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Como o ronco pode afetar a sua vida — e o que fazer para tratar o problema

Quando não é tratado, o ronco não afeta apenas a saúde física e mental da pessoa que ronca, mas também de quem divide a cama com ela.

14 mar 2024 - 15h13
(atualizado às 17h46)
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O ronco alto pode afetar a saúde física e mental de quem ronca e do parceiro, alertam especialistas
O ronco alto pode afetar a saúde física e mental de quem ronca e do parceiro, alertam especialistas
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

"Eu costumava fazer piada com a família e os amigos sobre o ronco alto do meu marido, mas no fundo realmente me incomodava", conta Arunika Selvam, uma mulher de 45 anos, de Cingapura.

"Tinha receio de falar sobre isso com ele, achava que ficaria ofendido."

Ela pensava que o ronco fazia parte do pacote que vem com o casamento. Mas estava afetando o marido — e o relacionamento do casal.

"Ele começou a acordar muito durante a noite, e ficava mal-humorado pela manhã", diz ela à BBC.

O ronco do marido também a impedia de ter uma boa noite de descanso — e seu desempenho no trabalho era prejudicado pela falta de sono.

É muito comum ignorar o ronco de quem divide a cama com a gente, mas especialistas em saúde e relacionamentos alertam que isso pode ter um efeito sério na saúde do parceiro e do relacionamento.

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O que é apneia do sono?

O ronco alto está frequentemente associado a um distúrbio do sono conhecido como apneia obstrutiva do sono (AOS), condição em que a respiração para e recomeça repetidamente durante o sono, dizem os especialistas.

O distúrbio faz com que as paredes da garganta relaxem e se estreitem, interrompendo a respiração normal e resultando na queda da saturação de oxigênio no sangue.

Ilustração mostra como funciona a apneia obstrutiva do sono
Ilustração mostra como funciona a apneia obstrutiva do sono
Foto: BBC News Brasil

De acordo com Ramamurthy Sathyamurthy, pneumologista do Hospital Universitário James Cook, no Reino Unido, os sintomas da apneia do sono podem variar — oscilando de leves e moderados a graves —, mas geralmente pioram progressivamente.

Ele alerta que se a condição não for tratada, pode afetar muitos aspectos da saúde física e mental de quem ronca e do parceiro, incluindo o desejo sexual.

Quais são os sintomas da apneia do sono?

Os sintomas aparecem principalmente enquanto você dorme, e incluem:

- Ronco alto;

- Respiração que para e recomeça;

- Fazer barulhos ofegantes, de engasgo ou bufar;

- Acordar com frequência.

Durante o dia, os pacientes também podem:

- Ter dor de cabeça ao acordar;

- Sentir-se muito cansados;

- Apresentar dificuldade de concentração;

- Memória fraca;

- Sentir-se deprimido, irritado ou apresentar outras alterações de humor;

- Ter a coordenação prejudicada;

- Perder o desejo sexual.

Outros problemas de saúde

Além disso, a apneia obstrutiva do sono também pode levar a outros problemas de saúde.

As quedas repentinas nos níveis de oxigênio no sangue que ocorrem durante a apneia podem aumentar a pressão arterial, alertam os especialistas, e isso pode aumentar o risco de uma série de problemas de saúde associados.

Alguns estudos sugerem que a apneia do sono pode aumentar o risco de insuficiência cardíaca em 140%, o risco de acidente vascular cerebral (AVC) em 60%, e o risco de doença coronariana em 30%.

A apneia do sono também pode afetar o desejo sexual, segundo terapeutas do sono
A apneia do sono também pode afetar o desejo sexual, segundo terapeutas do sono
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Embora alguns casais possam achar graça no ronco do parceiro , pode ser uma questão séria para o relacionamento, enfatiza Sathyamurthy.

"Normalmente, em 90% dos pacientes que atendo, o encaminhamento foi feito porque o parceiro está muito afetado", diz ele à BBC.

O ronco pode fazer com que os casais comecem a dormir separados, em quartos diferentes, um conceito conhecido como "divórcio do sono".

Não é necessariamente uma coisa ruim — a terapeuta de relacionamento Sara Nasserzadeh, baseada nos EUA, geralmente recomenda que os casais durmam separados, com ou sem ronco. Começar o dia após uma boa noite de sono pode proporcionar um relacionamento mais saudável para ambos, diz ela à BBC, embora isso só seja possível se houver um quarto extra disponível.

Mas para alguns casais, o "divórcio do sono" pode ser o primeiro passo rumo a uma separação mais permanente.

Como abordar o assunto

Embora Arunika Selvam viva em Cingapura — um país altamente desenvolvido com um dos maiores PIB per capita do mundo —, ter uma cama sobrando em outro cômodo da casa não é uma possibilidade.

"Tivemos que alugar nosso quarto de hóspedes para obter uma renda extra devido ao alto custo de vida aqui em Cingapura", explica Selvam, que é casada há 15 anos e tem um filho.

Mas, depois de passar inúmeras noites sem dormir, ela conversou com o marido sobre a questão do ronco.

