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Como se pega botulismo, bactéria que vitimou brasileira nos EUA?

Especialista detalha sintomas, contaminação, prevenção e tratamento; nos EUA, casos da doença foram registrados após uso de botox falso.

17 abr 2024 - 16h45
(atualizado às 21h22)
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Resumo
A brasileira Cláudia Celada de Albuquerque foi vítima de uma infecção por botulismo enquanto fazia intercâmbio em Aspen, Colorado (EUA), que causa paralisia e dificuldades respiratórias. O tratamento é essencial para evitar complicações.

A brasileira Cláudia Celada de Albuquerque, de 23 anos, virou assunto nas últimas semanas após ser vítima de uma infecção por botulismo. Ela estava fazendo intercâmbio em Aspen, quando precisou ser transferida e internada em Denver, no Colorado (EUA), onde está há mais de 50 dias.

Brasileira está internada nos EUA e família pede ajuda com contas médicas
Brasileira está internada nos EUA e família pede ajuda com contas médicas
Foto: Reprodução/Instagram @cacau_albuquerque

A família de Cláudia diz não saber de onde a jovem contraiu a infecção. Em entrevista ao Terra, o infectologista do Fleury Medicina e Saúde, Matias Chiarastelli Salomão, conta que o botulismo é uma condição rara, mas potencialmente grave, causada pela toxina produzida pela bactéria Clostridium botulinum.

Ele é suspeitado com base nos sintomas, na avaliação neurológica e na história alimentar ou de ferimento recente. Testes específicos são realizados para detectar a toxina botulínica no sangue, mas devem ser feitos rapidamente, pois após oito dias a toxina pode não estar mais circulando no sangue. 

Se necessário, a pesquisa da toxina pode ser feita nas fezes ou no conteúdo estomacal. “A eletromiografia pode ser usada para avaliar a atividade muscular e auxiliar no diagnóstico. Em bebês e casos de ferimentos, a cultura pode ser utilizada para isolar a bactéria”, diz o profissional.

O especialista destaca que se houver suspeita de botulismo, é importante procurar assistência médica imediatamente, pois o tratamento precoce é essencial para evitar complicações graves.

Qualquer suspeita da doença também deve ser notificada ao Serviço de Vigilância Epidemiológica para medidas preventivas, como remover produtos contaminados das prateleiras ou suspender as atividades de estabelecimentos envolvidos. 

Cientista analisa uma amostra de uma lata de alimentos enlatados, um dos causadores de infecção por botulismo
Cientista analisa uma amostra de uma lata de alimentos enlatados, um dos causadores de infecção por botulismo
Foto: digicomphoto/iStock

Sintomas

Os sintomas comuns do botulismo incluem:

  • Fraqueza muscular, começando geralmente pela face, afetando os músculos que controlam a fala, a mastigação e a deglutição.
  • Visão turva ou dupla.
  • Boca seca.
  • Dificuldade para engolir e falar.
  • Paralisia descendente, afetando os músculos respiratórios e levando a dificuldades respiratórias.

Contaminação

O infectologista explica que o botulismo é geralmente adquirido pela ingestão de alimentos contaminados, como conservas caseiras, onde esporos bacterianos liberam a toxina. 

O botulismo infantil pode ocorrer pela ingestão de produtos com esporos, como mel, onde a toxina é produzida no intestino do bebê, resultando em sintomas após um período de 3 a 30 dias.

A bactéria também pode entrar no corpo por ferimentos, encontrando condições favoráveis para a produção da toxina, semelhante ao tétano, com sintomas aparecendo de 4 a 14 dias após o ferimento. 

“Além disso, o botulismo não é contagioso entre as pessoas”, ressalta o médico.

Tratamento

Independentemente da maneira como a doença é contraída, o paciente com botulismo necessita de cuidados hospitalares em uma unidade de terapia intensiva por várias semanas. 

O médico conta que isso é crucial para garantir suas funções vitais, eliminar a toxina do organismo e restaurar a respiração normal, muitas vezes por meio de ventilação artificial. 

Em casos diagnosticados precocemente, quando a toxina ainda está em circulação, os adultos recebem soro antibotulínico para neutralizar a toxina e evitar que a condição se agrave. No entanto, esse tratamento não reverte a paralisia já existente. 

O uso de soro não é aconselhável para crianças, uma vez que a toxina tende a se concentrar em seus intestinos, sendo mais eficaz estimular sua eliminação. 

“A recuperação do paciente é um processo gradual, pois o veneno biológico entre as células nervosas precisa ser eliminado pelo sistema imunológico”,  completa o especialista. 

Após receber alta hospitalar, o paciente requer acompanhamento médico e fisioterapêutico para readquirir habilidades motoras e funcionais, como respirar, falar, andar e escrever.

Como prevenir?

A prevenção do botulismo é possível através de medidas simples, como evitar o consumo de produtos enlatados ou em conserva que estejam deteriorados ou mal acondicionados, independentemente de estarem dentro do prazo de validade. 

Além disso, o infectologista recomenda ferver por pelo menos 10 minutos os alimentos em conserva não industrializados antes de consumi-los, pois o calor pode destruir a toxina eventualmente presente. 

Para prevenir o botulismo infantil, é crucial evitar o uso de mel na alimentação de bebês durante o primeiro ano de vida, quando sua flora intestinal ainda não está totalmente desenvolvida para combater esses agentes patogênicos. 

“Além disso, os ferimentos devem ser prontamente limpos com água e sabão e tratados com antissépticos locais para prevenir infecções, o que também contribui para evitar o tétano em pessoas não vacinadas”, indica Salomão.

Complicações

As complicações do botulismo podem ser graves e incluem dificuldades respiratórias, problemas de deglutição, fraqueza muscular generalizada e paralisia. O tratamento depende da gravidade das complicações:

Dificuldades respiratórias: Podem exigir o uso de ventiladores mecânicos para auxiliar na respiração até que a função pulmonar seja restaurada.

Problemas de deglutição: Em casos graves, pode ser necessário alimentação por sonda para evitar a aspiração de alimentos ou líquidos.

Fraqueza muscular e paralisia: O tratamento principal envolve a administração precoce de antitoxina botulínica para neutralizar a toxina circulante e impedir a progressão da paralisia. No entanto, a antitoxina não reverte a paralisia já existente, sendo necessário suporte médico e fisioterapêutico para ajudar na recuperação da função muscular.

Além disso, os pacientes podem precisar de cuidados de suporte, como hidratação intravenosa e monitoramento constante da função respiratória e cardíaca. Em casos graves, a recuperação completa pode levar semanas ou até meses, e o acompanhamento médico de longo prazo pode ser necessário para ajudar na reabilitação e prevenir complicações adicionais.

Casos semelhantes ao botulismo foram registrados por aplicação de botox falso nos EUA

O site norte americano New York Post noticiou que pessoas em vários estados do país – incluindo Illinois, Colorado, Kentucky, Washington e Tennessee – apresentaram “sintomas semelhantes ao botulismo” após receberem injeções de botox falsificado. Em Illinois e Tennessee houveram dois casos de hospitalização.

O infectologista conta que a princípio não há risco de botulismo em procedimentos estéticos ou terapêuticos que utilizam toxina botulínica (botox), pois a quantidade utilizada é menor que a produzida pela bactéria. 

A investigação sobre as fontes desses produtos está em andamento e os testes feitos em cinco pacientes deram resultado negativo para o botulismo.

Fonte: Redação Terra Você
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