Coração e pulmão artificiais a salvaram após dar à luz sua primeira filha: 'Nova chance para viver'
Em relato exclusivo ao Terra Você, Marcella Medeiros conta sua experiência ao precisar usar coração e pulmão artificiais para manter-se viva
Para Marcella Medeiros, de 26 anos, o dia 7 de junho seria um dos mais importantes de sua vida com o nascimento de sua filha. Porém, horas depois de dar à luz no Complexo Hospitalar de Niterói (CHN), ela sofreu um choque cardiogênico no puerpério imediato e seu coração perdeu a capacidade de bombear sangue para os órgãos, causando diminuição grave da pressão arterial, falta de oxigênio nos tecidos e acúmulo de líquidos nos pulmões.
Em relato exclusivo ao Terra Você, Marcella compartilha sua experiência ao precisar usar coração e pulmão artificiais para manter-se viva.
Em seus planos, estava sair da sala de parto, encontrar sua família no quarto e finalmente cuidar da pequena Luma. Logo após o parto, Marcella conseguiu realizar parte dos seus planos e desfrutar da alegria de ver sua filha saúdavel. No entanto, momentos depois, viu tudo se transformar em um pesadelo.
“Quando fui para o quarto e me passaram de uma cama para outra, começou o pesadelo...comecei a me sentir muito mal, com muito calor, falta de ar, dor no peito e dor de cabeça”, lembra a analista de sistemas.
Apesar do susto, Marcella afirma ter vivido um momento "sobrenatural". Ela sabia que algo estava errado, mas mesmo não sabendo o que de fato estava acontecendo, de alguma forma, ela manteve a calma.
“Eu estava super tranquila e com fé de que eu dormiria e acordaria bem, pois eu e minha família tínhamos promessas. Quando tive dimensão do que havia acontecido comigo, foi bem assustador e bem emocionante ao mesmo tempo, pois recebi uma nova chance para viver novamente e poder viver com minha filha e meu esposo o que um dia sonhamos”, conta.
Coração começou a parar
A cardiologista do Complexo Hospitalar de Niterói (CHN) e especialista em cardiologia da mulher, Márcia Lopes, conta que Marcella teve sintomas de taquicardia e hipertensão e continuou a piorar ao ponto de ser encaminhada para a Unidade Cardiointensiva (UCI).
“Nesse momento que o coração começa a parar de funcionar, precisamos pensar rápido em como dar suporte a ele para que o coração possa descansar e os cardiologistas consigam chegar em um diagnóstico e entender o que está acontecendo com a paciente. Então, no primeiro momento, acionamos a equipe de suporte mecânico e colocamos a Marcella em ECMO”, lembra.
A tecnologia ECMO, ou Oxigenação por Membrana Extracorpórea, é um suporte vital utilizado em situações críticas, quando os pulmões ou o coração de um paciente não conseguem funcionar adequadamente. Ela permite a oxigenação do sangue fora do corpo, proporcionando tempo para que os órgãos se recuperem ou para que outros tratamentos sejam realizados.
Transplante cardíaco chegou a ser considerado
A médica conta que apesar da situação, ainda não se sabia o diagnóstico de Marcella, o que fez com que a equipe recorresse ao exame de cateterismo cardíaco, que não mostrou nada de anormal.
“A biópsia endomiocártica deixou a gente na dúvida sobre um quadro de miocardite, por isso abrimos o leque de diagnósticos e o ECMO serviu para ganharmos tempo. Graças a ele, conseguimos entender o que estava acontecendo com a Marcella e tratá-la. Chegamos a pensar em um transplante cardíaco de urgência, mas precisávamos desse tempo para ver se ela iria se recuperar e ela se recuperou”, diz a médica.
O que pode ter acontecido?
A cardiologista explica que ao longo das tentativas de diagnóstico, algumas hipóteses foram consideradas. Entre elas: miocardiopatia periparto, Takotsubo - uma condição muito comum na mulher e que pode acontecer após qualquer cirurgia, já que é um tipo de cardiopatia causada por estresse -, miocardite e secção de artéria coronária.
Marcella teve alta uma semana após o susto. Depois da sua recuperação, os médicos seguiram com a investigação e ela foi submetida a uma avaliação para Takotsubo, que também não chegou a um diagnóstico conclusivo.
“O quadro de choque cardiogênico na mulher realmente é muito grave e de difícil diagnóstico, porque nós não temos marcadores específicos para essa condição que sejam de fácil entendimento para fechar o diagnóstico com mais facilidade”, explica a especialista.
A médica conta que atualmente, Marcella está sendo submetida a um teste genético, já que 20% das mulheres que fazem o quadro de choque cardiogênico e que podem ter o diagnóstico de miocardiopatia periparto acabam tendo outras causas sobrepostas, como causas genéticas.
"Right place, Right time"
No lugar certo, na hora certa. A frase tatuada em inglês por Marcella durante um momento delicado da sua vida, quando perdeu sua avó paterna, ganhou mais um significado na jornada da jovem.
“Tudo o que aconteceu eu estava no lugar certo, na hora certa. Deus usou os médicos, enfermeiros e técnicos para me dar os atendimentos devidos e além disso ele colocou as mãos Dele sobre mim para me trazer à vida”, relata.
Atualmente, Marcella faz reabilitação cardíaca, aliada a medicação específica e orientações em relação ao estilo de vida, como alimentação saudável e com pouco sódio.
“Como a Marcella é uma jovem em idade fértil e que pode querer engravidar novamente, também fazemos um planejamento familiar para prepararmos a saúde dela caso seja do seu desejo ter mais filhos no futuro”, conta Dra. Márcia.
Para a nova mamãe, a possibilidade de uma futura gestação não é descartada e muito menos temida.
“Creio que o mesmo Deus que me trouxe de volta a vida nesse caso extremamente grave e crítico, se Ele quiser eu terei uma gestação futura tranquila e em paz. Se trazer de volta uma vida, sem sequelas, pra Ele nao foi nada, imagine uma gestação (risos)”.