Ele estava relutante em consultar um médico porque tanto seu pai quanto seu avô roncavam — e ele acreditava que era perfeitamente normal.

O ronco alto nos homens é frequentemente percebido como parte da masculinidade, especialmente em certas culturas asiáticas, acrescenta Selvam.

O impacto mental da falta de sono causada pelo ronco pode resultar em discussões desnecessárias
O impacto mental da falta de sono causada pelo ronco pode resultar em discussões desnecessárias
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Sara Nasserzadeh afirma que em tais cenários é importante encontrar o momento certo para abordar o assunto de uma "forma sutil e delicada" com o parceiro.

"Talvez, depois de fazer sexo, talvez depois de estarem de bom humor e conectados", acrescenta Nasserzadeh, que é autora do livro Love by Design - 6 Ingredients to Build a Lifetime of Love ("Amor por Design - 6 ingredientes para construir uma vida inteira de amor", em tradução livre).

A especialista em psicologia social diz que também é importante lembrar que a pessoa que ronca muitas vezes se sente envergonhada com o problema.

Profundas consequências

De acordo com a Associação Britânica de Ronco e Apneia do Sono, existem aproximadamente 15 milhões de "roncadores" no Reino Unido — e isso afeta 30 milhões de pessoas no país, quase metade da população.

Dados de uma pesquisa recente indicam que o número de homens que roncam é muito maior do que o de mulheres, informou a associação.

Mas independentemente de quem ronca, o hábito pode ter profundas consequências.

Algumas reportagens sugerem que o ronco está entre as causas mais comuns de divórcio nos Estados Unidos e no Reino Unido, embora seja difícil encontrar dados concretos para apoiar a afirmação.

O ronco pode causar problemas profundos nos relacionamentos
O ronco pode causar problemas profundos nos relacionamentos
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Rita Gupta, advogada de direito da família no Reino Unido, conta que seu escritório se deparou com vários casos de divórcio ligados ao ronco.

"Isso definitivamente aparece bastante como motivo de infelicidade no casamento", diz ela à BBC.

"Ouvi muitas pessoas dizendo: 'Temos dormido em quartos separados há vários anos por causa do ronco dele, e simplesmente nos afastamos'", acrescenta.

A advogada afirma que uma questão comum em casos de divórcio é negligenciar os tratamentos de saúde e não tomar as medidas necessárias para lidar com a questão de forma eficaz, indicando problemas de relacionamento subjacentes.

"Por exemplo, em um processo contra um homem, a esposa está dizendo: 'Ele já está roncando muito. Isso está realmente afetando meu sono. Ele não tomou nenhuma atitude para resolver isso'."

O que você pode fazer em relação ao ronco ou à apneia do sono?

Os tratamentos para a apneia do sono podem envolver a adoção de mudanças no estilo de vida, como:

- Perder peso;

- Parar de fumar;

- Limitar a ingestão de álcool.

Porém, para muitos indivíduos, é necessário o uso de um dispositivo conhecido como máquina de pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP, na sigla em inglês).

Ela fornece ar suavemente por meio de uma máscara que você usa sobre a boca ou nariz enquanto dorme.

O dispositivo CPAP ajuda a prevenir problemas respiratórios durante o sono
O dispositivo CPAP ajuda a prevenir problemas respiratórios durante o sono
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Ramamurthy Sathyamurthy afirma que é importante priorizar tanto a saúde do parceiro quanto a de quem ronca, incentivando a pessoa a procurar orientação médica.

"Vai ser benéfico não só para o relacionamento, mas também economicamente, pois as pessoas vão gastar menos dinheiro em medicamentos para outros problemas de saúde causados pela condição. Por isso, é um benefício para toda a família", acrescenta.

Barreiras econômicas, sociais e culturais

Os comportamentos em relação ao ronco podem variar a nível mundial e individual, influenciados por fatores econômicos, sociais e culturais, e até mesmo por gênero e orientação sexual.

Saman (nome fictício), um homem gay de 40 anos que trabalha como recepcionista de hotel em Colombo, no Sri Lanka, esconde sua orientação sexual da família. Eles acreditam que seu companheiro é apenas um amigo que aluga o quarto vago da sua casa.

"Meu parceiro ronca alto, e não consigo dormir por causa do ronco dele. Só tenho uma boa noite de sono quando minha mãe vem me visitar", diz Saman à BBC.

"Nessas ocasiões, meu companheiro oferece de bom grado o quarto extra à minha mãe, fazendo ela acreditar que é o quarto dele, enquanto ele dorme no sofá."

"Esse é o único momento em que consigo dormir decentemente", completa.

"Meu companheiro se vê como um homem gay com características femininas, mas o ronco é percebido como masculino na nossa cultura. Temo que discutir esse assunto possa magoá-lo e fazer com que ele me deixe."

Enquanto Saman arruma coragem para discutir a questão do ronco com o companheiro, Selvam finalmente convenceu o marido a consultar um médico, o que resultou no diagnóstico de apneia obstrutiva do sono.

Selvam conta que o marido já começou a se mexer para resolver a questão, praticando exercícios que visam perder peso.

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