiedade e estresse, frequentemente traduzidos em resistência ou agressividade. 

Um estudo da Universidade de Londres mostrou que, quando confrontados com a ascensão feminina no mercado de trabalho, muitos homens demonstram queda na autoestima e um aumento significativo em comportamentos de hipermasculinidade.

O que inclui desde um reforço exagerado de estereótipos até a adesão a discursos de ódio.

O que transforma esse medo em ódio é o mecanismo psicológico da externalização. Em vez de reconhecer sua insegurança como algo interno, muitos homens a projetam nas mulheres e no feminismo, criando narrativas de "opressão reversa" ou "ameaça feminista"

Cresce o ódio às mulheres

O crescimento exponencial do consumo de conteúdos misóginos nas redes sociais reflete esse fenômeno: um estudo da Fundação Rosa Luxemburgo mostrou que canais antifeministas na internet cresceram mais de 500% nos últimos cinco anos, impulsionados pela necessidade de reafirmar um modelo de masculinidade que se sente em colapso.

O ódio, portanto, não nasce da força, mas da fragilidade. Ele se manifesta quando a mudança parece inevitável, mas o indivíduo não possui ferramentas para lidar com ela. 

Diante da ascensão das mulheres em espaços antes exclusivamente masculinos, muitos homens não reagem com adaptação, mas com hostilidade, porque enxergam essa transformação não como um convite à equidade, mas como uma ameaça à própria identidade.

Como proteger nossas crianças de discursos de ódio às mulheres?

Se a internet é o campo de batalha onde esse ódio cresce, como protegemos aqueles ainda em formação? 

Como garantir que meninos não sejam engolidos pela espiral do radicalismo e que meninas possam existir online sem serem alvo de ataques diários?

O problema não é novo, mas sua urgência se intensifica. 

  • Entre 2017 e 2022, a plataforma do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania registrou um total de 293,2 mil denúncias de crimes de ódio na internet, incluindo ofensas, ameaças e incitações à violência motivadas por preconceito ou intolerância. 
  • Paralelamente, a pesquisa TIC Kids Online Brasil 2024 revelou que 29% dos usuários de internet entre 9 e 17 anos relataram ter passado por situações ofensivas ou desconfortáveis online, evidenciando a vulnerabilidade dessa faixa etária no ambiente digital. 

Estamos, portanto, diante de uma geração que não somente cresce imersa nesse ambiente, mas é profundamente moldada por ele. E, enquanto isso, a resposta institucional ainda engatinha. 

Em fevereiro de 2024, o governo brasileiro sancionou uma lei que proíbe o uso de celulares dentro das escolas, uma tentativa de reduzir a dependência digital e criar um ambiente menos vulnerável à influência dos algoritmos. 

Mas será que isso é suficiente? 

A escola pode e deve ser um espaço de proteção, mas a internet já atravessou os muros e se instalou dentro de casa, na palma da mão das crianças, no algoritmo que as conhece melhor do que qualquer adulto.

O que está em jogo aqui não é só regulamentação, mas um esforço coletivo para:

  • preservar a juventude
  • criar espaços onde meninos possam falar sobre masculinidade sem recorrer ao ódio
  • ensinar que vulnerabilidade não é fraqueza, e que identidade não precisa ser construída em oposição ao outro
  • garantir que meninas possam existir online sem serem perseguidas, assediadas, silenciadas.

A pergunta que ficou comigo após assistir Adolescência foi: por que é tão difícil ensinar homens a amarem as mulheres? Mas talvez a pergunta que precisamos responder agora seja outra: como impedir que a próxima geração aprenda a odiá-las?

O post Como ensinar homens a amarem as mulheres? Reflexões da série Adolescência apareceu primeiro em Personare.

Amanda Guimarães (arguimaraes19@gmail.com)

- Amanda R. Guimarães é cartomante, terapeuta holística e comunicadora, unindo tarot, bruxaria natural e aromaterapia para promover autoconhecimento. Host do Entre Tapas & Cartas, capacita minorias e inspira jornadas pessoais.

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